Entre fazer, desfazer e refazer, a autarquia lisboeta vai gastar quase um milhão de euros nas laterais da Avenida da Liberdade. Tudo em obras que não são a prometida requalificação de fundo deste eixo.

Ainda nem um ano passou desde a conclusão da obra da EMEL de alteração dos sentidos de trânsito nas laterais da Avenida da Liberdade e já essa obra vai ser desfeita… para ser refeita. A Câmara de Lisboa prepara-se para avançar com a repavimentação integral das laterais de uma das avenidas mais icónicas da cidade, o que terá impacto nas pinturas realizadas no Outono de 2023.

A intervenção nas vias laterais da Avenida da Liberdade é uma empreitada que se insere num conjunto de repavimentações que o Município está a fazer por toda a cidade e que inclui alguns eixos degradados ao nível do piso, como a Calçada da Estrela, a Avenida do Brasil e a Estrada da Luz. Estas obras tinham sido anunciadas em Abril pelo Presidente da Câmara, Carlos Moedas, através das redes sociais.
No caso das laterais da Avenida da Liberdade, a repavimentação vai custar mais de 434 mil euros e será feita pela construtora Estrela do Norte, seleccionada por concurso público. A obra promete resolver os vários problemas existentes no pavimento como buracos e outras imperfeições, que causam desconforto não só a quem circula de carro mas também de bicicleta. De facto, segundo a autarquia, será feita an “renovação da camada de regularização e da camada betuminosa superficial do pavimento existente, conferindo-lhe condições de segurança e conforto para os seus utilizadores”. Não haverá qualquer alteração dos perfis rodoviários, passeios e lancis; apenas serão substituídas as tampas de esgoto e grelhas de sumidouro em mau estado.

De acordo com a documentação publicada, a repavimentação vai abranger a totalidade das vias laterais da Avenida da Liberdade entre o Marquês de Pombal e o cruzamento com a Praça da Alegria/Rua das Pretas, numa área de 16,5 mil metros quadrados. Envolverá também as áreas alcatroadas entre as laterais e a via central, bem como algumas zonas no Marquês. De fora, ficará apenas o troço entre a Rua Alexandre Herculado e Barata Salgueiro, que se encontra condicionado pelas obras de drenagem, assim como as laterais da Avenida junto aos Restauradores, que manterão seu estilo empedrado.

EMEL tinha feito obra nas lateriais há menos de um ano

A colocação de um novo tapete nas laterais da Avenida da Liberdade acontecerá nem um ano depois de a EMEL ter requalificado essas mesmas vias. Na verdade, entre a a segunda quinzena de Agosto e meados de Novembro de 2023, a empresa municipal de mobilidade de Lisboa esteve a repor o sentido original de trânsito nas laterais da Avenida (descer de um lado, subir do outro), bem como a fazer marcações 30+bici, pinturas de bolsas para estacionamento de bicicletas e motas, colocação de balizadores de plástico e actualização de toda a semaforização para o sistema tecnológico mais moderno. No total, a intervenção teve um custo de 523 mil euros.

Se é certo que a repavimentação não terá impacto em algumas infraestruturas, como os semáforos, implicará novas pinturas e a recolocação de balizadores postos há menos de um ano. Contas feitas, entre o faz, desfaz e volta a fazer, a autarquia lisboeta vai gastar quase um milhão de euros nas laterais da Avenida da Liberdade em menos de um ano. Tudo em obras que não são a aguardada e necessária requalificação de fundo da Avenida da Liberdade, uma obra prometida para quando ficasse concluída a construção do túnel de drenagem.
Essa requalificação de fundo da Avenida prometia a redução do estacionamento à superfície nas laterais em benefício de um alargamento de passeios e da criação de duas ciclovias unidireccionais, uma de cada lado da avenida. Prometia também algumas alterações na via central, com a criação de ilhas de espera para peões, bem como a repavimentação e regularização dos pavimentos de todo o eixo, com o nivelamento do canal rodoviário (em alguns pontos, o piso encontra-se bastante ondulado). O projecto de requalificação foi levemente apresentado no âmbito da ZER ABC, iniciativa que previa a constituição de uma Zona de Emissões Reduzidas (ZER) no centro histórico da cidade, com menos carros, menos poluição e mais espaço para pessoas.