Um grupo de moradores propõe transformar o troço da Rua da Penha de França junto à Escola Secundária Dona Luísa de Gusmão, criando um espaço público mais verde e acolhedor. Tem uma ideia desenhada e está a discuti-la com a comunidade.
Por vezes, as mudanças na cidade podem partir dos vizinhos, que, pegando no lápis e na caneta, podem desenhar uma ideia e apresentá-la à comunidade. Em Lisboa, um grupo de moradores da Penha de França e de Arroios chegou-se à frente para propor uma rua diferente junto à Escola Secundária Dona Luísa de Gusmão, na fronteira das duas freguesias. Querem dar à comunidade, escolar e não escolar, um espaço público com mais árvores e espaços para sentar. “Ali, alguma coisa tem de ser feita”, diz Carlos Sacramento, um dos proponentes, à revista Time Out Lisboa.
Carlos integra o movimento popular R-Penha, cujo objectivo é transformar um troço da Rua da Penha de França, que serve a já referida escola e que é hoje dominado pelo carro. Com Miguel, do atelier de arquitectura paisagista BAUM, localizado naquela zona, propõem deslocalizar o estacionamento automóvel da frente da escola, abrindo espaço para uma zona mais acolhedora e funcional, não só para alunos e professores, mas para toda a comunidade. Os lugares não acabam, são apenas optimizados (mantendo o número) em prol de um espaço público mais verde e permeável, com árvores e arbustos, bancos para sentar e passeios onde se pode caminhar e passear confortavelmente.
Vê o antes e depois proposto, desenhado pela BAUM:
“O estacionamento ficaria junto da via principal e o passeio seria aumentado para onde estão agora os lugares para estacionar, criando ali uma zona de estar e de lazer, com novo equipamento urbano e árvores, que não existem naquela zona”, nota Carlos à mesma publicação. O movimento R-Penha diz que esta intervenção permitiria reorganizar o espaço sem grandes investimentos. É que, hoje, “os estudantes, se se quiserem sentar, têm de fazê-lo nas grades ou no chão”, observa à Time Out o mesmo morador, que vive próximo daquela rua, usando-a muitas vezes. Por outro lado, a configuração actual da rua – com o estacionamento junto às grades da escola e uma via para acesso a esse estacionamento (que estará vazia durante a maior parte do dia) – torna o andar a pé desconfortável: o peão tem um corredor estreito para circular entre esses carros e a escola.
Espreita algumas imagens criadas pela BAUM:
“Se os projectos para a cidade puderem vir originalmente dos munícipes, acho que é sempre uma mais-valia. Nem tudo tem de ser feito nos gabinetes”, defende Carlos, que não está sozinho com Miguel nesta ideia. Alfredo Santos é outro dos principais dinamizadores da iniciativa. Além disso, têm contado com o apoio de outros moradores da zona e da cidade, através de reuniões de bairro dinamizadas through social networks. A ideia é, nestes encontros, discutir e afinar ideias. Já foram feitas duas reuniões, uma em Novembro e outra em Dezembro, estando prevista que a próxima seja em Janeiro, envolvendo, pela primeira vez, a comunidade da Escola Secundária Dona Luísa de Gusmão.
À Time Out, Carlos afirma que a proposta que estão a mostrar pode ajudar as pessoas a perceber que o espaço público pode ser transformado e usado de formas que antes não imaginavam, mostrando que mudanças são possíveis. Para dar mais força à iniciativa, o grupo pretende recolher assinaturas de moradores da zona. Nas redes sociais, o movimento R-Penha deixa um apelo público: “O que pretendemos é que as pessoas que também desejam mudar este local se juntem, organizem, definam o que gostam, elaborem um projecto comum e acções para levar adiante por este espaço. Já somos muitos a concordar com a ideia, só temos de nos juntar!”.
Carlos está convicto de que a Câmara de Lisboa está disponível para escutar esta proposta e inclusive deu à conta de Instagram do movimento o username @havidanomeubairropenha, aludindo ao programa There's Life In My Neighborhood da autarquia, que consiste em pequenas intervenções de melhoria de espaço público para promover a mobilidade pedonal e a proximidade. A Rua da Penha de França, em particular este troço em frente à escola, é um dos 37 locais identificados na cidade para uma obra de requalificação; no entanto, não está nos locais piloto/prioritários.