A Câmara de Lisboa celebra a chegada da GIRA a todas as freguesias da cidade, mas os utilizadores têm poucos motivos para festejar: faltam bicicletas por toda a cidade, as estações têm estado quase vazias e, na freguesia de Santa Clara, a GIRA está desactivada há quase um mês.

Estações praticamente vazias, algumas fechadas sem previsão de reabertura, e menos de 800 bicicletas disponíveis na cidade inteira. Utilizar a GIRA, o sistema de bicicletas partilhadas de Lisboa, tem sido uma dor de cabeça nos últimos dias. Os utilizadores desesperam, enquanto Câmara de Lisboa e EMEL festejam a chegada da GIRA a todas as freguesias. O vereador socialista Pedro Anastácio acusa o Presidente Carlos Moedas de propaganda.
Freguesia de Santa Clara está sem GIRA
Em teoria, a GIRA chegou a todas as freguesias da cidade de Lisboa, com a abertura de três estações no Pólo Universitário da Ajuda no passado dia 9 de Maio. Na prática, faltam bicicletas por toda a cidade e há uma freguesia sem GIRA há quase um mês.
Desde meados de Abril que a única estação que abriu na freguesia de Santa Clara apenas um mês antes, no início de Março, está desligada. Não houve aviso e quem vive na zona foi apanhado desprevenido. Também ninguém sabe quanto tempo a estação, localizada perto do Metro da Ameixoeira, vai continuar indisponível.

As três estações GIRA mais próximas também têm estado indisponíveis: tanto as duas estações que abriram junto ao novo parque de estacionamento da Azinhaga da Cidade, como a que está perto da Alta de Lisboa, junto ao Parque Oeste, só estiveram abertas durante poucos dias. Na aplicação, estas quatro estações aparecem como estando em manutenção.


Quem vive nesta zona norte da cidade e começou a usar a GIRA ficou sem o sistema de bicicletas partilhadas de um dia para o outro. E sem qualquer explicação para a situação ou previsão de quando tudo ficaria resolvido. Aliás, através da aplicação da GIRA ou dos canais oficiais da EMEL, não foi dada qualquer explicação nem sequer previsão.
Segundo sabe o LPP, vandalismo e furtos terão motivado o encerramento temporário das quatro estações mencionadas. Uma delas chegou a reabrir, mas entretanto voltou a encerrar. O facto de as estações GIRA não contarem com videovigilância e de algumas se encontrarem em locais recônditos dificulta a sua protecção e torna-as alvos fáceis para actos de vandalismo, contribuindo para uma eventual recorrência destes incidentes.
Bicicletas diminuíram para menos de metade
Também pela cidade, quase não tem dado para usar a GIRA. Nas duas últimas semanas de Maio, a disponibilidade de bicicletas nas estações baixou significativamente. Tanto que, entre 14 e 16 de Maio, estiveram nas ruas uma média de 750 bicicletas, segundo dados apurados pelo LPP a partir da aplicação da GIRA. Ou seja, aproximadamente metade das 1600 bicicletas que costumavam estar no sistema de bicicletas partilhadas. E pouco mais de um terço das 2000 bicicletas que a EMEL oficialmente diz existirem no sistema.
Pela cidade, só se vêem docas vazias ou quase vazias. E basta abrir a app para comprovar o cenário que observamos empiricamente: são poucas as estações, especialmente nas partes centrais da cidade, que têm bicicletas. Está quase tudo a zeros ou com uma bicicleta. Quando há estações cheias de bicicletas, há algum erro através da aplicação que impede o seu desbloqueio e utilização. Por outro lado, as poucas bicicletas que se encontram disponíveis apresentam frequentemente pouca bateria ou sinais de avaria, consequência da pressão constante a que estarão a ser submetidas.



GIRA na Ajuda não foge ao vandalismo
Foi a 9 de Maio que abriram as três primeiras estações da GIRA na freguesia da Ajuda, todas localizadas no Pólo Universitário. No entanto, nem estas escaparam, nos primeiros dias, a atos de vandalismo – como terá também acontecido com estações de Santa Clara e do norte do Lumiar.
Segundo um estudante de arquitectura que enviou ao LPP vídeos e fotografias, algumas bicicletas foram vandalizadas logo numa das primeiras noites após a inauguração. De acordo com o seu testemunho, um grupo de adolescentes tentou arrancá-las à força das docas. O jovem, residente no Pólo, afirma ter tentado dialogar com alguns deles, explicando-lhes que podem usar a GIRA gratuitamente, mas sem sucesso. Diz que os episódios de vandalismo têm-se repetido e defende a instalação de videovigilância como medida para proteger estas infraestruturas.


EMEL diz que tem “mais de 2000” bicicletas
Quando a GIRA chegou à Ajuda, no início de Maio, o comunicado da EMEL celebrava a chegada do sistema de bicicletas partilhadas a todas as freguesias da cidade e dava conta de alguns números: o “dobro das bicicletas, com mais de 2000 em frota”, em relação a Outubro de 2021, e “195 estações, distribuídas pelas 24 freguesias de Lisboa”, quando há quatro anos “a rede chegava a apenas 14 freguesias, com um total de 102 estações”.

A EMEL diz ainda que “este alargamento da rede foi especialmente direccionado para zonas mais periféricas da cidade, garantindo maior proximidade com os utilizadores e permitindo que cada cidadão esteja sempre, em média, a menos de 10 minutos de uma estação, a pé”. Mas, se é verdade que a GIRA chega a mais zonas da cidade, não deixa de continuar a servir melhor uns bairros que outros – tema que será desenvolvido noutro artigo.
E, como os últimos dias têm mostrado, a GIRA é um sistema no qual os utilizadores ainda não podem confiar. Além de uma aplicação oficial que continua a não ser fiável, de um momento para o outro, as bicicletas partilhadas deixam de estar disponível numa parte da cidade, sem qualquer explicação aos utilizadores, e o número de bicicletas baixa para metade. Razões que levaram Pedro Anastácio, vereador do PS na Câmara de Lisboa, a fazer uma crítica a Moedas.
Socialistas criticam Moedas
Num vídeo partilhado no Instagram – inspirado num antigo vídeo promocional de Carlos Moedas aquando da chegada da GIRA à Ajuda –, Pedro Anastácio acusou o presidente da Câmara de fazer “propaganda” com o sistema de bicicletas partilhadas, sem apresentar “resultados reais”. O vereador do PS refere que é preciso tornar a GIRA num “verdadeiro sistema de mobilidade e não de show off de quem faz dois vídeos por ano”.
Também a candidata socialista à Câmara de Lisboa, Alexandra Leitão, tem vindo a destacar na sua pré-campanha alguns problemas da GIRA, como o mau funcionamento da aplicação, a única porta de acesso à rede pública de bicicletas partilhadas da cidade.
A GIRA tem sido também uma das bandeiras de Carlos Moedas, que se comprometeu com a expansão do sistema e conseguiu expandi-lo, como os números já apresentados anteriormente neste artigo – mais 93 estações em relação a 2021 e a aquisição e novas bicicletas. No entanto, como está a acontecer agora, tem sido comum a existência de “crises na GIRA”, com indisponibilidades inesperadas de bicicletas.