151 anos depois, Lisboa tem eléctricos acessíveis mas faltam as paragens

Artigo de Opinião.

Desculpas como “as pessoas estão habituadas ao degrau” ou que não há forma de nivelar paragens com eléctricos estão obsoletas.

Os novos eléctricos têm rampas que permitem o acesso a pessoas em cadeiras de rodas mas as paragens ainda não são acessíveis (fotografia de Diogo Martins)

A acessibilidade aos eléctricos em Lisboa sempre foi uma questão complexa, com divergências entre a Carris e a Câmara Municipal. Desde a anterior compra de eléctricos, nos anos 1990, que ficou um problema grave por resolver na interação entre os veículos e a infraestrutura da cidade: apesar de os primeiros terem lugar para pessoas em cadeira de rodas, não tinham (e não têm) acesos universais – seja porque nunca foram construídas as prometidas plataformas mais altas e acessíveis ao longo da linha 15E, seja porque os eléctricos foram comprados sem rampas que permitam às pessoas em cadeira de rodas entrarem no veículo

A situação muda com os novos eléctricos que entraram em funcionamento no final de Setembro. Os novos “CAF Urbos”, que a Carris comprou, trazem duas rampas manuais, junto aos dois lugares para pessoas em cadeira de rodas. Estas rampas, que os eléctricos antigos não têm, têm de ser abertas pela/pelo guarda-freio, após o passageiro pressionar um botão azul do lado de fora da porta. No interior do eléctrico, cada um dos lugares para pessoas em cadeira de rodas tem um espaldar e cinto de segurança, para quem use cadeiras manuais, e bancos rebatíveis imediatamente à frente, deixando imenso espaço livre para pessoas estarem em pé e também para as manobras associadas a uma cadeira de rodas.

O novo eléctrico (fotografia de Diogo Martins)

Estes lugares também estão equipados com intercomunicadores para, em caso de emergência, a pessoa poder contactar o guarda-freio, e com botões acessíveis do lado de dentro das portas para pedir paragem. (Também existem intercomunicadores para todas as outras pessoas a bordo.) Por outro lado, não só o espaço dos dois lugares para mobilidade condicionada é bastante grande – sem comparação em Portugal –, como o espaço de manobra disponível é também ele grande. É surpreendente, sobretudo pelo tamanho reduzido destes eléctricos comparados, por exemplo, com os usados no Metro do Porto (os veículos do Metro do Porto são eléctricos de bitola europeia, por isso mais largos).

De resto, qualquer pessoa vai notar algumas diferenças nos novos eléctricos em relação aos antigos, em termos de conforto. O ruído é muito menor que qualquer outro eléctrico e a vibração é bastante reduzida. Para outras pessoas com deficiência, existem painéis informativos digitais, anúncios sonoros e avisos de abertura e fecho de portas, além de elementos de alto contraste para indicar onde agarrar.

A rampa que permite o acesso ao eléctrico (fotografia de Diogo Martins)

As paragens destes eléctricos, que só circulam na linha 15E, continuam a ser as mesmas que antes, existindo uma totalmente inacessível, na Rua Damião Góis, em Belém, e muitas com pouco espaço de manobra para sair ou sequer abrir as rampas. Além disso, uma grande quantidade das paragens estão demasiado baixas em relação à altura da entrada nos eléctricos, o que aumenta a inclinação das rampas. São também estas paragens, inacessíveis e nunca reformuladas, que impossibilitam uma utilização adequada dos eléctricos antigos da linha 15E (que vão continuar a circular) por pessoas em cadeiras de rodas.

O LIOS, que viria – ou virá – a ser a nova rede de eléctricos de Lisboa, resolverá todos estes problemas de acessibilidade, ao nivelar os padrões da rede pelo melhor que se faz nesta área. Cidades como Estrasburgo lideraram a mudança do que é uma rede de eléctricos, passando da visão obsoleta de veículos presos no trânsito a veículos com espaço próprio, paragens com melhores condições e niveladas com as portas de entrada/saída, e um nível de serviço que permite transportar muitas pessoas num menor tempo de viagem.

Lisboa deve deixar-se de desentendimentos sobre quem deve adaptar o quê – se a Carris os eléctricos ou a Câmara Municipal as paragens – e passar a trabalhar em conjunto para encontrar a solução final ideal para os eléctricos, os novos e os antigos. Desculpas como “as pessoas estão habituadas ao degrau” ou que não há forma de nivelar paragens com eléctricos estão obsoletas. Idealmente, Lisboa deverá migrar a sua rede de eléctricos para acompanhar o progresso deste sector, uma vez que os benefícios estão mais que provados e a cidade só terá a ganhar em ter melhores Infraestruturas e eléctricos que os actuais.

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