
Desenhado em 2009, o Plano Geral de Acessibilidades Suaves e Assistidas à Colina do Castelo pretende, como o nome indica, melhorar a mobilidade pedonal na colina do Castelo, uma zona de elevado interesse turístico, mas também patrimonial e cultural, e uma zona onde viverão algumas centenas de pessoas (Censos 2011). O plano é composto por cinco percursos diferentes (por exemplo, o Percurso da Graça e o Percurso da Sé), ao longo dos quais estão previstos equipamentos mecânicos como escadas rolantes e elevadores. Deveria estar concluído por 2016/17, mas uma boa parte ainda está por concretizar.
As escadas rolantes das Escadinhas da Saúde, inauguradas em Outubro de 2018, são uma das partes deste plano de acessibilidades. Constituem o primeiro de um conjunto de três troços que formam o Percurso da Mouraria, que vai ligar o Martim Moniz ao Castelo. De utilização gratuita e livre, têm 32 metros de comprimento e resolvem um desnível de 13 metros, entre a Praça do Martim Moniz e a Rua Marquês de Ponte de Lima. Custaram cerca de 830 mil euros. Numa segunda fase, este percurso será complementado por mais dois troços, sendo um pedonal e outro mecânico, para facilitar o acesso ao interior do Castelo de São Jorge.
Apesar de localizadas numa área de elevada procura turística, servindo todas as pessoas que visitam a cidade, as Escadinhas da Saúde auxiliam também todos os moradores da zona. É o caso de Maria Silva, 60 anos. “Morar na Costa do Castelo é neste momento uma benção e um flagelo ao mesmo tempo especialmente fora dos horários de funcionamento do Elevador do Castelo.” O Elevador do Castelo é composto por dois elevadores: um que permite subir da Rua dos Fanqueiros até à Rua da Madalena, e outro que permite subir desta rua até à Costa do Castelo pelo Mercado Chão do Loureiro. Os dois elevadores são gratuitos, mas o primeiro tem horário de funcionamento. “Funciona apenas das 8 da manhã às 9 da noite”, explica Maria. “O meu trabalho requer que por vezes tenha de vir mais tarde para casa quando o elevador já está fechado”, e por isso tem de subir a íngreme Rua da Madalena para chegar ao elevador do Chão do Loureiro. “Para mim as escadas rolantes eram a alternativa perfeita”, esclarece. “As escadas rolantes vinham colmatar a falta de acessos noturnos mas neste momento já nem me desloco às escadas, pois sei que muito provavelmente estarão paradas.“
As Escadinhas da Saúde estão ao ar livre e, por isso, mais à mercê de actos de vandalismo e de usos abusivos, por exemplo. Maria e o filho, Tiago, explicam-nos que nos últimos meses têm encontrado as escadas rolantes várias vezes paradas, e chegaram ao contacto do Lisboa Para Pessoas no sentido de não só alertar para o problema, mas tentar saber o motivo por detrás das avarias. “Neste momento, contam-se pelos dedos as vezes que, por semana, as escadas estão a funcionar e quando estão, não funcionam as duas ao mesmo tempo, tendo o transeunte a desagradável surpresa de, quando chega ao segundo vão de escadas rolantes, ter de as subir com força muscular e não mecânica”, lamenta Tiago Oliveira, de 31 anos. “Eu não sou de me queixar”, até porque, como diz, ainda é novo, mas confessa que já esperava que as escadas tivessem este tipo de imprevistos.
“Quando soube que iam construir escadas rolantes abertas a ligar o Martim Moniz tive de imediato dois sentimentos contraditórios: primeiro, que ia ser espectacular pois sempre que fosse visitar a minha mãe não teria de fazer a penosa subida da Rua da Madalena; segundo, provavelmente ia ter de continuar a fazer a penosa subida da Rua da Madalena porque quando toca a equipamentos não supervisionados em Lisboa, muito provavelmente iria estar em constante manutenção e seriam praticamente inúteis”, conta. “Sei que para quem vive naquela zona, especialmente pessoas mais velhas, as escadas rolantes foram uma benção mas agora as pessoas olham para elas apenas com a decepção do que poderia ser um acesso uma mobilidade de maior qualidade na maior colina de Lisboa.”
A imprevisibilidade de saber se vão estar a funcionar em pleno, ou seja, com os dois lanços de escadas operacionais, complica a vida a Maria, que usa os transportes públicos nas suas deslocações diárias e que gostaria de aproveitar melhor este equipamento da cidade. Actualmente, apenas o primeiro lanço das escadas rolantes se encontra operacional, acumulando-se no segundo algumas beatas, folhas e outro tipo de lixo – sinal de que estará parado há largos meses, conforme especificaram Maria e Tiago.

Contactada pelo Lisboa Para Pessoas, a EMEL explica que “as Escadinhas da Saúde têm sofrido constantes actos de vandalismo, desde a sua inauguração, o que tem provocado uma intermitência no seu correcto funcionamento”. A empresa municipal, responsável pela gestão do Plano Geral de Acessibilidades Suaves e Assistidas à Colina do Castelo e respectivos equipamentos mecânicos, acrescenta que o segundo lanço de escadas está parado “precisamente derivado de repetidos actos de vandalismo que avariaram o sistema, estando a aguardar uma peça que, devido aos constrangimentos provocados pelo Covid-19, tem demorado a chegar um tempo muito superior ao normal“.
“A EMEL alerta que as Escadinhas da Saúde são essenciais para a deslocação e o bem-estar de muitas pessoas, residentes, trabalhadores e trabalhadoras e não só, e garante que tudo tem feito e continuará a fazer para minorar a falta de civismo que tem provocado sérios danos e levado a que este importante equipamento da cidade de Lisboa não funcione na sua plenitude.”
– EMEL