Sintra está a tornar-se menos atrativa para viver e visitar, garante quem lá mora e trabalha. Há turistas que desistem de ir ao Palácio da Pena e clientes que deixam de ir almoçar aos restaurantes da vila após ficarem horas presos no trânsito. Os moradores queixam-se do “caos” do tráfego automóvel e das “contraordenações” praticadas por motoristas de veículos turísticos, e pedem mais fiscalização.
Ao chegar à estação de comboios de Sintra, ainda nem as portas dos torniquetes abriram e os olhares suplicantes dos condutores de tuk-tuks, do outro lado, já antecipam o que nos espera. Empunhando cartazes plastificados do monumento mais visitado do país, os motoristas dos veículos de animação turística formam uma barreira humana que não deixa ninguém escapar à pergunta mais ouvida aqui: “Do you want to see the Pena Palace?”.
É a partir da última estação da linha de Sintra que, a meio da manhã, arrancam os primeiros tuk-tuks, que depois se juntam a autocarros, calhambeques, jipes, comboio turístico, entre outras viaturas para visitantes, TVDE e carros particulares, a maioria com turistas para verem os monumentos mais populares da mística vila histórica. Em algumas ruas, vão se formando filas intermináveis que provocam “o caos no trânsito”, congestionamento que tem gerado várias queixas nas últimas semanas.
“A partir do meio-dia piora. Chegam a estar 40 a 70 veículos turísticos parados no cruzamento desta rua, não deixando ninguém passar, e não se vê nenhum polícia onde deveria estar. Não há regulação e cada um faz o que quer. Tenho clientes que venderam a casa na vila porque não aguentavam mais viver aqui. Já perdi muitos que me ligam a dizer que têm de ir embora porque não conseguem estacionar”, critica Paulo Pinto, dono de uma barbearia aberta há mais de um século na Avenida Dr. Miguel Bombarda.
Francisco já sabe que tem de vir cedo para conseguir cortar o cabelo onde o faz desde criança. “Venho logo de manhã quando ainda é fácil circular e estacionar. Antes vinha pela vila histórica, o caminho é mais bonito, mas agora, infelizmente, já não consigo por causa do aumento do número de veículos e da confusão dos turistas. Já só venho à vila cortar o cabelo”, lamenta um dos clientes mais antigos. Uma viagem que poderá deixar de fazer em breve. O barbeiro, ali há três décadas, já pondera sair. “Tenho de arranjar outro espaço para quem não consegue vir aqui e não fechar”, desabafa.
O aumento do trânsito, o turismo de massas e a consequente degradação da qualidade de vida de quem reside no sopé da serra de Sintra, levaram moradores e comerciantes a colocarem mensagens de protesto nas janelas, portas e varandas das suas casas e lojas no mês passado. Jorge Afione, funcionário de um restaurante no Largo 1º de Dezembro, foi um deles. Num cartaz pendurado numa das janelas deste estabelecimento pode ler-se a letras garrafais “Trânsito caótico a todos prejudica, residentes e visitantes”. A denúncia quase que serve de legenda à longa fila de veículos que ali se forma, todos os dias, em direção ao centro histórico de Sintra.
“90% das pessoas aqui paradas vão para o Palácio da Pena e, quando estão a chegar, as autoridades mandam-nas dar a volta porque o acesso é condicionado (automóveis particulares não podem subir a Calçada da Pena). Metade dos turistas que vêm aqui almoçar também se queixam que chegam a meio do caminho e, depois de uma hora de trânsito, acabam por desistir e regressar, alguns já com bilhetes pagos”, conta o comerciante, que também perdeu clientes que “não querem ficar metade da hora do almoço no trânsito”. “Se alguém se sentir mal ou houver um incêndio na serra, as ambulâncias e os bombeiros não conseguem chegar aqui”, alerta ainda.
Dentro da vila histórica só podem entrar veículos de residentes com dístico, cargas e descargas em horários restritos, táxis e veículos autorizados (autoridades, proteção civil, os SMAS Sintra, entre outros), mas os moradores ouvidos pelo LPP garantem que “entram todos” inclusive os veículos de animação turística. Na vila, há um sistema de pinos colocados no chão que só permitem a entrada de algumas viaturas através do “reconhecimento da matrícula”, mas por vezes está avariado.
Afione considera que “falta informação sobre os condicionamentos de trânsito” e que a solução poderá passar pela melhoria da sinalética. “Já devia haver sinalização no IC19, desde Lisboa, a avisar das restrições de tráfego ao centro histórico, assim como meios alternativos de transporte, como um teleférico, que seria também mais uma atração turística. O Palácio da Pena é onde é mais difícil chegar”, explica, acrescentando que “tem de haver muito mais fiscalização aos veículos de animação turística, uma vez que os tuk-tuks não respeitam a sinalética e ninguém controla isso”.
Um pouco mais acima do Largo 1º de Dezembro, mais comerciantes aderiram ao protesto, colocando faixas nas montras das lojas. As queixas repetem-se. “Comprei este prédio há oito anos para estar sossegada na velhice, mas se fosse hoje não o faria e já penso em vendê-lo. É pena, porque a zona é muito bonita, mas é insuportável viver aqui. Às vezes não consigo entrar e sair da garagem e tenho de ter as janelas fechadas, durante o dia quando estou em casa, por causa do barulho”, reclama Jacy Fonseca Santos, senhoria do edifício onde vive e funcionam dois espaços comerciais.
A amiga Patrícia Bugalho, também moradora, sente o mesmo. “É incrível, até assusta. Há ruas onde os tuk-tuks não podem passar e passam, começam a galgar tudo. Tenho um Airbnb em Sintra e tenho pena dos meus hóspedes. Mais valia irem a pé ver os monumentos”, atira, incomodada.
Ao lado, da porta da sua loja de roupa, Isa Rossana observa com apreensão as filas de carros e veículos turísticos que ali se formam todos os dias. “Isto fica parado de manhã à noite. Os autocarros vão atulhados, com pessoas em pé ao lado do motorista e a cara colada ao pára-brisas, não faz sentido. O excesso de viaturas também provoca mais poluição, além do cheiro a gasolina dentro da loja”, comenta a comerciante, que considera ainda que “os monumentos não estão preparados para receberem tantas pessoas”.
“Qualquer dia o poço da Quinta da Regaleira vai abaixo com tantas pessoas nas escadas”, antevê. Isa acredita que “a construção de um teleférico, novos parques de estacionamento à entrada da cidade e tuk-tuks elétricos para diminuir a poluição” poderão ser algumas das soluções para resolver problemas antigos que se têm vindo a adensar “sobretudo nos últimos dois anos”.
“Tuk-tuks circulam em contra-mão”
“Queremos Sintra viva e habitada. Não ao turismo em massa”, “Património Mundial sim, Parque de Diversões não!” ou “Sintra: a traffic jam in paradise” são outros dos apelos e recados que se podem ler em mais de 70 faixas e cartazes espalhados por diferentes locais da serra de Sintra. A iniciativa do protesto partiu da Associação QSintra – Em Defesa de um Sítio Único que quer, desta forma, levar a autarquia a tomar medidas “urgentes” face à perda de qualidade de vida, aos congestionamentos de trânsito e à descaracterização acelerada da paisagem cultural de Sintra, classificada como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.
“Isto era um paraíso e virou um inferno”, suspira Maria José Stock, que reside há mais de trinta anos em São Pedro, “onde o problema começa”. O trânsito para chegar ao centro histórico acumula-se aqui, à entrada do coração da vila.
“Não conseguimos entrar nesta rua porque os carros começam a parar aqui. O trânsito está caótico, a qualidade de vida dos residentes baixou imenso e há muita gente a ir-se embora. Hoje vivem 80 pessoas no centro histórico”, reclama junto à Calçada dos Clérigos. Aqui, onde passa uma necrópole romana, algumas ervas e arbustos dificultam a visualização de um sinal a avisar para “o perigo de queda de pedras”. Tal advertência não impede, contudo, dezenas de veículos de circularem ali diariamente e, nesta rua de apenas um sentido, “por vezes surgem tuk-tuks em contra-mão”.
Mesmo ao lado da Calçada dos Clérigos está a ser concluída a construção de um parque de estacionamento, com 140 lugares, mas os moradores não acreditam que o novo equipamento vá diminuir o número de veículos que ali circulam e criticam a obra. “A ideia é tirar os carros do centro e não trazer mais, não é solução. Além disso foi construído na encosta do castelo, dentro da Zona Especial de Protecção do Castelo dos Mouros”, censura Martinho Pimentel, que defende ainda novos parques para autocaravanas e autocarros, “viaturas que não deveriam entrar no centro”. Por causa destes constrangimentos, diz que tem vizinhos que “não vão ao centro da vila onde moram há mais de dez anos”.
Numa caminhada pelas ruas de uma das cidades mais visitadas do país, é possível encontrar vários edifícios históricos, de interesse público ou património do Estado manchados pelo fumo dos veículos, com beirais e luzes partidas “por causa da dimensão das viaturas que por ali passam como os autocarros de dois andares”, conjeturam os moradores, que consideram que estes veículos não deviam entrar no centro histórico.
As alterações do sentido de trânsito em algumas ruas, onde antes se podia circular nos dois sentidos e agora apenas num, é outra das reclamações. “Não faz sentido o número de turistas que entram a partir de Sintra. Andam aqui perdidos às voltas, fazem quilómetros durante horas e não conseguem parar e, muitas vezes, vão se embora sem ter visto nada. Desde a garagem de minha casa ao fim da rua, cerca de 50 metros, já demorei uma hora e meia de carro”, diz ainda Martinho Pimentel, ali morador há duas décadas.
Vive numa casa classificada que pertenceu ao bisavô, o arquiteto Raul Lino, e todas as semanas se depara com um carro estacionado em frente à porta de sua casa. “Uma vez demoraram quatro horas a rebocar uma viatura. A vila não está preparada para receber tantas pessoas. A poluição é altamente corrosiva, corrói a tinta das janelas e as pedras, e os nossos pulmões. Antes conseguia estar à conversa à porta de casa e hoje não”, lamenta, acrescentando que “o estacionamento abusivo, no mato por exemplo, é perigoso porque pode provocar incêndios”. Maria José Stock alerta para “a poluição sonora” resultante do aumento do tráfego, “acima dos 12 decibéis permitidos por lei”.
Os moradores dizem que “a situação caótica do trânsito” acaba também por prejudicar os operadores turísticos, que “demoram duas horas” a chegar aos monumentos. “Não conseguem chegar à hora marcada da visita e acabam por ter de ir embora quando os visitantes já têm bilhete comprado”, conta João Diniz, 78 anos, que vive em São Pedro de Sintra desde que nasceu.
No coração de Sintra, na Vila Velha, turistas de várias nacionalidades cruzam-se com os poucos moradores que ainda ali vivem. Alguns espaços comerciais, como mercearias e farmácias, fecharam, nos últimos anos, e hoje restam sobretudo as casas de doces regionais, como as típicas queijadas de Sintra, alguns restaurantes, várias lojas de lembranças e outras de grandes cadeias comerciais. Vários edifícios habitacionais deram lugar a empreendimentos turísticos. João Diniz está “contra o ritmo a que os alojamentos locais estão a ser criados”. “Locais de turismo sem população não são aconselháveis”, observa, lamentando ainda o despovoamento dos bairros do centro histórico (a Vila, São Pedro e a Estefânia) nos últimos anos.
Os três moradores fazem parte da QSintra que lançou ainda um manifesto “apelando à intervenção cívica dos sintrenses e dos visitantes na defesa do capital cultural, do património construído e natural e da preservação de Sintra como sítio vivo e habitado”. O documento “Sintra é de todos e precisa de todos” divide-se em seis eixos para garantir a preservação da paisagem cultural de Sintra, “um exemplo único de harmonia entre a paisagem natural e a intervenção humana”, referem em comunicado divulgado no mês passado.
“Excesso de carga turística”
O turismo tem crescido, nos últimos dois anos, com a Parques de Sintra, empresa que gere os monumentos, a vender mais de dois milhões de entradas para os monumentos em 2022 e mais de três milhões em 2023. O Palácio Nacional de Sintra, o Convento dos Capuchos, o Palácio da Pena, entre outros monumentos históricos que podemos ver no segundo concelho mais populoso do país, “não estão, contudo, preparados para receberem tantos turistas”, aponta Maria José Stock.
“Há um excesso de carga. Na Quinta da Regaleira, com os milhões de turistas que por lá passam, a fossa entope todos os dias. O centro histórico não tem sistema de esgotos e saneamento”, alerta a moradora que frisa, contudo, que a associação “não é contra o turismo”.
“Não somos contra o turismo, somos contra o excesso de turistas e a falta de soluções. Chegamos aqui por incompetência da câmara, que toma medidas isoladas que não resolvem os problemas e até os agravam, e fez várias promessas que nunca foram cumpridas”, assevera.
Segundo Maria José Stock, em 2017, já com Basílio Horta na liderança da Câmara de Sintra, o então presidente da autarquia propôs que os turistas deixassem a viatura particular em parques periféricos e se deslocassem em vanetes elétricas para os monumentos, “o que nunca se veio a concretizar”. Ainda de acordo com a moradora, há duas décadas, a autarquia encomendou um estudo que propunha a construção de três parques periféricos (em Lourel, Várzea e Ramalhão) com ligação ao centro histórico, mas nunca avançou. Este género de parques são agora uma das soluções apresentadas no Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) de Sintra, que resulta de um trabalho realizado entre 2018 e 2021, e esteve em consulta pública.
Uma solução apoiada por vários moradores e até operadores turísticos que todos os dias se deparam com dificuldades no estacionamento. Zélia Muggli, residente, diz que “há dias que não consegue sair de casa” com a quantidade de carros estacionados à entrada da garagem. “O meu marido às vezes tem de ir de marcha-atrás para conseguir sair. Sintra é para andar a pé, não está preparada para estes carros todos”, conta após uma pequena quezília com um guia turístico que transporta visitantes.
O operador turístico, que preferiu não ser identificado, também tem várias queixas e alerta para os “tuk-tuks ilegais”. “Isto está cada vez pior, há um descontrole enorme do turismo de massas. Antigamente parava no centro e hoje já nem quero, fico aqui nos arredores a fazer tempo para ir buscar os turistas. Além disso, há pessoas que não estão habilitadas para serem guias ou conduzirem um veículo turístico”, revela.
Diogo Bernardes nasceu e cresceu em São Pedro de Sintra e nunca viu nada assim. “Custa-me ver a minha vila tão descaraterizada, muitos saíram para viverem nas periferias. Ir para casa é sempre complicado, antes ia por estradas alternativas, mas agora os condutores de tuk-tuks começaram a usar essas vias, muitas delas proibidas a estes veículos, e está um caos”, critica, acrescentando que também deixou de ir à vila.
Contrariando a tendência de fuga para outras zonas da Grande Lisboa, Catarina Pires vai mudar-se para Sintra. Junto à casa nova, vai recordando episódios recentes. “Todos os dias, os condutores dos tuk-tuks entram aqui em contra-mão. Já me ameaçaram que me partiam os vidros se fizesse queixa deles. Alguns descem a grande velocidade, como se fosse um divertimento e, noutro dia, um capotou aqui no final da rua”, conta, adiantando que alguns ainda entram “em zonas de acesso proibido”.
Entradas nos monumentos reduzidas a metade
A Câmara de Sintra admite, em resposta escrita, que “a elevada concentração da riqueza do património, construído no eixo da Serra de Sintra/Vila Histórica de Sintra, apresenta inúmeros desafios e dificuldades” e, por isso, “tem implementado medidas para a redução da carga nos principais monumentos de Sintra, reforçando a qualidade e diversidade da oferta cultural e a atratividade do potencial do património cultural e natural para outros setores de atividade alternativos”.
Diz que embora se verifique “uma tendência de aumento constante de visitantes nos últimos anos”, com a Parques Sintra a vender mais de três milhões de entradas para os monumentos sob sua gestão, em 2019, mais de dois milhões, em 2022, e mais de três milhões, em 2023, há “uma quebra de vendas nos primeiros meses de 2024”. A 15 de Julho tinham sido vendidos perto de dois milhões de entradas, “o que é menos 3% do que no mesmo período do ano anterior”.
A autarquia indica que “essa redução é mais significativa no Palácio Nacional da Pena, monumento com maior pressão turística, onde a quebra registada é de 16,5%, relativamente a 2023”. O município justifica a diminuição do número de visitas com uma medida da autarquia que, no início deste ano, impôs a limitação de entradas no palácio para metade, 6000 por dia em vez de 12 mil. “Garantiu a melhoria da experiência de visita e a redução da taxa de degradação do património. Estas medidas têm um profundo impacto na pressão turística que se sente no centro histórico e zonas limítrofes”, assegura, adiantando que irá fazer o mesmo, a partir de setembro, na Quinta da Regaleira, gerida pela Fundação CulturSintra.
Desde o início deste ano, o acesso aos parques e monumentos sob gestão da Parques Sintra, aos domingos e feriados, passou a ser gratuito para todos os residentes em Portugal. Antes, a empresa já concedia entradas livres, aos domingos, aos munícipes de Sintra. Nesta medida estão abrangidos monumentos como os Palácios Nacionais de Sintra, de Queluz e da Pena, o Palácio de Monserrate, o Chalet da Condessa d’Edla, o Castelo dos Mouros e o Convento dos Capuchos.
O Município confirma que “relativamente à evolução do número de turistas que visitam Sintra nos últimos anos o número de atendimento nos postos de turismo tem demonstrado um aumento contínuo no período pós-pandémico”. Em 2019 bateu o recorde, com 598 973 turistas, número que desceu nos anos seguintes, com 109 614 em 2020 e 94 816 em 2021, e voltou a subir em 2022 (340 633 turistas) e em 2023 (522 176), ainda abaixo do período pós-pandémico.
A associação QSintra defende, contudo, que “a redução de 50% na capacidade de visita ao Palácio da Pena não produz resultados visíveis no tráfego viário, até porque o transporte público é insuficiente e tem um custo que dissuade a sua utilização”. “Seis mil visitantes num só dia continua a ser uma carga excessiva, mais a mais sobre um edifício que era a casa pessoal do rei, sem a dimensão de um palácio real”, considera.
Mitigar o trânsito
Quanto às medidas de mitigação da pressão do trânsito na vila de Sintra, a Câmara diz que “implementou o condicionamento do trânsito automóvel no centro histórico da vila” e que tem trabalhado com as autoridades “de forma a garantir o patrulhamento e regulação do tráfego” na zona, bem como “o estrito cumprimento das regras de trânsito, no acesso a monumentos e ao Centro Histórico da Vila de Sintra”.
O Município refere que, apesar da “eventual inexistência de terrenos disponíveis para o efeito”, construiu o parque de estacionamento periférico da estação da Portela de Sintra, que contempla 550 lugares. Encontra-se ainda em fase de implementação o novo Parque de Estacionamento Ramalhão 1 – no final do IC19 e junto da principal entrada de Sintra –, que irá acolher veículos e autocaravanas, e o Parque de Estacionamento Ramalhão 2, na mesma localização, que irá permitir o estacionamento de 500 viaturas. “Este conjunto de parques contará com um sistema de shuttles de forma a garantir a fluidez e acesso dos visitantes ao centro histórico de Sintra”, informa.
Foi ainda aprovado o Regulamento Municipal para os veículos de turísticos, “o qual previa a criação de um contingente do número de veículos a circular, assim como a diferenciação de veículos elétricos ou com motor a combustão”. “Não foi, contudo, possível implementar devido a uma decisão judicial”, entretanto objeto de recurso interposto pelo município, esclarece. “Este teria sido um importante instrumento de gestão e atuação para a redução dos efeitos, no âmbito do trânsito, da pressão turística na vila de Sintra”, acredita.
Desertificação do centro histórico
O número de habitantes no núcleo histórico da vila de Sintra tem vindo a diminuir, nas últimas três décadas, de acordo com os dados de censos enviados pela Câmara de Sintra. Em 1991 eram 3706, em 2001 diminuíram para 3414, em 2011 eram 3008 e e em 2021 passaram a ser 2615. A autarquia justifica a redução com “uma tendência verificada no panorama nacional e internacional” que resulta de “modelos de desenvolvimento e do crescimento do turismo”, uma realidade que “implica mudanças de políticas nacionais e a criação de novas ferramentas de gestão no quadro da atuação dos municípios”.
Para contrariar este fenómeno, a autarquia diz que “tem investido na compra de espaços e edifícios abandonados no sentido de os recuperar e de os colocar no seu programa de arrendamento jovem a custos controlados”. Neste momento, está a reabilitar dois edifícios municipais “de construção dos finais do séc. XIX, que se encontravam em avançado estado de degradação”, no centro histórico, para habitação jovem, num investimento de dois milhões de euros. Implementou ainda a isenção de IMI nos edifícios inseridos na paisagem cultural e a taxa reduzida do IVA na reabilitação dos edifícios.
O Município garante que “integra na sua estratégia de desenvolvimento medidas que procuram o equilíbrio entre os benefícios do turismo e mitigação dos efeitos do aumento do turismo nacional e internacional e o impacto desta realidade no Centro Histórico de Sintra”. “Esta estratégia é implementada em conjunto com as principais entidades do setor turístico/cultural de Sintra, assegurando medidas que permitam dar a conhecer a amplitude turística, para além dos roteiros óbvios que originam elevada pressão”, refere.
A Câmara diz que “continua empenhada em desenvolver um centro histórico em que os residentes estão em primeiro lugar, em que o património histórico dos munícipes e também de todos os portugueses, seja testemunho da nossa história e fator de desenvolvimento, onde os turistas são bem-vindos, implementando medidas adequadas a cada momento para construir um equilíbrio e uma visão de futuro”. Assinala ainda que “tem, ativamente, contrariado a Vila de Sintra como destino de um dia, criando mecanismos de retenção nas estadias e visitação pelos 312 quilómetros quadrados do território de Sintra, nomeadamente na costa atlântica, zona rural e pontos de relevante interesse histórico”.