Menos espaço para o carro, mais para as pessoas. O Largo da Academia Nacional de Belas-Artes vai ser intervencionado. A praça pedonal passará a estar ligada à Faculdade de Belas-Artes, terá mais árvores e uma vista desafogada para o Tejo.
A Câmara de Lisboa vai requalificar o Largo das Belas-Artes, no Chiado. A intervenção, que chegou a estar prevista no âmbito da ZER ABC (colocada na gaveta por Moedas), avança agora no âmbito do novo programa municipal Há Vida No Meu Bairro, através do qual a autarquia quer estimular a actividade pedonal, social e comercial de proximidade.
O projecto de requalificação, que foi apresentado pela Câmara à população no início de Julho, visa aumentar a área pedonal e reduzir o espaço dedicado ao automóvel no Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, de modo a torná-lo numa efectiva extensão na Faculdade de Belas-Artes, a maior escola de artes e design do país e a única faculdade ainda localizada no centro histórico da cidade. A empreitada procura também criar um novo centro da vida pública do Chiado.
O projecto de requalificação responde a uma proposta apresentada e votada no Orçamento Participativo de 2018, com 810 votos, que pedia a requalificação deste mesmo largo, retirando os carros da frente do edifício da faculdade para criar uma ampla praça pedonal. A Câmara de Lisboa vai responder a esse mesmo desejo, retirando ao largo a função de rotunda rodoviária.
Ao todo, haverá uma redução da disponibilidade de estacionamento, de modo a desobstruir vistas, e um estreitamento da via de circulação automóvel, procurando estimular também uma redução da velocidade. Alterações que vão ao encontro do caminho que várias cidades e capitais a nível mundial estão a fazer nos seus centros históricos: torná-los em zonas mais apetecíveis para se estar e andar a pé, menos orientadas para a circulação rodoviária, mas sem prejudicar os residentes.
Na requalificação, vai querer-se, acima de tudo, “criar um espaço para todos, acessível, capaz de receber habitantes e utilizadores” e também de “potenciar interações e vivências”. Todo o pavimento pedonal será refeito e, na parte alta do largo, onde se situa uma escola do 1º ciclo, as áreas pedonal e rodoviária estarão ao mesmo nível. O conforto térmico será uma prioridade nesta intervenção e, por isso, será reforçada a sombra com mais árvores e arbustos. O mobiliário urbano será novo, tal como a iluminação pública, e será colocado um estacionamento para bicicletas.
O projecto de requalificação apresentado para o Largo da Academia Nacional de Belas-Artes ainda não está totalmente fechado. Por isso, e para promover a discussão e uma obra consensual, a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior vai promover uma nova sessão de participação. Será no próximo dia 22 de Julho, pelas 18 horas, na Faculdade de Belas-Artes. A participação é aberta a todos, sem inscrição.
Requalificação chegou a estar integrada na ZER
A proposta agora apresentada é semelhante à que tinha sido mostrada aquando do anúncio da ZER ABC, em 2020, uma grande iniciativa que pretendia a redução do tráfego rodoviário na zona da Avenida da Liberdade e da Baixa-Chiado, limitando o acesso a moradores e comerciantes. A ZER ABC integrava, no seu plano, várias requalificações, incluindo a do Largo das Belas-Artes.
O Largo da Academia Nacional de Belas Artes corresponde ao antigo largo de acesso ao Convento de São Francisco. O nome está associado a uma importante instituição cultural, a Academia Nacional de Belas Artes, criada em 1836 e instalada no espaço do antigo convento, para promover a preservação do património e implementar o ensino público das artes. Esta Academia existe ainda hoje neste largo, funcionando no mesmo edifício que a Faculdade das Belas Artes. O largo chegou a chamar-se Largo da Biblioteca, devido à presença da Biblioteca Pública, que funcionou ali até a década de 1960.
Este espaço aprazível abriga o busto do Visconde de Valmor, Fausto Guedes Queiroz (1837-1898), um benemérito das artes que no seu testamento deixou ao Estado Português obras de arte e meios para prosseguir o desenvolvimento da cultura artística, nomeadamente para a criação do Prémio Valmor, atribuído em Lisboa desde 1902 a edifícios notáveis pela sua arquitectura.