No Campo Grande, as duas associações criaram uma “passadeira humana”, com pessoas debaixo de lençóis brancos, em memória das vidas que injustamente se perdem todos os anos nas estradas portuguesas.

“Não há mobilidade sustentável sem segurança rodoviária, nem segurança rodoviária sem mobilidade sustentável.” Foi com este mote que, neste sábado de manhã, as associações MUBi e Estrada Viva interromperam o trânsito no Campo Grande e criaram, por alguns minutos, um memorial às vidas humanas que injustamente se perdem todos os anos.
O memorial consistiu numa “passadeira humana”: vários voluntários deitaram-se no alcatrão, distanciados entre si e cobertos por lençóis brancos, simulando a zebra de uma passadeira. A acção decorreu durante cerca de cinco minutos e teve a participação da Polícia de Segurança Pública (PSP), que interrompeu o trânsito. As associações realizaram fotografias e vídeos para, mais tarde, partilharem o momento nas suas redes sociais.
“Os números são dramáticos: a sinistralidade rodoviária causa a cada ano cerca de 600 vítimas mortais em Portugal”, escrevem as duas associações num comunicado conjunto, que foi enviado à comunicação social. “Na última década morreram, em média, 40 crianças por ano. Perante esta calamidade que está à vista de todos, mas que a sociedade portuguesa continua a ignorar ou a aceitar como natural, é imperativo não apenas chamar a atenção, mas apelar a medidas concretas para o fim da sinistralidade rodoviária, ao fim da perda trágica de vidas humanas. Morrer na estrada é tudo menos natural.”
A passadeira escolhida para esta evocação às vítimas da sinistralidade rodoviária não foi por acaso: foi a mesma onde, em 2020, uma jovem de 16 anos morreu atropelada por um condutor que não terá respeitado um sinal vermelho. Na altura, várias centenas de pessoas saíram à rua a pedir uma cidade mais calma e, em particular, medidas de acalmia naquela zona, mas a Câmara de Lisboa, então liderada por Fernando Medina, nada fez nesse sentido.

“Cidades que continuam a privilegiar e a fomentar o uso do automóvel, que permitem a circulação de carros cada vez maiores e mais potentes, que mantêm vias que incitam velocidades assassinas e que não combatem sistematicamente o excesso de velocidade com medidas de acalmia de tráfego, não podem ignorar as vítimas e demitir-se da sua responsabilidade”, acrescentam as duas associações. “Quando a sociedade reclama, e de todos os quadrantes políticos se exige sustentabilidade ambiental e humanização das cidades, o carro continua a ser rei e senhor e a matar aqueles que, por necessidade ou opção, usam os modos de deslocação ambiental, social e economicamente mais sustentáveis.”
O memorial realizado neste sábado em Lisboa serviu para assinalar o Dia Mundial em Memória das Vítimas na Estrada, celebrado anualmente no terceiro domingo de Novembro, que este ano calhou no dia 19. Neste dia 19, foram feitas duas acções semelhantes no Porto e em Matosinhos, em passadeiras perto das Câmaras Municipais das duas cidades.