Há muito que Nuno Prates, conhecido como @the_lisboan_gardener, aponta o dedo à Câmara Municipal pela falta de manutenção dos espaços verdes de Lisboa. A recente polémica em torno dos jacarandás da 5 de Outubro deu uma grande visibilidade à sua pequena conta de Instagram, mas Nuno garante que o que verdadeiramente o move é continuar a plantar pequenos jardins em canteiros da cidade – acções que são, simultaneamente, um gesto de cidadania e uma forma de luta por uma cidade mais verde e cuidada.

É no meio de um bosque de plantas, algumas exóticas, que encontramos Nuno Prates. Ou @the_lisboan_gardener, como é mais conhecido no Instagram. A conta, onde partilhava para uma pequena comunidade de dois mil e poucos seguidores a sua paixão pelos jardins, cresceu nas últimas duas semanas para mais de oito mil seguidores. O motivo: a polémica dos jacarandás da Avenida 5 de Outubro. Nuno foi a primeira pessoa a publicar sobre o tema; esse primeiro post reúne agora mais de dois mil likes e 300 comentários.
“Vou apagar as publicações relativas à polémica”tells us. “Ah é?”, retorco. “É, vou apagar depois disto tudo passar”, responde. “Mas arquiva em vez de apagar. Não fica público, fica em privado, mas pelo menos não desaparece por uma questão de histórico”, sugiro. “Não sei fazer isso”, contrapõe. “Eu depois explico.”
O Instagram de Nuno era onde o jardineiro e restaurador de móveis ia comentando a vida urbana de Lisboa, nomeadamente no que toca aos seus espaços verdes, criticando, por exemplo, o Município e as juntas de freguesia pela falta de manutenção dos mesmos. Era nesse Instagram onde também divulgava as suas iniciativas de plantação de jardins comunitários – pequenos canteiros plantados por si e pelos cidadãos que quisessem aparecer, com plantas doadas por amigos e vizinhos. “Os seguidores que tinha não eram muitos mas eram seguidores extremamente fiéis”, desabafa @the_lisboan_gardener. “Eram muito fiéis e nós construímos um conhecimento juntos. Poucos, mas muito produtivos. E eu gostava dessa vertente”he adds.
Enquanto este conversa se desenrola, vamos deixando-nos envolver pela atmosfera de verde e frescura de uma das florestas urbanas que Nuno plantou – e que é casa de espécies exóticas como o café-arábica, o gengibre, a mangueira, a dracena-vermelha, a chama-da-floresta ou a alcantarea. Esse pequeno bosque foi um dos primeiros que criou. Chamou-lhe Donated Plants Garden. Surgiu na altura pandemia, com plantas que lhe sobravam dos jardins que ia fazendo para clientes e com doações de vizinhos.
“A maior parte das doações eu não sei quem são, porque deixam aqui”, diz. “Deixam simplesmente?”, pergunto. “Deixam, sim. Tudo o que dão eu aceito. Não faço triagem, não discrimino. Se dão, dão. Aqueles vasos ali são doações que vou plantar no domingo”he explains. “Onde? Lá em Entrecampos?”, questiono. “Não, vai ser próximo da Embaixada da Rússia, na Rua Visconde de Santarém.” Já iremos a essa parte da história…
De 2021 para cá, o Jardim das Plantas Doadas foi crescendo, densificando-se e contagiando os canteiros vizinhos. Ao poucos e poucos, áreas desinteressantes, onde se via um relvado (mal mantido, assegura Nuno), passaram a ter também uma densidade vegetativa: plantas diferentes umas das outras e diferentes também do que vemos na generalidade da cidade, que vão ganhando altura, puxando pelo crescimento umas das outras, captando todo o tipo de bicharada e tornando toda a zona um pouco mais fresca.