Túnel Trafaria-Algés: associações e movimentos pedem alternativa mais sustentável

Em vez de um túnel rodoviário que, dizem, reforçará a dependência do automóvel, uma quinzena de associações, movimentos e colectivos defende que a solução para a mobilidade Trafaria-Algés passa por investir no transporte público.

Trafaria ao final do dia (fotografia LPP)

Diversas associações, movimentos e colectivos questionam o projecto do túnel rodoviário entre a Trafaria e Algés, e exigem uma mobilidade mais sustentável entre as margens do Tejo. Num apelo público, referem que “a mobilidade neste eixo é um desafio urgente, mas a solução não deve passar pela criação de mais infraestruturas rodoviárias que apenas perpetuam a dependência do automóvel. Pedem, por isso, uma alternativa.

“Defendemos que esta ligação deve, pelo contrário, basear-se em modelos de transporte mais eficientes, ecológicos e inclusivos, nomeadamente através do reforço dos serviços ferroviários e fluviais”, indica este conjunto de entidades da sociedade civil numa carta, enumerando seis medidas “de baixo e médio investimento que devem ser equacionadas” em alternativa ao túnel, que apelidam de ser um “projecto faraónico”.

Entre as medidas apresentadas, estão o reforço dos barcos entre a Trafaria e Belém, bem como a criação de uma ligação fluvial directa entre a Trafaria e Algés. Propõem ainda corredores BUS na Ponte 25 de Abril e o reforço de capacidade do serviço ferroviário da Fertagus.

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 69/2025, publicada a 20 de Março, determina à Infraestruturas de Portugal (IP) o desenvolvimento de projectos rodoviários prioritários, onde se inclui o estudo de uma ligação submersa entre a Trafaria-Algés. Esse túnel rodoviário é uma das 31 obras rodoviárias aprovadas, mas os signatários desta carta aberta diz que não existe conhecimento de “qualquer fundamentação técnica para tal decisão”.

As 6 medidas prioritárias

Baixo investimento e curto prazo (2025):

1 – Melhoria da qualidade do serviço fluvial no rio Tejo: investir na frequência e qualidade das ligações fluviais, especialmente na ligação Trafaria-Belém, tornando-a uma alternativa eficaz ao transporte rodoviário. Atualmente, os barcos Trafaria-Belém circulam apenas de hora em hora e encerram o serviço às 21 ou 22 horas. É essencial garantir uma frequência mais regular e um funcionamento alargado no período noturno.

2 – Reactivação do terminal fluvial de Algés: avaliar a viabilidade de reativar este terminal para estabelecer uma ligação fluvial direta entre a Trafaria e Algés, com uma frequência regular.

3 – Reforço da capacidade dos comboios da Fertagus: com o aumento da procura desde 2019, impulsionado pela introdução dos passes Navegante, e desde Dezembro de 2024, com o aumento da frequência dos comboios desde Setúbal, torna-se necessário ampliar a capacidade de transporte. O Governo deve priorizar a aquisição urgente de novo material circulante.

4 – Corredores BUS no acesso à Ponte 25 de Abril: introduzir a Sul e a Norte da Ponte 25 de Abril corredores dedicados ao transporte público rodoviário de grande capacidade, que respondam com maior flexibilidade a pares de origem e destino menos densos e estejam integrados na rede metropolitana de corredores dedicados ao transporte público rodoviário.

Médio investimento e médio prazo (2030):

5 – Expansão do Metro Sul do Tejo à Trafaria: concluir o projeto e a execução da extensão do Metro Sul do Tejo da Universidade até à Costa da Caparica e Trafaria.

6 – Expansão do Metro Sul do Tejo a Alcochete: tal como já previsto em diversos instrumentos legais e de planeamento, executar a expansão do Metro Sul do Tejo ao Seixal-Barreiro-Alcochete.

O túnel Trafaria-Algés não é uma ideia nova, mas de uma reivindicação antiga das autarquias de Almada e de Oeiras. A Presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, tem vindo a defender em várias intervenções públicas essa infraestrutura, até como forma de levar o MTS, o metro ligeiro de superfície que percorre os concelhos de Almada e do Seixal, até à Margem Norte, a partir da Trafaria. A Câmara de Almada estima um custo de 1,1 mil milhões de euros para a construção do túnel, com um prazo previsto de sete anos.

“A mobilidade urbana entre os concelhos da Margem Norte e Sul exige um investimento robusto e estratégico nos transportes públicos, bem como nas redes de mobilidade activa que os alimentam, com vista a garantir um sistema coerente, fiável, eficiente e inclusivo”, indica a quinzena de associações e colectivos. “Nenhuma obra de mobilidade de grande investimento deve ser iniciada sem estar devidamente integrada em instrumentos de gestão territorial aprovados e sem os respetivos estudos de mobilidade.”

Trafaria (fotografia LPP)

Na carta, referem a importância de uma “melhor oferta e maior articulação entre todos os operadores de transporte público”, de construir uma “rede ciclável robusta, contínua, segura e apelativa, que ligue os aglomerados aos transportes públicos de alta capacidade”, bem como da existência de uma “rede pedonal qualificada e igualmente coerente” para promover o andar a pé até ao transporte público. “Quanto mais bem integradas estiverem as várias redes, mais atractivos se tornam os meios de mobilidade alternativos ao automóvel privado e mais se desincentivará o seu uso”, indicam no apelo público.

Mas, acima de tudo, “é fundamental promover uma maior coesão territorial, criando mais empregos na Margem Sul, reduzindo assim as deslocações diárias de automóvel”, escrevem os signatários na carta divulgada.

O apelo é subscrito por 16 entidades e colectivos, a saber: ACA-M – Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados; Associação Inspira Mobilidade; Associação Último Recurso; ATERRA – Movimento Pela Redução do Tráfego Aéreo e Por Uma Mobilidade Justa e Ecológica; Centro de Arqueologia de Almada; Centro de Vida Independente; CUTMS – Comissão de Utentes dos Transportes da Margem Sul; Estrada Viva; Estuário Colectivo; GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente; ICVM – Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade; MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta; QUERCUS – Associação Nacional de Conservação da Natureza; Rede para o Decrescimento; The Future Design of Streets association; e ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

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