Lisboa lança um desafio a arquitectos e urbanistas: repensar a zona de Campolide onde está actualmente montado o estaleiro do túnel de drenagem. Que nova cidade pode nascer aqui?
Com o fim da escavação do grande túnel de drenagem, o que acontecerá à extensa área onde hoje se encontra o estaleiro da obra em Campolide, junto à linha de comboio? Esta é a questão que Lisboa coloca no âmbito da 18ª edição do concurso europeu Europan, no qual a capital portuguesa volta a participar.
Dedicado nesta edição ao tema da reutilização de recursos naturais e de como podemos lidar com a água, o Europan reúne várias cidades europeias: cada uma propõe um desafio para um local específico. O objectivo é convidar arquitectos, arquitectos paisagistas e urbanistas a repensar essas zonas. Lisboa participa com a área de Campolide onde está o estaleiro das obras de drenagem e onde, após esta empreitada, passará a existir um grande tanque de recolha de águas pluviais. Este tanque estará ligado a um túnel de 5 km até Santa Apolónia, conduzindo essas e outras águas captadas ao longo do percurso directamente para o rio Tejo, com o objectivo de prevenir, dessa forma, cheias e inundações na cidade.
O desafio lançado por Lisboa no Europan é claro: como transformar esta nova infraestrutura hidráulica em Campolide e o complexo sistema de infraestruturas rodoviárias e ferroviárias envolvente numa oportunidade para a zona e para cidade? Em concreto, o concurso visa encontrar propostas que promovam um remate urbano inovador para a obra de grande envergadura que é a construção do tanque e túnel de drenagem, criando um espaço que combine habitação, habitat e sustentabilidade, tendo em vista o futuro da cidade.
O foco está na criação de uma cobertura verde sobre a grande estrutura subterrânea, integrando jardins e espaços naturais que valorizem a área. Ao mesmo tempo, essa cobertura deve ligar a área de intervenção ao tecido urbano envolvente, actualmente isolado por infraestruturas como as linhas de comboio e grandes rodovias. A proposta deve ainda considerar os edifícios de habitação de baixa escala que existem no local, estando agora rodeados pelas obras de drenagem, e que são testemunhos de uma Lisboa pré-industrial.
Através deste concurso, Lisboa e outras cidades incentivam uma reflexão sobre o papel da água como um novo elemento estruturante do espaço urbano. A recolha e gestão de recursos naturais podem servir de base para o desenvolvimento da cidade, promovendo um equilíbrio ecológico entre os fluxos naturais e as necessidades urbanas. Como ultrapassar as barreiras das infraestruturas e reforçar a ligação da urbanidade? Como dar forma a um futuro sustentável, belo e inclusivo, que ofereça habitação e habitat? Estas são algumas questões que a capital portuguesa está a colocar aos projectistas que aceitem participar no seu desafio.
“Em Campolide, estamos perante um território com características únicas na cidade: por um lado, isolado do tecido urbano adjacente, marcado por infraestruturas rodoviárias e ferroviárias, com uma morfologia complexa e declives acentuados, reflectindo ainda um passado de carácter agrícola e operário, desvalorizado e degradado; e por outro lado, localizado numa encosta virada a poente, sobranceira ao Vale de Alcântara, actualmente integrado no sistema estruturante de corredores verdes da cidade, com vistas panorâmicas”, lê-se no briefing de Lisboa.
A capital lisboeta regressa ao Europan após mais de uma década de ausência. Nesta edição, estão a concurso 47 locais em 12 países europeus. Os interessados podem apresentar propostas para Lisboa ou para outra cidade, claro. Pedidos de esclarecimento podem ser feitos até 16 de Maio, as propostas devem ser submetidas até 29 de Junho e os resultados serão anunciados a 17 de Novembro. Podes saber mais sobre o concurso aqui.
