Rรบben tem visto menos รกrvores ร porta de casa na Quinta do Pinheiro, na Pontinha. E estรก preocupado. Mas tem tido dificuldade em receber respostas e esclarecimentos da Junta de Freguesia.

Na Quinta do Pinheiro, jรก sรณ sobra um pinheiro. Nรฃo รฉ que haja falta de รกrvores neste bairro localizado na Pontinha, em Odivelas โ atรฉ hรก bastantes para o que costuma ser habitual num bairro da periferia de Lisboa โ, mas Rรบben aponta que jรก existiram muitos mais pinheiros. E muitas mais outras รกrvores. Sรณ que tรชm sido cortadas sem se perceber muito bem porquรช e, principalmente, sem serem substituรญdas por novos exemplares.
Rรบben Matos tem 20 anos, vive na Quinta do Pinheiro, na Pontinha, com os pais hรก 10. Quando cรก chegou tinha muito mais sombra nos logradouros verdes entre os prรฉdios. “Eles arranjam mil e uma desculpas para arrancar รกrvores mas para plantar nem respondem”, lamenta o jovem estudante de Biologia. Rรบben escreveu vรกrias vezes ร Junta de Freguesia da Pontinha-Famรตes, mas nunca obteve uma resposta. Nunca lhe explicaram porque os pinheiros e as รกrvores de outras espรฉcies foram sendo removidas โ se por doenรงa, se porque tombaram com alguma intempรฉrie, se existe um plano sequer para substituir os exemplares abatidos por novos. “Da รบltima vez que me responderam, disseram o mesmo, que iam falar com um gabinete qualquer. E ficou por aรญ. Fica sempre por aรญ.”


O estabelecimento de diรกlogos entre as autarquias, como juntas de freguesia e cรขmaras municipais, e a populaรงรฃo รฉ fundamental para uma Democracia local saudรกvel. Os cidadรฃos querem saber o que se passa ร sua porta, na sua rua, no seu bairro. Este exercรญcio de transparรชncia ajuda a afastar suspeitas, populismos e extremismos. Mas Rรบben lamenta nรฃo haver prestaรงรฃo de informaรงรฃo clara sobre as alteraรงรตes que vai vendo ร sua beira.
Uma das respostas que Rรบben recebeu foi esta:
“Por incumbรชncia do Exmo. Sr. Presidente da Junta de Freguesia da Uniรฃo de Freguesias Pontinha Famรตes, Dr. Jorge Nunes, informamos que recebemos e muito agradecemos os seus emails. No seguimento dos mesmos, que mereceram a nossa melhor atenรงรฃo, somos a informar que se encontram com a tรฉcnica de Ambiente e Espaรงos Verdes desta edilidade, e que apรณs avaliaรงรฃo do proposto por V. Exas. e conclusรฃo, daremos-lhe conhecimento. Contudo, relembramos que questรตes tรฉcnicas obrigam a trรขmites legais que terรฃo de ser articulados com a CMO, DGAT โ Departamento de Gestรฃo Ambiental e Transportes, estando ao mesmo tempo a decorrer os trabalhos inerentes aos planos, desta Junta de Freguesia, para intervenรงรตes em espaรงos verdes e deservagem, pelo que apelamos ร sua compreensรฃo. Os nossos agradecimentos pelo seu elevado sentido cรญvico e de responsabilidade por nos ter contactado chamando ร atenรงรฃo para a questรฃo em causa.”
โ JF da Pontinha-Lamรตes

“Depois, activaram o sistema de respostas automรกticas e nunca mais recebi uma resposta humana”, conta Rรบben. Em Marรงo de 2022, o jovem de 20 anos contactou a Junta de Freguesia a pedir a restituiรงรฃo das รกrvores que tinham desaparecido ao longo dos anos numa dos logradouros do bairro, ilustrando a situaรงรฃo com imagens do Google Street View. “Face aos problemas apresentados e claramente visรญveis, gostaria que a Junta pudesse restaurar este espaรงo verde, principalmente agora que atravessamos os efeitos das alteraรงรตes climรกticas e o tempo estรก cada vez mais quente: as รกrvores sรฃo mais importantes do que nunca”, escreveu na altura. Jรก em Janeiro deste ano, reportou a queda de uma รกrvore devido ร s intempรฉries: “A รกrvore, como referido, jรก se encontra derrubada hรก mais de 1 mรชs e como a Junta ainda nรฃo procedeu ร sua remoรงรฃo. (…) Vale ainda relembrar que รฉ mais uma รกrvore que cai na Quinta do Pinheiro e o quanto a Junta tem negligenciado a plantaรงรฃo de mais รกrvores para compensar.” Em Abril, devido ร ausรชncia de resposta (mas a รกrvore acabou por ser removida, nรฃo tendo sido substituรญda), Rรบben enviou um novo e-mail. Tambรฉm jรก ligou. E nada. Sรณ lhe dizem que vรฃo verificar a situaรงรฃo e entrar em contacto depois.


ร medida que caminhamos com Rรบben pelo seu bairro, vamos encontrando sinais de รกrvores abatidas. Seja porque se vรช uma interrupรงรฃo no relvado verde, ainda com alguma terra e raรญzes, seja porque ainda dรก para observar um pedaรงo do tronco. “Aqui havia cinco pinheiros, agora sรณ resta um”, aponta Rรบben enquanto percorremos um dos maiores logradouros do bairro, onde atรฉ existe um parque infantil. “No Verรฃo, as crianรงas vinham para debaixo desses pinheiros refugiarem-se do calor.” Tambรฉm havia jovens a prender uma fita de um pinheiro ao outro para fazerem “aquele jogo de equilรญbrio, sabes?”. “Tambรฉm cheguei a experimentar.” Rรบben diz que “sรณ num espaรงo de um ano, desapareceram dois pinheiros e agora sรณ resta aquele que vรชs ali”. “A รบnica coisa que peรงo รฉ que, se tirarem รกrvores, plantem novas.”


Noutro logradouro, mais pequeno, conseguimos ver restos de troncos. Contamos trรชs รกrvores removidas, nenhuma substituรญda. Perdรฃo: “Acho que um vizinho plantou ali uma palmeira no lugar da รกrvore que foi removida. Mas nรฃo tenho bem a certeza se foi um vizinho a plantar.” Mas hรก algo de que Rรบben tem a certeza: “Antes, ouviam-se mais os pรกssaros aqui. Acordava de manhรฃ com o som deles. Agora sรณ se ouvem lรก ao fundo, no pinhal.”


O pinhal a que Rรบben se refere รฉ o Pinhal da Paiรฃ, uma espรฉcie de “pequeno Monsanto” ao lado da urbanizaรงรฃo da Quinta do Pinheiro. ร a ele que o bairro deve o seu nome. Antes, como vinhos, os pinheiros tambรฉm entravam para dentro do espaรงo dos prรฉdios, misturando-se com as restantes espรฉcies arbรณreas. O jovem estudante conta que jรก foram feitas vรกrias promessas para requalificar e dignificar o Pinhal da Paiรฃ, atรฉ que da Cรขmara de Odivelas ouviu nรฃo ser uma prioridade. “Este pinhal foi uma grande ajuda durante a pandemia. O pessoal do bairro organizava aulas de exercรญcio fรญsico”, conta o futuro biรณlogo, explicando que tambรฉm existe um desentendimento sobre a quem recai a gestรฃo daquela mata โ se ao municรญpio, se ao Estado central. “Ali em cima hรก uma vedaรงรฃo a separar o que julgo ser a parte do pinhal que รฉ do Governo e aquela que รฉ da Cรขmara. รs vezes nรฃo dรก para passar para o lado de lรก.”

Rรบben relata ter dificuldade em chegar ร sua Junta de Freguesia e ร sua Cรขmara Municipal. “As reuniรตes pรบblicas nem sempre sรฃo compatรญveis com os horรกrios a que saio das aulas. E tambรฉm nรฃo me sinto confortรกvel a expor estas situaรงรตes numa reuniรฃo ร frente de toda a gente e com pessoas a ver em casa. Prefiro o e-mail.” E tem tambรฉm dificuldade em encontrar outros vizinhos preocupados. “Fora de Lisboa, nas periferias รฉ difรญcil haver massas crรญticas.” Na maioria dos casos, as pessoas trabalham na capital e a sua relaรงรฃo com os bairros รฉ apenas de dormitรณrio. “Em tempos chegou a haver um grupo comunitรกrio no Facebook sobre o bairro. Atรฉ cheguei a saber por ele de coisas daqui da zona que nรฃo sabia. Houve durante a pandemia, continua a haver, mas meio que morreu agora.”
O LPP contactou a Junta de Freguesia de Pontinha-Famรตes com questรตes sobre a remoรงรฃo de รกrvores e actualizarรก este artigo logo que tenha uma resposta.