O 1Bilhete.pt colocará os sistemas de bilhética de diferentes cidades a falar a mesma “língua”. Permitirá, por exemplo, usar o cartão Navegante para viajar no Porto, ter todos os bilhetes e passes numa única aplicação no telemóvel e ainda usar cartões bancários contactless para pagar viagens.

Actualmente, quem vive em Lisboa tem um cartão Navegante para utilizar os transportes públicos da cidade e da área metropolitana. Mas se for de visita ao Porto, terá de comprar um cartão Andante para fazer uso da rede local de metro ou autocarros. E se quiser ir a seguir a Braga de comboio, por exemplo, terá de ter um cartão Siga. O projecto 1Bilhete.pt que quer acabar com isso, unificando num único sistema a bilhética nacional.
O 1Bilhete.pt não significará um bilhete único para andar em todos os transportes do país, mas antes uma plataforma comum para os diferentes bilhetes. Com o 1Bilhete.pt, os passageiros poderão no mesmo cartão – por exemplo, um cartão Navegante ou Andante – carregar um passe mensal para os transportes públicos de Lisboa, bilhetes de comboio e viagens no Metro do Porto. Poderão também ter numa única app no telemóvel todos os seus bilhetes e passes de transportes públicos, e vão ainda poder utilizar um cartão bancário contactless para viajar nos vários transportes do país.
O 1Bilhete.pt será, assim, uma plataforma tecnológica de bilhética intermodal para Portugal que vai permitir a interoperabilidade entre os sistemas de bilhética já existentes, bem como a introdução de novas formas de pagamento O projecto começará por agregar o Navegante e o Andante, mas está aberto a qualquer operador de qualquer cidade e/ou autoridade de transporte de qualquer região que deseje integrar o sistema. Mas a disseminação da plataforma pelo território nacional vai depender da adesão das entidades com competências ou atribuições em matéria de sistemas de bilhética e que podem beneficiar de acesso a investimento financeiro para a implementação do projecto – o primeiro passo é a a manifestação de interesse, junto do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), através de envio de e-mail para sec.dseap@imt-ip.pt.
O desenvolvimento tecnológico da plataforma do 1Bilhete.pt vai ser desenvolvida pela Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) e pela Transportes Intermodais do Porto (TIP), com a supervisão do IMT. As três entidades vão trabalhar de forma colaborativa, na partilha de recursos e de conhecimento. O valor do investimento previsto para apoio ao desenvolvimento deste projecto é de 2,5 milhões de euros.
A plataforma 1Bilhete.pt será disponibilizada ao público, de forma faseada, e de acordo com o planeamento previsto para o desenvolvimento das diferentes soluções:
- até ao final de 2023, deverá estar pronta a plataforma que permitirá integrar diferentes sistemas de bilhética, isto é, colocar o Navegante a “falar” com o Andante, por exemplo, permitindo aos passageiros comprar com o seu cartão Navegante viagens no Metro do Porto ou descontar saldo Zapping em autocarros da STCP;
- até Março de 2024, deverão estar disponível uma aplicação para telemóvel do 1Bilhete.pt que permitirá ter, na mesma carteira virtual, diferentes passes e bilhetes para diferentes operadores e diferentes cidades do país. Também através do telemóvel será possível comprar esses mesmos passes e bilhetes, sem necessidade de suporte físico;
- até ao final de 2024, está prevista a disponibilização de compra de viagens com cartões bancários contactless e sistemas como o Apple/Google Pay nos operadores, cidades e regiões que vejam a aderir à plataforma 1Bilhete.pt.

Como referido, o 1Bilhete.pt vai arrancar com os sistemas de bilhética das duas áreas metropolitanas nacionais – o Navegante e o Andante –, que já utilizam a mesma base tecnológica, designada de Calypso, apesar de divergirem ao nível do processamento de dados e de chaves de segurança. Para colocar o Navegante e o Andante a entenderem a mesma “língua”, será desenvolvido uma espécie de “tradutor”. Em linguagem mais técnica, o 1Bilhete.pt consistirá numa API comum para todas as autoridades de transporte do país, com diferentes plug-ins que permitam responder às especificidades das diferentes tecnologias de cartões e de modelos de dados. Com esta API, vai ser possível desmaterializar os cartões, bilhetes e passes, permitindo que com um simples código QR os passageiros possam realizar as suas viagens (“Account Based Ticketing”).
Em relação à aplicação para telemóveis, o 1Bilhete.pt propõe-se a desenvolver as ferramentas (SDK) e serviços que permitam a criação de apps de bilhética móvel. Poderá existir uma aplicação do 1Bilhete.pt, mas o foco do projecto será permitir que cada operador ou autoridade de transporte local consiga desenvolver aplicações próprias sem ter de fazer tudo de raiz – ou seja, podendo ter uma base tecnológica. O 1Bilhete.pt irá pensar em aplicações Android e iOS que permitam o carregamento de cartões físicos (TopUP, como é o caso da Pick Hub) e que emulem de cartões virtuais (ou seja, utilizar o telemóvel como cartão).
A terceira e última parte do 1Bilhete.pt consiste no desenvolvimento tecnológico de modo a permitir a utilização de cartões bancários contactless em transportes públicos; desta forma, as operadoras e autoridades de transporte das diversas regiões do país poderão integrar pagamentos com cartões contactless ou sistemas como o Apple/Google Pay sem esforço e garantir a integração da sua oferta de transporte público local em futuras soluções de “mobilidade como um serviço” (MaaS) que venham a ser lançadas.
Em resumo: a plataforma 1Bilhete.pt vai tornar possível, com qualquer cartão de transporte público ou aplicação móvel, adquirir e validar passes/bilhetes de transporte de outros sistemas, não sendo necessária a compra de novo cartão ou a instalação de outra aplicação no seu telemóvel. Além disso, será possível criar títulos de viagem de transporte público de cobertura nacional e utilizar cartões bancários, em suporte físico ou virtual, para adquirir ou validar passes/bilhetes de transporte, abrindo a possibilidade da atribuição de benefícios decorrentes da utilização de uma conta unificada.

Ao jornal Observador, o Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, adiantou que a grande meta do projecto é “permitir que o mesmo sistema [de bilhética] possa ser usado em qualquer parte do território”. Com isso, “e, com isto, “podemos dar um salto mais forte no sentido de se facilitar a criação de títulos intermodais, que possam ser usados intermunicípios, interregiões e, no limite, fazer que um título possa ser usado para uma viagem em todo o país”.
“As áreas metropolitanas já têm muito trabalho feito. Com esta plataforma, chamámos as duas áreas metropolitanas e dissemos: ‘vamos partilhar a informação e vamos uniformizar os critérios nestas duas áreas’. Em cima disto pomos o IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes) a coordenar e a ficar fiel depositário de todo o trabalho que se fizer”, acrescentou o responsável. Na prática, poderá nascer um bilhete ou passe único entre a área metropolitana de Lisboa e a região do Oeste. ou entre o Porto e Braga, que fazem parte de Comunidades Intermunicipais distintas, porque a actual barreira tecnológica que existe será derrubada (se os municípios respetivos aderirem à plataforma), como refere o Observador. “Se isso estiver uniformizado, essa dificuldade deixa de existir. Queremos evitar que se desperdicem recursos, porque [hoje] todas as autoridades têm de desenvolver os seus sistemas de bilhética de forma autónoma, não partilhando recursos e, muitas vezes, fazendo a mesma coisa que outra autoridade já fez”, referiu Jorge Delgado ao mesmo jornal.
Apesar de a primeira fase do projecto 1Bilhete.pt estar prevista para o final de 2023, o Secretário de Estado da Mobilidade Urbana anunciou que na altura da Jornada Mundial da Juventude, que decorre em Agosto, já deverá estar em teste essa primeira parte, ou seja, a integração dos sistemas de bilhética Navegante e Andante – esse produto estará em testes e sem uma aplicação prática “muito extensiva”, adiantou o responsável político.
Um “cartão de mobilidade” nas empresas
Na semana que passou, numa audição parlamentar, o Ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, anunciou que o Governo está a trabalhar na criação de um cartão de mobilidade, que, à semelhança do cartão de refeição, as empresas poderão disponibilizar aos seus funcionários com um saldo pré-carregado para estes gastarem em soluções de mobilidade, como passes e bilhetes de transportes públicos, “incluindo viagens ocasionais, de longo curso, sistemas de carros ou bicicletas partilhadas, e talvez aquisição de velocípedes e carregamento de veículos eléctricos”. Segundo Duarte Cordeiro, citado pelo jornal Observador, este cartão de mobilidade será uma forma de as empresas “comparticiparem as despesas com mobilidade dos trabalhadores e desincentivarem o uso de transporte individual”.
No Parlamento, o Ministro do Ambiente disse ainda que o próximo quadro de fundos europeus terá mais 660 milhões de euros para infraestruturas de transporte, permitindo concretizar projectos como o LIOS Ocidental entre Lisboa e Oeiras, ou a expansão do MTS até à Costa da Caparica, mas também a possibilidade de levar o Metro do Porto até Gondomar e até à Trofa, e concretizar uma solução de metrobus (BRT) em Braga. Segundo Duarte Cordeiro, Portugal investiu 4,8 mil milhões de euros desde 2015 em mobilidade, incluindo em material circulante e na redução tarifária.