Parque Cidades do Tejo: o grande projecto de transformação da AM Lisboa

O Parque Cidades do Tejo propõe uma transformação da área metropolitana de Lisboa, articulada em quatro grandes eixos – Arco Ribeirinho Sul, Ocean Campus, Aeroporto Humberto Delgado e Cidade Aeroportuária – e com intervenção directa em oito municípios: Almada, Barreiro, Seixal, Lisboa, Oeiras, Loures, Montijo e ainda Benavente.

Parque Cidades do Tejo (via Governo)

Em Outubro de 2024, no 42º Congresso do PSD, Luís Montenegro anunciava um “grande projecto de reabilitação da área metropolitana de Lisboa”, visando “erguer uma metrópole vibrante e homogénea” nas duas margens do rio Tejo, atenuando os constrastes hoje existentes entre essas duas margens. Como Presidente do PSD – mas confundindo-se como Primeiro-Ministro –, Montenegro revelava a intenção de criar uma empresa pública para, à semelhança do que se fez na altura da Expo’98, agilizar a contratação pública e outras burocracias.

Essa empresa pública tem agora um nome: vai chamar-se Parque Cidades do Tejo, S.A. e será uma sociedade detida a 100% pelo Estado. Parque Cidades do Tejo é também o nome do mega-projecto de regeneração urbana prometido por Montenegro e que pretende transformar a área metropolitana de Lisboa, em particular quatro grandes eixos: o do Arco Ribeirinho Sul, entre Almada, Seixal e o Barreiro; o Ocean Campus, entre Oeiras e Lisboa; o Aeroporto Humberto Delgado, entre Lisboa e Loures; e a Cidade Aeroportuária, entre o Montijo e Benavente, município que, apesar de já não pertencer à área metropolitana, irá ganhar com o novo Aeroporto de Lisboa (Aeroporto Luís de Camões) uma nova relação directa com esta.

O projecto Parque Cidades do Tejo foi apresentado, em linhas gerais, aos 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e à Câmara de Benavente, no final de Março, numa reunião que decorreu na sede da AML e que foi presidida pelo Primeiro-Ministro, contando com a presença Ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, do Ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, e do Ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz.

Projecto novo, ideias antigas

O Parque Cidades do Tejo não é mais que uma compilação e actualização de uma série de investimentos que já tinham sido previamente anunciados – alguns desde o tempo de José Sócrates –, mas que agora aparecem integrados numa estratégia mais abrangente e clara. Se o Arco Ribeirinho Sul e o Ocean Campus não são propriamente novidades (o primeiro é de 2009 e o segundo de 2021), há duas novidades: uma é a Cidade Portuária que está ser proposta para o eixo Benavente-Montijo, no contexto do novo Aeroporto de Lisboa; outra é a proposta para os terrenos do actual Aeroporto Humberto Delgado, que vão ficar disponíveis.

À semelhança da Parque Expo, S.A. – empresa constituída em 1993 para construir, explorar e desmantelar a Expo’98 –, a constituição da Parque Cidades do Tejo, S.A. permitirá agilizar processos e burocracias. Esta empresa pública terá uma verba inicial de 26,5 milhões de euros e funcionará num modelo de gestão assente entre o Estado central e os oito municípios abrangidos pela sua acção: Almada, Barreiro, Seixal, Lisboa, Oeiras, Loures e Montijo e também Benavente.

A Parque Cidades do Tejo, S.A. irá assegurar a concretização do Parque Cidades do Tejo, o mega-projecto que pretende transformar a área metropolitana de Lisboa “numa grande metrópole em que o rio funciona como elo de ligação dos territórios em vez de os separar”, pode ler-se num comunicado do Governo. “São duas margens centradas no Tejo e quatro projetos de âmbito nacional que se traduzirão numa operação única, de coordenação centralizada, em cooperação com o Estado Central e os municípios diretamente envolvidos.”

Ao todo, são 4,5 mil hectares de área de intervenção urbanística e infraestruturas, o “equivalente a 55 vezes a Parque Expo”, diz o Executivo de Luís Montenegro, que prevê a construção de mais de 25 mil habitações. “Nos quatro eixos – Arco Ribeirinho Sul, Ocean Campus, Aeroporto Humberto Delgado e Cidade Aeroportuária – requalificam-se e regeneram-se territórios, fomenta-se cidades em rede e promove-se a economia circular, a habitação, o emprego e o aumento dos transportes públicos através do reforço das infraestruturas. Dá-se uso, vida e futuro a terrenos públicos nas margens do Tejo que há muitos anos estão totalmente desaproveitados.”

O Parque Cidades do Tejo integra espaços habitacionais, de lazer, de investigação e de cultura, como a Ópera Tejo, um centro de congressos internacional e a Cidade Aeroportuária. Ao nível de infraestruturas, estão previstas duas novas travessias do Tejo: a Terceira Travessia do Tejo (TTT) e o Túnel Algés-Trafaria; um aeroporto único de cariz expansível, com capacidade para mais de 100 milhões de passageiros e investimento na ferrovia de alta velocidade.

O projecto contempla também 1,1 milhões de m2 destinados a equipamentos e 2,5 milhões de m2 a actividades económicas, sem ter em conta o espaço da Cidade Aeroportuária. Estima-se que estes investimentos criem mais de 200 mil postos de trabalho.

Quatro eixos de intervenção

Eixo Arco Ribeirinho Sul

O eixo Arco Ribeirinho Sul, que junta Almada, Seixal e Barreiro, prevê uma intervenção numa área de 519 hectares e ao longo de 15 quilómetros de frente de rio, com mais de 28 novas habitações (no total, considerando o PDM vigente e um exercício prospectivo), 800 mil m2 de equipamentos, 2,3 milhões de m2 destinados ao sector terciário/actividades económicas, e a criação de 94 mil empregos. Em Almada, este eixo concretiza-se com a reabilitação dos Estaleiros da Lisnave, envolvendo 58 hectares de intervenção que para, além da construção de habitação, comércio e serviços, incluirá a criação de equipamentos que preservem a memória industrial naval e que sejam de âmbito cultural – por exemplo, imagina-se a criação de uma Ópera Tejo nesta zona.

On Seixalin the antiga Siderurgia Nacional, propõe-se alimentar o sector terciário com um Parque Empresarial Ecológico e também áreas para actividades de recreio e lazer. Já no Barreiro, serão intervencionados 214 hectares da ex-Quimiparque, propondo-se uma um cluster de actividades económicas ligado à indústria naval, um centro de congressos internacional, e também área com habitação, comércio, serviços, espaços verdes e exploração turística.

Eixo Ocean Campus

On eixo do Ocean Campus, envolvendo os concelhos de Oeiras e Lisbon, propõe-se a concretização de um cluster de inovação, investigação e desenvolvimento ligado ao sector do mar, bem como do Parque Urbano de Algés, com capacidade para acolher grandes eventos como o festival NOS Alive. Este Ocean Campus vai revitalizar toda a frente marítima entre a Doca de Pedrouços, onde já está em construção do Hub do Mar, e a Cruz Quebrada, envolvendo uma área de intervenção de 90 hectares. Propõem-se 180 mil m2 para o sector terciário e 181 mil m2 para equipamentos, e prevê-se que sejam gerados 15 mil empregos.

Eixo Aeroporto Humberto Delgado

On eixo do Aeroporto Humberto Delgado, que abrange Lisbon e Loures, a proposta passa por requalificar toda a área que será deixada vaga pela saída do aeroporto. São mais de 400 hectares de área de intervenção, onde se propõem mais de 9 800 casas (no total, considerando o PDM vigente e um exercício prospectivo), assim como 119 mil m2 de equipamentos e 559 mil m2 para o sector terciário/actividades económicas.

Eixo Benavente-Montijo

On eixo Benavente-Montijo, que extravasa a área metropolitana de Lisboa, ligando-a ao município vizinho de Benavente onde ficará o novo Aeroporto de Lisboa, a proposta é criar uma nova Cidade Aeroportuária, direccionada também para a ciência e indústria náutica, reabilitando mais de 3 mil hectares. Esta nova “cidade” ficará a 30 minutos de Lisboa, com ligação directa através da ferrovia de alta velocidade e das principais rodovias para Norte e Sul.

Nos transportes

O Parque Cidades do Tejo prevê também uma significativa expansão das redes de transportes públicos. No Metro de Lisboa, estão previstos mais de 30 quilómetros de novas linhas e 35 estações, num investimento já em curso de 1.524 milhões de euros, que se estima venha a gerar 46 milhões de novos passageiros por ano. No LIOS, quer na modalidade de elétrico, quer de BRT, falam-se em 24 quilómetros de linha e 37 novas estações, com um investimento de cerca de 490 milhões de euros. Em Oeiras, o SATUO, actualmente em fase pré-concursal, propõe 9 quilómetros de linha e 14 estações, num investimento de 112 milhões de euros.

Na margem sul, o Metro Sul do Tejo tem prevista uma expansão para poente e nascente, com um total de 50 quilómetros adicionais de linhas e, no caso da expansão para poente, um investimento de 350 milhões de euros. O transporte fluvial também ganha novo fôlego neste mega-projecto das Cidades do Tejo: estão previstas novas rotas e terminais, enquanto prossegue a renovação da frota e dos sistemas de carregamento, com um investimento de 96 milhões de euros, a que se somam mais 14 milhões para modernização dos terminais existentes.

A tudo isto juntam-se as duas novas travessias sobre o Tejo: a TTT Chelas-Barreiro, com um investimento estimado de 3 mil milhões de euros, e o Túnel Algés-Trafaria, avaliado em 1,5 mil milhões. Por fim, destaca-se ainda a linha ferroviária de Alta Velocidade Lisboa-Madrid, cuja segunda fase – o troço Lisboa-Évora – envolve um investimento de 2,8 mil milhões de euros.

Pretende-se aumentar a quota modal de transporte público de 24% para 35%, e para isso, será importante o reforço do investimento de mais 3,8 mil milhões de euros neste sector – sendo que o apoio ao transporte público e à política tarifária se prevê de 328 milhões de euros/ano.

Um projecto a 50 anos

Na área metropolitana de Lisboa, vive mais de um quarto da população total do País – 28% da população nacional e 48% da população activa. É também aqui que se prevê um aumento de 7% de habitantes até 2080. O Parque Cidades do Tejo é um projecto urbanístico para 50 anos para toda esta região, lançando-a para o futuro. A concretização deste plano implicará um investimento público superior a 15 mil milhões de euros, cálculo que exclui “todo o investimento em infraestruturas como a rede de alta velocidade” mas que integra o novo Aeroporto Luís de Camões – como indicou à RTP o Ministro da Habitação e Infraestruturas, Miguel Pinto Luz.

“O Parque Cidades do Tejo – interligada em quatro eixos – pretende, assim, equilibrar a densidade urbana e concretizar políticas públicas de habitação”, refere o Governo, na nota de imprensa já citada. “Ao mesmo tempo, reduz o tempo gasto entre casa e o trabalho e cria emprego qualificado com o reforço de infraestruturas, aumenta rede de transportes e promove a transferência modal, beneficiando a qualidade de vida de quem habita ou trabalha nesta região.”

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