Opinion Article.
It takes more than polished speeches and suit-and-tie presentations; it takes changing the path of political communication, taking it out of its private parking place and bringing it close to the people, to a stop close to them.

Imaginem não precisarem mesmo do carro. O paradigma de mobilidade na região metropolitana de Lisboa deve mudar substancialmente neste ano de 2022. O lançamento da Carris Metropolitana promete ser a revolução de que os transportes públicos precisam e o reposicionamento do Navegante como uma gigante plataforma tecnológica irá ajudar a ligar todos os outras modalidades (autocarros, metro, barco, comboio e bicicletas).
Contudo, na passada sexta-feira, perdeu-se uma oportunidade de começar a envolver o elemento mais importante nesta “revolução” – as pessoas que já usam no dia-a-dia o transporte público e, aquelas que podem vir a usá-lo. O evento de lançamento da Carris Metropolitana e do Navegante, que decorreu no Pátio da Galé, deu o mote para a mudança que se pretende implementar em Lisboa; mas serviu mais para políticos discursarem sobre o transporte público que provavelmente não usam, perante uma audiência composta por outros políticos como eles e por representantes das empresas de transporte público, do que para em algum momento falar com o público destes transportes.
Às tantas, os discursos começaram a parecer idênticos entre si e com pouco a acrescentar e, na plateia, as expressões faciais e a presença constante de telemóveis nas mãos denunciavam um desinteresse generalizado ou até algum aborrecimento.
Caricaturalmente, o mais interessante do evento foram os vídeos que passavam nos intervalos dos discursos e nos quais eram apresentadas informações novas sobre a Carris Metropolitana e o Navegante. Mas, para azar das pessoas que podem ter interesse em saber o que aí vem, essas informações saíram com dificuldade do evento. Nos canais digitais da Área Metropolitana de Lisboa (AML) ou da Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), não chegaram a ser publicados os vídeos, nem essa informação noutro formato – e nem sequer houve transmissão do evento que decorreu no Pátio da Galé. Aos jornalistas presentes no lançamento (que pareciam ser muito poucos), não foi entregue qualquer press kit ou documento detalhado para que pudessem trabalhar em artigos informativos e esclarecedores para a população. E pelas redes sociais das Câmaras Municipais e dos Presidentes de Câmara, multiplicaram-se fotos do evento com mensagens genéricas e pouco concretas.
A Carris Metropolitana e o Navegante pode mudar directamente ou indirectamente a vida de 2,8 milhões de pessoas – a população da AML –, podendo ajudar a resolver o problema crónico de congestionamento e de poluição. Nesse sentido, quantas mais pessoas trocarem o transporte individual pelo o colectivo, melhor o trânsito das cidades ficará e melhor se respirará. Mas para que tudo isto aconteça, é preciso cativar as pessoas as pessoas.
O lançamento da Carris Metropolitana e o relançamento – se quisermos – do Navegante não deveria ter sido mais um evento fechado ao público. Imaginem que os autocarros amarelos novinhos em folha que foram estacionados à porta do Pátio da Galé para que os políticos pudessem tirar fotos tinham sido expostos a um sábado ou domingo no meio do Terreiro do Paço com um convite à população para vir conhecer o futuro da mobilidade metropolitana. Expositores a mostrar as novidades, as novas linhas e os números da futura Carris Metropolitana. Equipas de comunicação a receber os curiosos e a explicar-lhes de viva voz as novidades. Uma pequena festa, talvez uns comes e bebes – para chamar a atenção dos gulosos –, uns brindes para assinalar a mudança, e um balcão para fazer o passe na hora como culminar de todo o esforço de comunicação.
Desengane-se quem acha que as pessoas não querem saber. No Lisboa Para Pessoas não há dúvida de que estes são os artigos mais lidos e os que geram mais interesse nos fóruns e redes sociais. Depois de uma pandemia que empurrou os níveis de utilização do transporte público para níveis históricos e que promoveu uma migração para outras formas de mobilidade, é fundamental trazer as pessoas de volta e valorizar a mobilidade colectiva. Para o fazer, é preciso mais do que discursos polidos e apresentações de fato e gravata; é preciso mudar o trajecto da comunicação política, tirá-la do lugar de estacionamento privado e levá-la para junto das pessoas, para uma paragem perto delas.