
Depois da pandemia, há coisas que não vão ser as mesmas e a Rua dos Bacalhoeiros é uma delas. O troço que, há sensivelmente um ano, foi pintado de azul deverá ser, em breve, intervencionado com uma obra de fundo e carácter mais definitivo. A rua vai continuar a ser pedonal e a permitir à restauração a instalação de esplanadas.
2020 foi um ano em que por várias cidades se repensou o espaço público e o seu domínio pelo automóvel, tendo sido lançados projectos pop-up de alargamento de passeios, execução rápida de ciclovias ou fecho temporário (ou não) de ruas ao trânsito, entre outras. O intuito geral passava por dar mais espaço às pessoas para caminhar, estar e conviver, promover a bicicleta como uma alternativa de transporte e ajudar a restauração na retoma económica, permitindo aos comerciantes a instalação ou o alargamento de esplanadas.
Em Lisboa, foi anunciado um plano de ciclovias pop-up, que previa 76 novos km cicláveis até meados de Março de 2021, e uma iniciativa intitulada A Rua É Sua com mais de uma centena de intervenções pela cidade fora de aumento do espaço pedonal. Todavia, as ambições iniciais rapidamente se esmoreceram: muitas das ciclovias anunciadas acabaram por não ser executadas; e a maioria das intervenções A Rua É Sua também não foi realizada e as que foram acabaram por ser muito direccionadas para a restauração. Lisboa não foi caso único neste acabrunhamento, aconteceu noutras cidades também; ainda assim, houve mudanças positivas que ficaram e projectos que, mesmo fora do ânimo inicial, saíram do papel.

A Rua dos Bacalhoeiros foi a primeira das artérias intervencionadas no âmbito do A Rua É Sua. Mas mal a tinta azul começou a ser aplicada no pavimento, levantou-se a polémica: enquanto alguns criticavam a cor escolhida, outros apontavam o dedo à pintura em si, dizendo que os químicos iriam escorrer pelas sarjetas e poluir o rio. À Rua dos Bacalhoeiros, seguiu-se a Rua Nova de Trindade, também pintada de azul, e também na mesma freguesia – Santa Maria Maior. O seu Presidente, Miguel Coelho, respondeu às críticas da população e das redes sociais, referindo que se tratavam de experiências pop-up e que, caso se verificasse o seu sucesso, a tinta seria substituída por calçada. Bem, é isso que vai acontecer, pelo menos, na Rua dos Bacalhoeiros.
Uma boa parte da Rua dos Bacalhoeiros já era pedonal desde a intervenção em 2017 no Campo das Cebolas, tendo ficado de fora um pequeno troço até à Rua da Madalena. Em 2020, esse troço foi reduzido com o encerramento ao trânsito e a pintura de azul da parte até à Rua da Padaria, uma pequena ruela que desce da zona da Sé – a Rua dos Bacalhoeiros ficou transitável apenas o trecho final, entre a tal Rua da Padaria e a Rua da Madalena.
A intervenção agora prevista mantém a actual configuração viária da Rua dos Bacalhoeiros – só que o azul existente vai passar a calçada escura de granito (Gabro de Odivelas). O concurso público com o valor base de 200 mil euros foi lançado, no final de Junho, para encontrar um empreiteiro que possa executar a obra no prazo de 120 dias. O processo ainda vai demorar, mas é possível que a obra acabe por ser executada na época baixa, quando há menor procura por espaços exteriores, de modo a ter um menor impacto para a restauração local. Podes consultar o projecto em baixo:

Iniciativas pop-up como a que foi realizada na Rua dos Bacalhoeiros permitem testar ideias antes de, eventualmente, passá-las a definitivas, permitindo reajustes. A ciclovia da Avenida Almirante Reis está a ser alterada para uma configuração que deverá ser melhor que a anterior e que tinha sido colocada de forma rápida e barata no âmbito do programa de ciclovias pop-up. Na Avenida Madame Curie, junto ao IPO, foi agora oficializado o alargamento da área pedonal na intersecção dessa artéria com a Rua Professor Lima Bastos, depois de uma intervenção A Rua É Sua em 2020. Estes são apenas dois exemplos, mas é bem possível que, num futuro, as novas telas de arte urbana em torno do Mercado de Arroios sejam transformadas em “passeios a sério”, com árvores e bancos.