But why are we widening the IC20?

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Does it make sense to continue widening roads, such as the IC20 in Almada? How can a civic structure participate or act in interventions in its locality or region? This article aims to contribute to scientific and public knowledge about the management and decision-making process surrounding the IC20 intervention.

Alargamento do IC20, em Almada (fotografia LPP)

O grande desafio global das prรณximas dรฉcadas passa por reduzir as emissรตes de gases com efeito de estufa (GEE) e atingir a neutralidade carbรณnica. Representando os transportes cerca de 25% destas emissรตes, este sector tem um papel crucial nessa transiรงรฃo mas, ainda assim, as emissรตes estรฃo a aumentar. O desenvolvimento da mobilidade sustentรกvel constitui um dos principais desafios para as cidades do futuro, e inclui vรกrias componentes e dimensรตes: sistemas de transportes pรบblicos sustentรกveis, eficientes do ponto de vista energรฉtico e a preรงos acessรญveis; um ambiente favorรกvel a meios de transporte nรฃo motorizados; fรกcil acesso a todos os bairros, a pรฉ, de bicicleta e de transportes pรบblicos; redes de transportes locais que devem ter uma boa ligaรงรฃo ร s redes regionais; redes periurbanas devem ser planeadas no contexto global de gestรฃo dos solos e desenvolvimento territorial; interfaces de transportes devem ter uma boa integraรงรฃo com as atividades sociais, culturais, econรณmicas e de lazer (European Commission, 2012).

Em Setembro de 2023, foi anunciada em reuniรฃo da Cรขmara Municipal de Almada a obra de alargamento do Itinerรกrio Complementar nยบ 20 (ou IC20), de trรชs para quatro vias por sentido, num troรงo de distรขncia de cerca de quatro quilรณmetros. A obra arrancou pouco depois, em Outubro, e deverรก durar atรฉ Maio de 2025. Esta intervenรงรฃo pretende dar resposta ao excessivo congestionamento existente na zona. No entanto, a obra foi rapidamente alvo de contestaรงรฃo pรบblica, por poder contrariar a estratรฉgia climรกtica nacional, que vincula Portugal a reduzir as emissรตes de GEE. Sabe-se que quando a capacidade rodoviรกria de uma estrada รฉ expandida, mais condutores automรณveis irรฃo utilizar essa estrada. Apesar das fortes evidรชncias, o efeito de โ€œtrรกfego induzidoโ€ รฉ frequentemente ignorado, subestimado ou mal estimado no processo de planeamento, particularmente na avaliaรงรฃo dos impactos ambientais das expansรตes da capacidade rodoviรกria (Volker, Lee & Handy, 2020). Na verdade, ainda que o mote do alargamento do IC20 seja a reduรงรฃo do congestionamento que se verifica diariamente, a teoria do โ€œtrรกfego induzidoโ€ sugere que aumentar a capacidade rodoviรกria leva a mais trรกfego e emissรตes, anulando a reduรงรฃo de curto prazo no congestionamento.

Neste artigo, analisamos a problemรกtica do alargamento da estrada IC20 no contexto dos esforรงos globais para reduzir as emissรตes de gases com efeito de estufa e promover uma mobilidade mais sustentรกvel. Salientamos a necessidade de reconsiderar os projetos de alargamento de estradas como esta, considerando em alternativa projectos que criem alternativas ao transporte individual, nomeadamente a expansรฃo do transporte pรบblico e a melhoria das infraestruturas ciclรกveis e pedonais. Falamos ainda do efeito reduzido que tem a utilizaรงรฃo de petiรงรตes enquanto meio de intervenรงรฃo cรญvico, cujos resultados nรฃo sรฃo possรญveis de alcanรงar num contexto em que existe falta de transparรชncia e informaรงรฃo em relaรงรฃo ร s intervenรงรตes territoriais existentes, sendo necessรกrios meios mais eficazes de participaรงรฃo. Sugerimos, em jeito de conclusรฃo, a revisรฃo dos contratos de subconcessรฃo nas parcerias pรบblico-privadas de gestรฃo rodoviรกria, de modo a priorizar alternativas de transporte sustentรกveis em vez de expansรตes rodoviรกrias.

O que diz a ciรชncia?


Alargamento do IC20, em Almada (fotografia LPP)

Muitas estradas em รกreas urbanas sofrem com problemas de congestionamento, o que reduz a mobilidade automรณvel, impondo tempos de viagem mais longos a condutores destes veรญculos. Em resposta a este problema, muitas cidades optam por expandir a sua infraestrutura rodoviรกria atravรฉs da construรงรฃo de vias adicionais (Krol, 2019). Combater este problema รฉ um desafio complexo, dado que os padrรตes de viagem quotidianos sรฃo repetitivos (Loder et al., 2019).

A expansรฃo da capacidade rodoviรกria รฉ frequentemente proposta como uma soluรงรฃo para terminar com o congestionamento do trรกfego e atรฉ como uma forma de reduzir as emissรตes de gases com efeito de estufa (GEE), causado nomeadamente pelo trรกfego pรกra-arranca. A lรณgica desta teoria seria de que o aumento da capacidade das estradas aumenta a velocidade mรฉdia dos veรญculos, o que melhora a eficiรชncia do combustรญvel dos veรญculos e reduz as emissรตes de GEE nas distรขncias percorridas (Handy & Boarnet, 2014; Volker, Lee & Handy, 2020).

O aumento da capacidade rodoviรกria pode temporariamente, melhorar o bem-estar da comunidade (Krol 2019). Ainda assim, Frumkin (2002) evidencia alguns problemas directos da dependรชncia automรณvel, como a poluiรงรฃo do ar, reduรงรฃo da actividade fรญsica, sinistros rodoviรกrios, quer entre automรณveis, quer causando fatalidades com peรตes. Importa ainda referir que os padrรตes de mobilidade, o uso do automรณvel e a gestรฃo do territรณrio estรฃo relacionados. Se houver maior disponibilidade de rodovia do que passeios ou ciclovias, as pessoas irรฃo preferir usar o automรณvel.

De acordo com Volker, Lee & Handy (2020), a teoria do aumento da capacidade rodoviรกria defende ainda que se reduz o custo do tempo de viagem, dado que se reduz o congestionamento do trรกfego. No entanto, quando o custo efetivo da conduรงรฃo automรณvel diminui, pelo aumento da velocidade mรฉdia, o volume de conduรงรฃo aumenta. Abordando a questรฃo ร  luz da economia, a expansรฃo da capacidade equivale a uma mudanรงa na curva de oferta, conduzindo a um novo equilรญbrio com custos mais baixos e um maior volume de conduรงรฃo. A nova capacidade promove viagens adicionais ou โ€œviagens induzidasโ€, acabando por devolver o congestionamento aos nรญveis anteriores ร  expansรฃo (Figura 1).

Figura 1. Lรณgica tradicional de expansรฃo da capacidade rodoviรกria vs. efeito de viagens induzidas pela expansรฃo da capacidade rodoviรกria. Fonte: adaptado de Volker, Lee & Handy, 2020.

As capacidades rodoviรกrias adicionais sรฃo rapidamente consumidas pela procura induzida, explicada por diversos factores, como a alteraรงรฃo de hรกbitos: mudanรงas de modos de viagem nรฃo motorizados para automรณvel, mudanรงas nos destinos e nas rotas de conduรงรฃo, aumento de viagens novas, quer a nรญvel individual como comercial. O congestionamento do trรกfego atรฉ tende a manter um certo equilรญbrio, em que os atrasos nas viagens limitam a sua utilizaรงรฃo nos perรญodos de horas de ponta. Com o aumento da capacidade, a menos que as estradas sejam geridas de modo a favorecer modos de transporte eficientes, como autocarros, as pessoas irรฃo escolher viajar sozinhas, aumentando o atraso total no congestionamento (Curiel, et al. 2021 cit. por Litman, 2024). A longo prazo, pode ainda levar a mudanรงas nas decisรตes de localizaรงรฃo da habitaรงรฃo e do emprego, que aumentam as distรขncias de viagem. Ainda, um aumento na populaรงรฃo e nos empregos, representa uma mudanรงa na curva da procura, aumentando ainda mais as viagens (Loder et al., 2019; Volker, Lee & Handy, 2020).

O efeito de trรกfego automรณvel induzido (Figura 2) รฉ amplamente conhecido (Duranton & Turner, 2011; Handy & Boarnet, 2014; Hymel, 2019; Krol, 2019; Wood, 1994), tem vindo a ser abordado hรก pelo menos 60 anos e รฉ objecto de estudo hรก pelo menos 50 anos (Volker, Lee & Handy, 2020).

Figura 2. Efeito de trรกfego automรณvel induzido pelo aumento da capacidade rodoviรกria. Fonte: adaptado de Litman, 2001 cit. por Litman 2024.

Ainda assim, como referem Volker, Lee & Handy (2020), o fenรณmeno das viagens induzidas muitas vezes nรฃo รฉ incluรญdo no processo de planeamento ou na avaliaรงรฃo dos impactos ambientais das expansรตes de rodovias. Subestimar as viagens induzidas geralmente levarรก ร  superestimaรงรฃo dos benefรญcios do alรญvio do congestionamento do trรกfego que um projeto de expansรฃo da rodovia pode gerar, juntamente com a subestimaรงรฃo dos seus impactos ambientais. Hymel (2019) sugere ainda que o alรญvio temporรกrio do congestionamento resultante da expansรฃo da capacidade rodoviรกria desaparece cinco anos apรณs a expansรฃo.

Acresce ainda a existรชncia de bottlenecks, ou situaรงรตes de estrangulamento rodoviรกrio em que um segmento de rota relativamente curto tem uma capacidade fixa substancialmente menor relativamente ร  procura de trรกfego do que a dos troรงos anteriores ou seguintes (Vickrey, 1969). Loder et al. (2019) mencionam tambรฉm que o ponto crรญtico do sistema de trรกfego estรก localizado entre os estados de fluxo livre de automรณveis e o congestionamento e a fronteira da possรญvel produรงรฃo de viagens (cruzamentos maiores, mudanรงas de faixa, etc). Havendo uma relaรงรฃo entre o tamanho da rede e a acumulaรงรฃo crรญtica, sรฃo novamente enfatizados os retornos marginais decrescentes do investimento em infraestrutura. Esta compreensรฃo da capacidade de trรกfego das redes urbanas pode nรฃo resolver os problemas de congestionamento, mas รฉ crucial para o desenvolvimento de novas estratรฉgias para melhorar o trรกfego.

No IC20, pode-se considerar que existem duas grandes pontos de acumulaรงรฃo crรญtica, ou bottlenecks, o principal no acesso ร  Ponte 25 de Abril e o outro na entrada para a Costa da Caparica (Joanaz de Melo, 2023).

Litman (2013) refere que para identificar as melhores estratรฉgias de reduรงรฃo do congestionamento, รฉ importante utilizar uma avaliaรงรฃo abrangente e multimodal, para ir ao encontro de diversos objectivos e maximizar os benefรญcios gerais. Algumas estratรฉgias vantajosas incluem melhorias nos modos eficientes em termos de recursos, como o pedonal, a bicicleta e os transportes pรบblicos (Tabela 1), pois nรฃo sรณ reduzem o congestionamento do trรกfego, como tambรฉm podem ajudar a reduzir problemas de estacionamento, o risco de sinistros e aumenta o nรญvel de actividade fรญsica.

Pedestrian MobilityMobilidade em bicicletaPublic Transportation
โ€“ Mais caminhos, calรงadas e vias pedonais;
โ€“ Reduรงรฃo da velocidade do trรกfego rodoviรกrio;
โ€“ Mais seguranรงa rodoviรกria e protecรงรฃo pedonal;
โ€“ Melhor sinalizaรงรฃo dos percursos;
โ€“ Design universal, para que os caminhos pedestres possam ser utilizados por pessoas de mobilidade reduzida;
โ€“ Melhor conectividade pedonal;
โ€“ Desenvolvimento urbano mais compacto e misto para que mais serviรงos estejam a uma curta distรขncia pedonal.
โ€“ Mais caminhos ciclรกveis e ciclovias;
โ€“ Reduรงรตes de velocidade de trรกfego rodoviรกrio;
โ€“ Maior seguranรงa rodoviรกria e protecรงรฃo de ciclistas;
โ€“ Melhor sinalizaรงรฃo dos percursos;
โ€“ Estacionamento para bicicletas;
โ€“ Apoios e subsรญdios para aquisiรงรฃo de bicicletas e equipamentos de seguranรงa;
โ€“ Programas de capacitaรงรฃo para a prรกtica de ciclismo;
โ€“ Autocarros com bicicletรกrios;
โ€“ Desenvolvimento urbano mais compacto e misto para que mais serviรงos estejam a uma curta distรขncia de bicicleta.
โ€“ Mais rotas;
โ€“ Atendimento mais rรกpido e frequente;
โ€“ Vias segregadas para BUS;
โ€“ Veรญculos e estaรงรตes mais agradรกveis, incluindo nos acessos;
โ€“ Informaรงรตes aprimoradas para utilizadores/as;
โ€“ Mais seguranรงa e protecรงรฃo, principalmente utilizadores/as vulnerรกveis;
โ€“ Tarifas reduzidas e sistemas de pagamento mais convenientes;
โ€“ Melhor marketing;
โ€“ Design universal, para que os serviรงos de transporte pรบblico acomodem pessoas com mobilidade reduzida.
Tabela 1. Medidas alternativas ao aumento da capacidade rodoviรกria. Fonte: adaptado de Litman, 2013.

A aposta em modos alternativos pode reduzir, mas nรฃo eliminar o congestionamento (Duranton & Turner, 2011; Litman, 2013). Ainda assim, Krol (2019) e Litman (2013) sugerem que as reformas no preรงo dos transportes podem reduzi-lo significativamente, como exemplo os sistemas de cobranรงa variรกvel. Estes sistemas cobram a passagem por automรณveis, com uma taxa mais alta para uso quando existe congestionamento. Nos locais onde foram utilizadas portagens variรกveis, estas demonstraram ser uma ferramenta eficiente para gerir os fluxos de trรกfego.

Para alรฉm dos ganhos em eficiรชncia do transporte pรบblico, dado que movimenta mais pessoas com menos espaรงo e energia, e dos ganhos ambientais, pela reduรงรฃo de emissรตes de GEE, importa ainda referir os ganhos sociais. Lucas (2012) argumenta que sรฃo necessรกrias mรฉtricas para estabelecer o nรญvel mรญnimo de transporte pรบblico necessรกrios para a inclusรฃo social, dadas certas distรขncias, densidades, nรญveis de serviรงos. Para tal, a inclusรฃo social tem de ser um resultado definido nos contratos de serviรงos com operadores de transportes pรบblicos. Se forem devidamente concebidos e fornecidos, os transportes pรบblicos podem constituir uma parte desta soluรงรฃo de exclusรฃo social e territorial. Os transportes e a exclusรฃo social nunca poderรฃo sobreviver como uma agenda exclusivamente centrada nos transportes. O planeamento da acessibilidade dos transportes pรบblicos deve ser integrado com polรญticas e programas socialmente responsรกveis de uso do solo, habitaรงรฃo, saรบde, educaรงรฃo e bem-estar. Da mesma forma, os grandes projectos de infraestruturas de transportes precisam de ser mais transparentes nas suas anรกlises ex ante para considerar os seus efeitos de equidade social a longo prazo nas populaรงรตes e comunidades locais (Lucas, 2012).

O que diz a polรญtica?


Estaleiro da obra (fotografia LPP)

O caso do IC20 pode parecer especรญfico de Almada, mas estรก inserido em um contexto nacional e europeu de polรญticas ambientais e de mobilidade. A seguir, sรฃo apresentadas algumas polรญticas e estratรฉgias globais e nacionais relacionadas aos compromissos territoriais e ambientais.

Comeรงando pela Carta Europeia do Ordenamento do Territรณrio. Adoptada em 1983, consiste num documento que esclarece a noรงรฃo de ordenamento do territรณrio na sua dimensรฃo europeia, democrรกtica, global, funcional e prospectiva. Define como objectivos fundamentais do ordenamento do territรณrio: o desenvolvimento socioeconรณmico equilibrado das regiรตes, a melhoria da qualidade de vida, a gestรฃo responsรกvel dos recursos naturais e a protecรงรฃo do ambiente, a utilizaรงรฃo racional do territรณrio. Neste documento, รฉ ainda prevista a participaรงรฃo pรบblica activa nas polรญticas de planeamento: โ€œร‰ essencial que o cidadรฃo seja informado de forma clara e abrangente em todas as fases do processo de planeamento e no quadro das estruturas e procedimentos institucionaisโ€.

Por seu lado, o documento Cities of Tomorrow, publicado pela Comissรฃo Europeia em 2012, sugere que uma cidade sustentรกvel deve ter espaรงos pรบblicos ao ar livre atrativos e promover uma mobilidade sustentรกvel, inclusiva e saudรกvel, sendo que a mobilidade nรฃo motorizada deverรก ser mais apelativa e os transportes pรบblicos multimodais devem ser favorecidos. O Acordo de Paris, um tratado internacional de 2015 sobre mudanรงas climรกticas, estabelece o compromisso global de alcanรงar a neutralidade de carbono atรฉ 2050 e limitar o aquecimento global a menos de 2ยบC, preferencialmente a 1,5ยบC, em comparaรงรฃo com os nรญveis prรฉ-industriais. Isso exige uma progressiva descarbonizaรงรฃo da economia, com os transportes desempenhando um papel crucial.

A mobilidade sustentรกvel estรก ainda alinhada com a Agenda 2030 e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentรกvel (ODS), adoptados em Setembro de 2015 pela Organizaรงรฃo das Naรงรตes Unidas. Em cima da mesa, estรฃo trรชs ODS:

  • “Saรบde de qualidade”, em que se propunha, atรฉ 2020, “reduzir para metade, a nรญvel global, o nรบmero de mortos e feridos devido a acidentes rodoviรกrios”. No entanto, de acordo com o INE (2022), o nรบmero de mortes em Portugal devido a acidentes rodoviรกrios em 2020 foi de 5,7, mais baixo do que em 2015 (6,9). Estando a diminuir, nรฃo foi, ainda, reduzido para metade, e por isso considera-se que a meta nรฃo foi alcanรงada;
  • “Cidades e comunidades sustentรกveis”, em que se propรตem, atรฉ 2030, “proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessรญveis, sustentรกveis e a preรงo acessรญvel para todos, melhorando a seguranรงa rodoviรกria atravรฉs da expansรฃo da rede de transportes pรบblicos” and yet “reduzir o impacto ambiental negativo per capita nas cidades, inclusive prestando especial atenรงรฃo ร  qualidade do ar, gestรฃo de resรญduos municipais e outros”. De acordo com o INE (2022), a concentraรงรฃo mรฉdia anual de partรญculas PM2,5 ainda nรฃo alcanรงou as metas desejรกveis em Portugal.
  • “Acรงรฃo climรกtica”, em que se propรตe “integrar medidas relacionadas com alteraรงรตes climรกticas nas polรญticas, estratรฉgias e planos nacionais”. Segundo o INE (2022), em 2020, houve um decrรฉscimo de 9,5% das emissรตes de GEE face ao ano anterior (-5,4%) e um decrรฉscimo de 1,5% face a 1990. Este decrรฉscimo mais acentuado das emissรตes de GEE em 2020 foi promovido pela alteraรงรฃo de hรกbitos durante a pandemia Covid-19. Relativamente a 2005, as estimativas de emissรตes apontam para um decrรฉscimo de 32,9%, longe ainda da meta nacional de reduรงรฃo dos GEE de 45% a 55% atรฉ 2030.

Ao mesmo tempo, a Nova Agenda Urbana da Conferรชncia das Naรงรตes Unidas de 2016, constitui um conjunto de princรญpios e compromissos polรญticos, a nรญvel internacional, e ao nรญvel da mobilidade, destaca-se o compromisso com a promoรงรฃo da mobilidade urbana e sistemas de transportes seguros, com especial atenรงรฃo a questรตes etรกrias e de gรฉnero, acessรญveis e sustentรกveis, pela integraรงรฃo de planos de mobilidade e de transportes em planos urbanรญsticos e territoriais gerais e a promoรงรฃo de uma ampla gama de opรงรตes de transporte e mobilidade, atravรฉs de medidas como:

  • aumentando as infraestruturas acessรญveis, seguras, eficientes, viรกveis e sustentรกveis para o transporte pรบblico, bem como de mobilidade pedonal e ciclรกvel, priorizando-as relativamente ao transporte motorizado privado;
  • planeamento do sistema de transportes e uso e ocupaรงรฃo do solo melhor e mais coordenados, de modo a reduzir as necessidades de viagens e de transporte; aumentando a conectividade entre รกreas urbanas, periurbanas e rurais;
  • planeamento do transporte urbano de cargas e logรญstica que permita um acesso eficiente a produtos e serviรงos, minimizando o impacto no ambiente e na habitabilidade da cidade e maximizando a sua contribuiรงรฃo para o crescimento econรณmico contรญnuo, inclusivo e sustentรกvel.

The European Ecological Pact (European Green Deal), lanรงado em 2019, รฉ a principal estratรฉgia da Uniรฃo Europeia (UE) para implementar os ODS e cumprir os compromissos do Acordo de Paris. Aqui, alcanรงar a sustentabilidade dos transportes significa colocar as pessoas em primeiro lugar e proporcionar-lhes alternativas mais baratas, acessรญveis, saudรกveis e limpas, do que os seus actuais hรกbitos de mobilidade. Esta polรญtica tem como objectivos globais reduzir as emissรตes de GEE em 90% atรฉ 2050, em relaรงรฃo a valores de 1990, e tornar a UE com impacto neutro no clima em 2050.

Finally, the Estratรฉgia de Mobilidade Sustentรกvel e Inteligente, lanรงada pela Comissรฃo Europeia em 2020, durante a pandemia Covid-19, รฉ referido que se deve garantir que os sistemas de transportes sejam resilientes contra futuras crises e que tornar a mobilidade mais ecolรณgica deve constituir a nova viabilidade que permita o crescimento do sector dos transportes. Atรฉ 2030, 100 cidades europeias deverรฃo ter impacto neutro no clima. Lisboa รฉ uma delas.

A nรญvel nacional, existem polรญticas como o Roteiro para a Neutralidade Carbรณnica 2050, aprovado em 2019 pelo Governo de Antรณnio Costa (PS), ou o Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC), aprovado um ano depois pelo mesmo Executivo socialista, estabelecem que atรฉ 2030 as emissรตes de GEE em Portugal terรฃo de ser reduzidas em 45% a 55%. Em 2021, surge a Basic Climate Law que reconhece a situaรงรฃo de emergรชncia climรกtica e define como metas de reduรงรฃo de GEE (em relaรงรฃo aos valores de 2005): atรฉ 2030: uma reduรงรฃo de, pelo menos, 55%; atรฉ 2040: uma reduรงรฃo de, pelo menos, 65-75%; atรฉ 2050: uma reduรงรฃo de, pelo menos, 90%.

Em 2019, foi aprovada pelo Governo a National Strategy for Active Cycling Mobility (ENMAC) para o perรญodo 2020-2030. Num paรญs onde a maioria da populaรงรฃo ainda utiliza o carro prรณprio para a maioria dos seus percursos propรตe-se uma aรงรฃo governamental nacional para alteraรงรฃo do paradigma da mobilidade, assenta em trรชs grandes pressupostos: a promoรงรฃo do transporte pรบblico, a electrificaรงรฃo dos veรญculos e a transferรชncia de utilizadores para modos de deslocaรงรฃo mais sustentรกveis e activos. ร‰ proposto maximizar os benefรญcios para a saรบde das populaรงรตes, retirar automรณveis das ruas, devolver o espaรงo pรบblico, aliviar o congestionamento urbano, baixar os nรญveis de ruรญdo e reduzir a poluiรงรฃo atmosfรฉrica. Tem como metas:

  • atรฉ 2025, uma quota modal de viagens em bicicleta no territรณrio nacional de 3% e 4% nas cidades, uma extensรฃo total de infraestruturas ciclรกveis de 5 mil km, e uma reduรงรฃo da sinistralidade rodoviรกria de ciclistas em 25%;
  • atรฉ 2030, uma quota modal de viagens em bicicleta no territรณrio nacional de 7,5% e nas cidades de 10%, uma extensรฃo total de infraestruturas ciclรกveis de 10 mil km, e uma reduรงรฃo da sinistralidade rodoviรกria de ciclistas em 50%.

Por รบltimo, em 2023, รฉ lanรงada a National Strategy for Active Pedestrian Mobility (ENMAP) para 2030, que pretende alterar os padrรตes de mobilidade, tendo como meta alterar a quota modal das deslocaรงรตes pedonais, de 16% em 2021, para 25% em 2026 e 35% para 2030.

Como vimos, o alargamento do IC20 nรฃo pode ser visto desligado do seu contexto nacional e europeu, em particular de uma sรฉrie de compromissos e metas definidos. Mas olhemos agora com maior detalhe para a inserรงรฃo desta via rรกpida no concelho de Almada.

Como รฉ que o IC20 se insere no territรณrio de Almada?


Casas em redor do IC20 (fotografia LPP)

Tratando-se de uma importante infraestrutura rodoviรกria com cerca de sete quilรณmetros, trรชs vias por sentido sentido na maior parte do percurso, a funcionar num modelo sem portagens, o IC20 รฉ propriedade da Infraestruturas de Portugal (IP), estando subconcessionada ร  Auto-Estradas do Baixo Tejo (AEBT), num modelo de Parceria Pรบblico-Privada (PPP). O contrato de concessรฃo da IP com a AEBT refere que รฉ necessรกrio esta proceder ao aumento de vias, quando รฉ ultrapassado um determinado valor de trรกfego mรฉdio diรกrio anual, no caso 60 mil veรญculos. Por isso motivo, e por nรฃo ter existido instruรงรฃo em contrรกrio da IP, a AEBT estรก a realizar a presente obra de alargamento.

Esse alargamento farรก com que o IC20 passe a ter uma largura de 34,6 metros em vez dos actuais 25 metros naquele troรงo de quatro quilรณmetros. Paralelamente, serรฃo feitas outras intervenรงรตes, como melhoria dos acessos, estando essas programadas de forma faseada. Nรฃo tendo, atรฉ ร  data, sido dada nenhuma instruรงรฃo em contrรกrio ร  realizaรงรฃo desta obra pela IP, a obra de alargamento do IC20 encontra-se a decorrer de acordo com o cronograma anunciado, a cargo da AEBT.

O IC20 รฉ uma via rรกpida que faz a ligaรงรฃo no concelho de Almada entre a Costa da Caparica e o centro de Almada, e permite ainda a ligaรงรฃo aos concelhos limรญtrofes, Lisboa e Seixal, assumindo relevรขncia a nรญvel regional. Pela sua localizaรงรฃo, permite o acesso rodoviรกrio a diversos equipamentos de relevo e utilidade pรบblica, como o Hospital Garcia de Orta, a Faculdade de Ciรชncias e Tecnologias da Universidade de Lisboa (FCT/UNL), a superfรญcie comercial Almada Fรณrum, ou mesmo as praias da Caparica (Figura 4).

Figura 4. Localizaรงรฃo do IC20, obra de alargamento, principais transportes pรบblicos e pontos de relevo. Fonte: autoria prรณpria, com mapa do Google Earth (2024).

Fazendo tambรฉm um enquadramento do ao nรญvel da restante rede de public transport existentes em Almada, referem-se:

  • Serviรงo de transporte fluvial pela Transtejo Soflusa (TTSL), com estaรงรตes fluviais em 3 locais do concelho de Almada, que permitem a ligaรงรฃo a Lisboa e a outros concelhos da Margem Sul do Tejo: Cacilhas, Trafaria e Porto Brandรฃo;
  • Serviรงo de ferrovia pela Fertagus, inaugurada em 1999 que liga Setรบbal a Lisboa, e com apenas uma estaรงรฃo em Almada, localizada no Pragal;
  • Serviรงo de ferrovia ligeira de superfรญcie, Metro Transportes do Sul (MTS), em funcionamento desde 2007, que faz actualmente a ligaรงรฃo entre Cacilhas, ร  FCT/UNL no Monte da Caparica e a Corroios, jรก no concelho do Seixal;
  • Serviรงo de buses da Carris Metropolitana, gerido actualmente pela Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), que desde 2019 estรก inserido no passe navegante metropolitano que serve toda a รกrea metropolitana de Lisboa.

Relativamente ao transporte pรบblico rodoviรกrio, utilizam o IC20, seis linhas da Carris Metropolitana, da TML, e mais quatro linhas apenas durante o Verรฃo. Nestes, existem mais de sete mil viagens validadas num dia รบtil (Tabela 3). Nรฃo existem, actualmente, mais transportes pรบblicos de acesso ร  Costa da Caparica, para alรฉm do autocarro.

lineRouteValidaรงรตes a 10/04/2023Validaรงรตes a 10/07/2023
2650Cidade Nova โ€“ Costa da Caparica-29
2651Bucelas โ€“ Costa da Caparica-24
2652Costa da Caparica – Forte da Casa-28
2850Costa da Caparica โ€“ Pรณvoa de Santo Adriรฃo-45
3011Cacilhas โ€“ Costa da Caparica1 6762 023
3025Pragal โ€“ Costa da Caparica1 323361
3705Charneca da Caparica โ€“ Lisboa (Sete Rios)620754
3709Lisboa (Marquรชs) โ€“ Costa da Caparica295384
3710Lisboa (Areeiro) โ€“ Costa da Caparica3 4434 141
3711Monte da Caparica (FCT) โ€“ Lisboa (Sete Rios)7741
Total7 4347 830
Tabela 3. Autocarros da Carris Metropolitana que percorrem o IC20 e utilizaรงรฃo diรกria. Fonte: dados obtidos no dia 14/06/2024 atravรฉs da Transportes Metropolitanos de Lisboa, 2024.

Os Censos de 2021 (Pordata, 2024) revelam que a populaรงรฃo de Almada que se desloca de carro nas deslocaรงรตes quotidianas (casa-trabalho ou casa-escola) tem vindo a aumentar nas รบltimas dรฉcadas, a populaรงรฃo que utiliza o autocarro tem vindo a diminuir, de comboio e metro com um ligeiro aumento, hรก menos pessoas a andar a pรฉ, e as bicicletas/motas detรฉm um valor irrisรณrio, face aos restantes meios de transporte (Figura 5). Metade da populaรงรฃo de Almada (50,2%) utiliza o automรณvel nas suas deslocaรงรตes quotidianas, revelando uma possรญvel falta de alternativas viรกveis.

Figura 5. Meios de transporte mais utilizados em Almada. Fonte: autoria prรณpria, com base em Pordata (2024).

O que dizem os instrumentos legais e de gestรฃo territorial?


Foram consultados 13 documentos, dos quais legislaรงรฃo, instrumentos de gestรฃo territorial e outros planos, e da qual se farรก de seguida uma breve anรกlise em relaรงรฃo ao caso do IC20.

A Basic Climate Law, aprovada em 2021, define as bases da polรญtica do clima de Portugal. De ressaltar os seguintes aspectos:

  • Todas as pessoas tรชm direito ao equilรญbrio climรกtico e o poder de exigir de entidades competentes o cumprimento dos deveres e das obrigaรงรตes a que se encontram vinculadas em matรฉria climรกtica (ponto 1, artigo 5.ยบ);
  • Todas as pessoas podem intervir e participar nos procedimentos administrativos e, ainda, pedir a cessaรงรฃo de imediata de actividade prejudicial ao equilรญbrio climรกtico (artigo 6.ยบ);
  • Os municรญpios aprovam, em assembleia municipal, atรฉ Fevereiro de 2024, um plano municipal de aรงรฃo climรกtica (ponto 2, artigo 14.ยบ) e desenvolvem planos de mobilidade urbana sustentรกvel (ponto 4, artigo 47.ยบ), os quais, Almada ainda nรฃo tem.

A Lei de Bases Gerais da Polรญtica Pรบblica de Solos, de Ordenamento do Territรณrio e de Urbanismo, de 2024, tem como objecto estabelecer as bases gerais da polรญtica pรบblica de solos, de ordenamento do territรณrio e de urbanismo. De destacar:

  • Todas as pessoas tรชm o direito a um ordenamento do territรณrio racional, proporcional e equilibrado, com igualdade de acesso ร s infraestruturas (artigos 2.ยบ e 5.ยบ);
  • Todas as pessoas tรชm o direito de intervir e participar nos procedimentos administrativos relativos ao solo, ordenamento do territรณrio e urbanismo, nomeadamente na participaรงรฃo efectiva nos procedimentos, atravรฉs da apresentaรงรฃo de propostas, sugestรตes e reclamaรงรตes, bem como o direito a obter uma resposta fundamentada da administraรงรฃo nos termos da lei, e, ainda, o direito de acesso ร  informaรงรฃo de que as entidades pรบblicas disponham e aos documentos que integram os procedimentos referidos na alรญnea anterior (artigo 6.ยบ).

O Regime Jurรญdico dos Instrumentos de Gestรฃo Territorial (RJIGT), tambรฉm de 2024, define o regime de coordenaรงรฃo do sistema de gestรฃo territorial, o regime geral de uso do solo e o regime de elaboraรงรฃo, aprovaรงรฃo, execuรงรฃo e avaliaรงรฃo dos instrumentos de gestรฃo territorial. Aqui, importa referir questรตes sobre sustentabilidade ambiental, dos sistemas de mobilidade e do dever de regulamentar:

  • Os programas e os planos territoriais asseguram a harmonizaรงรฃo dos vรกrios interesses pรบblicos com expressรฃo territorial, assegurando qualidade de vida e um equilibrado desenvolvimento socioeconรณmico ร s geraรงรตes presentes e futuras (ponto 2, artigo 8.ยบ);
  • O programa nacional da polรญtica de ordenamento do territรณrio, os programas regionais, os programas intermunicipais e os programas setoriais relevantes, definem os princรญpios e as diretrizes que concretizam as orientaรงรตes polรญticas, as redes de transporte e mobilidade (ponto 2, artigo 18.ยบ);
  • As competรชncias relativas aos programas regionais sรฃo exercidas pelas CCDR โ€“ comissรตes de coordenaรงรฃo e desenvolvimento regional (ponto 2, artigo 52.ยบ);
  • O plano diretor municipal define o quadro estratรฉgico de desenvolvimento territorial do municรญpio, sendo o instrumento de referรชncia para a elaboraรงรฃo dos demais planos municipais (ponto 5, artigo 27.ยบ).

O Programa Nacional da Polรญtica de Ordenamento do Territรณrio (PNPOT), de 2019, constitui um instrumento de desenvolvimento territorial de natureza estratรฉgica que estabelece as grandes opรงรตes com relevรขncia para a organizaรงรฃo do territรณrio nacional. A referir:

  • Transportes e mobilidade: promover a mobilidade metropolitana e interurbana, aumentando o nรญvel e qualidade da oferta de transportes pรบblicos e procura; reduรงรฃo do congestionamento do trรกfego e demais impactos sociais, econรณmicos e ambientais, nomeadamente as emissรตes do sistema de transportes (4.5.);
  • Promover a descarbonizaรงรฃo do setor dos transportes e o descongestionamento urbano, melhorando a oferta e qualidade dos transportes pรบblicos, e apostando em modos mais sustentรกveis de mobilidade coletiva ou individual (Objectivo operacional 5).

O Programa da Orla Costeira de Alcobaรงa-Cabo Espichel (POC-ACE), tambรฉm de 2019, aprova o plano que inclui a orla costeira da Costa da Caparica. Algumas notas a ter em consideraรงรฃo:

  • A vulnerabilidade da frente de mar da Costa da Caparica requer um planeamento urbanรญstico que considera as vulnerabilidades resultantes dos cenรกrios climรกticos de mรฉdio e longo prazo, respondendo nรฃo sรณ ร s necessidades atuais, como aos desafios futuros, nรฃo permitindo o agravamento da exposiรงรฃo aos riscos (4.2.6.);
  • Promover um modelo de mobilidade entre os aglomerados urbanos e as praias que privilegie os modos suaves e a intermodalidade, reduzindo o transporte individual sazonal (NG 14, n)).

Importa aqui considerar que, de acordo com Lemos & Antunes (2024), inscrito no Roteiro Nacional para a Adaptaรงรฃo 2100, Almada รฉ o municรญpio da รrea Metropolitana de Lisboa que terรก mais custos pela inaรงรฃo climรกtica, pela quantidade de edifรญcios e residentes vulnerรกveis ร s alteraรงรตes costeiras devido ร s alteraรงรตes climรกticas.

From Plano Estratรฉgico dos Transportes e Infraestruturas (PETI3+) para o perรญodo 2014-2020, um documento de 2015, importa referir:

  • Estรก incluรญda na visรฃo de longo prazo (2050) o objectivo: Uma oferta de serviรงos pรบblicos de transporte de passageiros a nรญvel local, regional e nacional que promova a migraรงรฃo do transporte individual para o transporte pรบblico, com qualidade, nรญveis de oferta e de serviรงo adequadas ร  satisfaรงรฃo das necessidades das populaรงรตes;
  • A Renegociaรงรฃo do contrato de concessรฃo do Metro Sul do Tejo e da Fertagus, assim como a Renegociaรงรฃo das PPP rodoviรกrias surgem identificadas como estando a ser realizadas, no ponto de situaรงรฃo. Ainda assim, nada รฉ referido sobre a expansรฃo do MTS, nem outra intervenรงรฃo maior em Almada.

O Plano Rodoviรกrio Nacional (PRN), de 1998, define a rede rodoviรกria nacional, constituรญda pelas redes fundamental e complementar. De notar:

  • The itinerรกrios complementares sรฃo as vias que, no contexto do plano rodoviรกrio nacional, estabelecem as ligaรงรตes de maior interesse regional (ponto 3, artigo 4.ยบ);
  • The estradas regionais asseguram uma ou vรกrias das seguintes funรงรตes: a) Desenvolvimento e serventia das zonas fronteiriรงas, costeiras e outras de interesse turรญstico; b) Ligaรงรฃo entre agrupamentos de concelhos constituindo unidades territoriais; c) Continuidade de estradas regionais nas mesmas condiรงรตes de circulaรงรฃo e seguranรงa (ponto 2, artigo 12.ยบ);
  • Em 2003, o lanรงo do IC 20 entre a Costa da Caparica e o IC 32 foi reclassificado como estrada regional 377-2, para um melhor enquadramento da realidade existente (DL 182/2003).

On Estatuto das Estradas da Rede Rodoviรกria Nacional, uma lei de 2015, รฉ referido que nos ICs a รกrea nรฃo edificada รฉ de 35 metros para cada lado do eixo da estrada e nunca a menos de 15 metros da zona da estrada (ponto 8, artigo 32.ยบ).

From Plano Regional de Ordenamento do Territรณrio (PROT) da รrea Metropolitana de Lisboa (AML), um documento de 2002, importa referir:

  • Prevรช-se a expansรฃo do Metro Sul do Tejo, ligando a Costa da Caparica (2ยชfase) ao Barreiro (3ยช fase) (pg.74);
  • Prevรช-se a expansรฃo da Rede Viรกria – IC20 – Prolongamento para Sul da Costa da Caparica atรฉ ao IC32 (pg.164);
  • ร‰ identificado que o padrรฃo de deslocaรงรตes รฉ caracterizado pelo recurso cada vez maior ao transporte individual (pg. 350);
  • O IC20 estรก identificado como das vias de maior volume de trรกfego, superando os 30.000 veรญculos por dia (TMD โ€“ Trรขnsito Mรฉdio Diรกrio) (pg.831).

Ainda que nรฃo tenha um vรญnculo legal, o Plano de Aรงรฃo de Mobilidade Urbana Sustentรกvel (PAMUS) AML, resulta da obrigatoriedade do Acordo de Parceria entre a Comissรฃo Europeia e o Governo Portuguรชs e dos Programas Operacionais para a elaboraรงรฃo de planos deste tipo, de modo a garantir uma estratรฉgia articulada regionalmente (รrea Metropolitana de Lisboa, 2019). De frisar no รขmbito deste plano:

  • A grande relevรขncia do IC20 em Almada โ€“ Costa da Caparica (pg. 38);
  • Prolongamento do MST ร  Costa da Caparica (pg. 115);
  • Estudo de viabilidade de linhas de elevada capacidade em sรญtio prรณprio (BRT โ€“ Bus Rapid Transit);
  • A Uniรฃo das Freguesias de Charneca da Caparica e Sobreda (Almada) registou um forte crescimento populacional no perรญodo 2001/2011, apresentando a taxa de motorizaรงรฃo mais elevada do concelho de Almada (474 veรญculos/1 000 habitantes) e uma quota de utilizaรงรฃo do transporte individual que ronda os 60% (pg. 117);
  • Aumentar a rede ciclรกvel de Almada, incluindo corredor para a Costa da Caparica (pg. 144).

Finalmente, o Plano Director Municipal (PDM) de Almada, de 2019, รฉ o principal documento de gestรฃo territorial do concelho de Almada. Deste documento, importa ressaltar:

  • The intervenรงรตes realizadas no territรณrio do PDM Almada estรฃo obrigadas ao regulamento (ponto 1, artigo 3.ยบ);
  • A faixa de protecรงรฃo de estradas do tipo IC รฉ de 70 metros de largura, medidos para cada lado da plataforma, para instalaรงรตes industriais, e com 50 metros de largura para usos habitacionais.

Analisando as plantas do PDM, observa-se que, ao longo do seu percurso, o IC20 estรก localizado em espaรงo canal, com excepรงรฃo de uma parcela em espaรงo de equipamento existente (Figura 6).

Figura 6. O IC20 inserido na planta de ordenamento do PDM Almada, em espaรงo canal, com excepรงรฃo de uma parcela, em espaรงo de equipamento existente.

No entanto, quando se analisa em maior detalhe, surgem algumas situaรงรตes em redor do IC20 em possรญvel conflito com o PDM (Figura 7). Observam-se quatro conjuntos habitacionais na zona Sul que nรฃo tรชm actualmente a salvaguarda de 50 metros do IC20 previstos no regulamento do IC20 (Figura 8), um conjunto de edificaรงรตes na zona Norte que, considerando a distรขncia do alargamento do IC20 (nove metros), ficarรฃo no limiar dos 50m de salvaguarda E surge ainda a situaรงรฃo de uma instituiรงรฃo de ensino superior que, actualmente nรฃo estando ร  distรขncia de salvaguarda, com o alargamento ficarรก ainda mais perto. Neste caso, caso se considerasse a distรขncia nรฃo edificada prevista no Estatuto das Estradas da Rede Rodoviรกria Nacional (35 metros), o alargamento nรฃo teria problema, no entanto, deverรก prevalecer a distรขncia que consta no PDM de Almada, logo a obra estaria em possรญvel violaรงรฃo do PDM. No cรกlculo das distรขncias, foi considerada a berma e nรฃo o eixo central da estrada, pela informaรงรฃo que consta no PDM de Almada.

Figura 7. Identificaรงรฃo de instituiรงรฃo de ensino superior, a Norte do IC20, em possรญvel conflito com o PDM. Distรขncias calculadas com alargamento: A โ€“ considerando o Estatuto das Estradas; B โ€“ considerando o PDM Almada a partir do eixo; C โ€“ considerando o PDM Almada a partir da berma (situaรงรฃo seis).

Pela situaรงรฃo estranha, foi feita uma maior investigaรงรฃo desta situaรงรฃo e percebeu-se que, para alรฉm deste edificado de ensino estar em servidรฃo rodoviรกria, no PDM, a 18/09/2023, por Despacho do Gabinete do Secretรกrio de Estado das Infraestruturas, foi declarada a โ€œutilidade pรบblica, com carรกter de urgรชncia, da expropriaรงรฃo dos bens imรณveis e direitos a eles inerentes necessรกrios ร  construรงรฃo da obra do ยซLanรงo IC20 โ€” Via Rรกpida da Caparicaโ€ (โ€ฆ) โ€œsendo que a urgรชncia das expropriaรงรตes se louva no interesse pรบblico de que a obra projetada seja executada o mais rapidamente possรญvelโ€. (Despacho n.ยบ 9568/2023, de 18/09), com adiรงรฃo de novas parcelas pelo Despacho n.ยบ 2069/2024, de 23/02, e adiรงรฃo de mais novas parcelas pelo Despacho n.ยบ 3616/2024, de 04/04.

Em relaรงรฃo ao ruรญdo, o IC20 surge das zonas do concelho em que existem maiores nรญveis de ruรญdo, quer em perรญodo diurno (Lden, maior que 70db(A)), quer em perรญodo nocturno (Ln maior que 60 dB(A)) (Figura 14).

Disponรญvel na internet, o Plano de Acรงรฃo para o Ruรญdo de Trรกfego no Lanรงo do IC20, um documento de 2016, revisto em 2020, prevรช medidas compensatรณrias de reduรงรฃo de ruรญdo, para as habitaรงรตes que estรฃo junto ao IC20. No entanto, no mesmo รฉ referido que, ao abrigo da Lei, o processo de consulta pรบblica do Plano foi anunciado em รณrgรฃos de comunicaรงรฃo social, e que esteve em consulta pรบblica de 20/08/2019 a 20/09/2019, nรฃo tendo sido foi rececionada qualquer participaรงรฃo (AEBT, 2020). Ora, apรณs pesquisa no principal portal de consulta pรบblica nacional, do portal de consultas pรบblicas da Infraestruturas de Portugal, ou mesmo do portal da Agรชncia Portuguesa do Ambiente, onde constam este tipo de planos, nรฃo foi possรญvel perceber onde o plano esteve em consulta pรบblica, por nรฃo haver nenhuma referรชncia disponรญvel.

De notar ainda que Portugal foi condenado pelo Tribunal de Justiรงa, Europeu, por incumprimento das obrigaรงรตes legais em termos de ruรญdo, nomeadamente por nรฃo ter elaborado planos de aรงรฃo a mais de 236 grandes eixos rodoviรกrios, onde se inclui o IC20 (Tribunal de Justiรงa da Uniรฃo Europeia, 2020).

Now what?


Obra em curso de alargamento do IC20 (fotografia LPP)

Tendo a obra de alargamento do IC20 sido anunciada em plena Semana Europeia da Mobilidade, uma iniciativa da Comissรฃo Europeia que decorre anualmente entre 16 e 22 de Setembro, organizada em Portugal pela Agรชncia Portuguesa do Ambiente (APA), rapidamente esta obra foi alvo de contestaรงรฃo pรบblica. Assim, no Dia Europeu sem Carros, a 22 de Setembro de 2023, foi lanรงada uma petiรงรฃo online, divulgada em alguns media locais e nacionais.

Petiรงรฃo IC20 (DR)

A โ€œPetiรงรฃo contra o alargamento do IC20โ€ foi criada por pessoas residentes em Almada, em conjunto com especialistas de mobilidade, foi apoiada por um colectivo local, Estuรกrio Colectivo, uma associaรงรฃo local, Centro de Arqueologia de Almada e sete associaรงรตes de รขmbito nacional das รกreas de ambiente, urbanismo e mobilidade sustentรกvel, nomeadamente, Estrada Viva, FPCUB โ€“ Federaรงรฃo Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, GEOTA โ€“ Grupo de Estudos de Ordenamento do Territรณrio e Ambiente, MUBi โ€“ Associaรงรฃo pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, Mulheres na Arquitectura, QUERCUS โ€“ Nรบcleo Regional de Setรบbal e The Future Design of Streets Association. Dirigida aos ministros das Infraestruturas e do Ambiente e Acรงรฃo Climรกtica, secretรกrios de estado das Infraestruturas e da Mobilidade Urbana, do XXIII Governo da Repรบblica Portuguesa, e ainda ร  Presidente da Comissรฃo de Coordenaรงรฃo e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) e Presidente da APA (Petiรงรฃo Pรบblica, 2023).

O Direito ร  Petiรงรฃo Pรบblica estรก consagrado na Lei n.ยบ 43/90, de 10 de agosto, com vรกrias alteraรงรตes, sendo que quando dirigidas ร  Assembleia da Repรบblica e com mais de 1000 assinaturas, as pessoas tรชm direito a que a petiรงรฃo seja publicada em Diรกrio da Assembleia da Repรบblica e com mais de 2500 assinaturas, tรชm direito a serem ouvidas em Comissรฃo competente (Assembleia da Repรบblica, 2020).

A petiรงรฃo contra a obra do IC20, que propรตe alternativas concretas para melhoria dos transportes pรบblicos e de mobilidade activa, recolheu mais de 2500 assinaturas em menos de um mรชs e foi submetida ร  Assembleia da Repรบblica no dia 18 de Outubro de 2023 para ser debatida em Comissรฃo Competente. No entanto, perante o debate do Orรงamento do Estado e tendo havido a demissรฃo do Primeiro-Ministro do XXIII Governo da Repรบblica Portuguesa no dia 7 de Novembro de 2023 , o grupo de peticionรกrios apenas foi recebido na Assembleia da Repรบblica no dia 19 de Dezembro de 2023, jรก as obras tinham iniciado.

Na audiรงรฃo da XV โ€“ Comissรฃo de Economia, Obras Pรบblicas, Planeamento e Habitaรงรฃo, eis a posiรงรฃo dos grupos parlamentares da Assembleia da Repรบblica:

  • Left Block, deputada Joana Mortรกgua: o projeto foi apresentado em Almada em reuniรฃo de Cรขmara como um โ€œfacto consumadoโ€, sem ouvir a comunidade. โ€œO acesso ร  Costa da Caparica รฉ o ex-libris de tudo o que nรฃo deve ser feito em termos de mobilidade no nosso paรญsโ€, afirmou. โ€œA Costa tem milhรตes de visitantes todos os anos para os quais nรฃo hรก uma alternativa de transporteโ€. Hรก uma sรฉrie de investimentos necessรกrios para melhorar a mobilidade e o acesso ร s praias. Contudo, neste contexto, โ€œo alargamento do IC20 รฉ o menos prioritรกrio. Depressa vamos atingir a nova capacidade porque nรฃo vรฃo ser criadas alternativasโ€ (Morais, 2023);
  • Partido Comunista Portuguรชs (PCP), deputado Bruno Dias: โ€œO alargamento de vias รฉ uma soluรงรฃo tipicamente admissรญvel, mas nรฃo aquiโ€, que โ€œvai agravar um ponto crรญtico, tanto na zona da Costa da Caparica como acesso ร  ponteโ€, argumentou. Defendeu ainda o fim das Parcerias Pรบblico-Privadas (PPP). โ€œEste tipo de concessรตes com contratos blindados prejudicam o interesse pรบblico e beneficiam o concessionรกrio privado. Este รฉ um exemplo concreto de um contrato ruinosoโ€ (Morais, 2023);
  • Partido Socialista (PS), deputada Fรกtima Correia Pinto: โ€œVamos avanรงar para um alargamento que nรฃo vai resolver o problemaโ€, questionando-se sobre โ€œquais as consequรชncias se o contrato com a concessionรกria nรฃo for cumpridoโ€ (Morais, 2023);
  • Partido Social Democrata (PSD), deputado Joรฃo Barbosa de Melo: confirmou os argumentos apresentados. Questionou dado que a obra jรก estava em andamento, o que se sugere para se repensar a soluรงรฃo (Morais, 2023).

Concluindo, todos os grupos parlamentares presentes na audiรงรฃo concordam que a obra de alargamento do IC20 nรฃo vai resolver o problema do congestionamento automรณvel no local, conforme relatรณrio final da audiรงรฃo.

Paralelamente, foram solicitadas reuniรตes aos grupos parlamentares da Assembleia da Repรบblica, ao ministro das Infraestruturas, ร  IP, ร  AEBT tendo sido apenas possรญvel realizar as reuniรตes:

  • 23/10/2024 com o Partido Left Block;
  • 14/12/2023 com o Partido Enough;
  • 09/04/2024 com o Vereador da Cรขmara Municipal de Almada com o Pelouro das Infraestruturas e Obras Municipais;
  • 29/04/2024 apresentaรงรฃo na Assembleia Municipal de Almada.

Neste artigo, foi apresentada alguma bibliografia cientรญfica que suporta que alargamentos rodoviรกrios nรฃo resolvem o problema do congestionamento, somente a curto prazo, sendo que a longo prazo se espera que provoque mais trรกfego, voltando aos nรญveis de congestionamento iniciais.

Existem diversas polรญticas e estratรฉgias de รขmbito internacional e nacional, que pretendem reduzir as emissรตes de GEE, apelando ร  transferรชncia de deslocaรงรตes em automรณvel individual para mobilidades sustentรกveis โ€“ a pรฉ, de bicicleta, de transportes pรบblicos. Ainda assim, a utilizaรงรฃo do automรณvel tem vindo a aumentar nas รบltimas dรฉcadas em Almada.

No caso da Costa da Caparica, existe a agravante de o territรณrio nรฃo possuir alternativas de ferrovia ou via ciclรกvel, que faรงam a ligaรงรฃo a Almada. Sendo a Costa da Caparica considerada um territรณrio vulnerรกvel, com risco agravado ร  exposiรงรฃo dos efeitos das alteraรงรตes climรกticas, como consta no POC-ACE e no Roteiro Nacional para a Adaptaรงรฃo 2100, as alternativas terรฃo de ser criadas de modo a reduzir a quantidade de carros que chega ร  Costa, principalmente na รฉpoca de Verรฃo.

O alargamento do IC20 nรฃo estรก previsto em nenhum dos instrumentos de gestรฃo territorial analisados, e soma-se ainda o facto de haver possรญveis situaรงรตes de violaรงรฃo do PDM de Almada, dado que existem conjuntos habitacionais a menos de 50 metros da plataforma da estrada, e algumas edificaรงรตes vรฃo ficar ainda mais perto apรณs a obra de alargamento.

Como alternativas ao alargamento rodoviรกrio do IC20, sugere-se a expansรฃo do MTS para a Costa da Caparica e da existรชncia de alternativas de mobilidade suave, tal como previsto no PROT-AML e no PAMUS-AML. No caso de haver alargamento do IC20, poderรก ser pertinente reservรก-lo como via dedicada a BUS, uma vez que os dados nos indicam que, em 2023, mais de 7 mil viagens por dia foram feitas por passageiros em autocarros da Carris Metropolitana, que passam pelo IC20 no seu trajecto.

Ainda que o direito ร  petiรงรฃo esteja previsto na Lei, o que sucedeu com a โ€œPetiรงรฃo Contra o Alargamento do IC20โ€ รฉ que quando foi apresentada ร  Assembleia da Repรบblica, por constrangimentos diversos, a obra jรก tinha iniciado. Importa aqui notar o efeito nos processos de planeamento do territรณrio que a alteraรงรฃo de um ciclo polรญtico pode ter. Assim, utilizar uma petiรงรฃo para parar este tipo de intervenรงรฃo torna-se contraproducente. Mesmo existindo uma Lei de Bases do Clima, que prevรช o direito ร  cessaรงรฃo de obras com impacto negativo no clima, percebe-se que a falta de transparรชncia leva a que seja complexa a capacidade de intervenรงรฃo da populaรงรฃo. 

Mas de facto, quando a obra foi anunciada, jรก havia um DL a declarar as expropriaรงรตes de terrenos em redor, como utilidade pรบblica e de carรกcter de urgรชncia. ร‰ complexa a luta da sociedade civil contra um Governo Portuguรชs e o conjunto de entidades competentes envolvidas que, parecem concordam ou aceitar a intervenรงรฃo, incluindo a CCDR-LVT, APA, IP, CMA.

Na falta de um modelo governativo mais transparente e participado, torna-se premente fazer advocacia noutros modos, de forma mais profissional e ad-hoc.

Por fim, e para concluir este trabalho, sugere-se a revisรฃo dos contratos de subconcessรฃo, das Parcerias Pรบblico-Privadas (PPP) na gestรฃo rodoviรกria, incluindo o contrato da AEBT para gestรฃo do lanรงo do IC20, e de outros a nรญvel nacional, para que, em vez de serem alargadas estradas quando existem inรบmeros automรณveis a utilizรก-las, sejam criadas alternativas em transportes pรบblicos e de mobilidade suave.

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