Carris Metropolitana: autocarros vão ser monitorizados em tempo real para bem da pontualidade

O cumprimento de horários será um aspecto chave da nova Carris Metropolitana. A TML pode penalizar os operadores que não cumpram horários ou que suprimam autocarros, algo que não era possível até hoje.

Lisboa Fotografía Para Personas

A uma semana do início da operação da Carris Metropolitana (CM) numa parte da Margem Sul (a Área 4), a Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) juntou a comunicação social para apresentar o que muda e esclarecer várias questões dos jornalistas.

Rui Lopo, administrador da TML, começou a sessão por adiantar que ainda é complicado mesmo para a TML ter noção do que vai ser a CM como um todo porque é “um todo que evolui diariamente”. “Já temos uma fotografia de 99% de toda a rede”, mas há afinações que estão a ser feitas aqui e ali, em resultado da complexa interação entre a TML – responsável pela operação da CM como um todo –, as empresas que operarão a CM em cada uma das quatro Áreas, e cada uma das Câmaras Municipais. É por isso que, segundo explicou Rui Lopo, ainda não foi possível disponibilizar um mapa com todos os percursos e os respectivos horários. “Ainda na segunda-feira criámos uma linha nova” numa das Áreas, relatou.

CondadosOperadorArranque
Área 1
Amadora, Oeiras y Sintra (+ Lisboa y Cascais)
Viação Alvorada1 de Julho
Área 2
Mafra, Loures, Odivelas y Vila Franca de Xira
Estación de autobuses de Lisboa1 de Julho
Área 3
Almada, Seixal y Sesimbra
Transportes Sul do Tejo1 de Julho
Área 4
Alcochete, Moita, Montijo, Palmela y Setúbal (+ Barreiro)
Alsa Todi1 de Junho

A partir deste Verão, a TST, a Vimeca, a Rodoviária de Lisboa, a Sulfertagus e outras marcas de transporte público que conviveram connosco nos últimos anos vão desaparecer e serão unificadas num único nome – Carris Metropolitana. Todos os autocarros terão essa marca, serão amarelos por fora e cinzentos por dentro, e circularão em rede e com o mesmo tarifário, conforme te explicámos aqui. Algumas das empresas que hoje operam autocarros na Área Metropolitana de Lisboa (AML) vão continuar a existir, mas passarão a ser obrigadas a seguir as regras da TML e da nova CM. E isso muda muita coisa.

Operadores ganham por km

“Se o operador não cumprir o horário ou se suprimir um autocarro, pode sofrer uma penalização, algo que não se conseguia fazer hoje”, aponta Rui, acrescentando que os operadores deixam de poder fazer o que lhes apetece. “É muito importante que o passageiro confie na Carris Metropolitana.” Todos os autocarros vão poder ser monitorizados em tempo real para se saber onde estão e se estão a horas, permitindo à TML verificar se as cláusulas de cada contrato estão a ser cumpridas. Outra novidade é que os operadores vão passar a ser pagos ao quilómetro – aproximadamente 1,91 € por cada quilómetro percorrido por cada veículo no todo da operação. Contas feitas, aos operadores interessará fazer circular mais, mesmo que seja para fazer uma linha onde irão apanhar apenas dois ou três passageiros. “Há uma inversão de lógica”, aponta Rui Lopo.

Lisboa Fotografía Para Personas

Já a partir de 1 de Junho a Carris Metropolitana estará no terreno na Área 4, que corresponde aos municípios de Alcochete, Moita, Montijo, Palmela e Setúbal. Nesta região, a operação da CM será municipal, intermunicipal e por vezes inter-regional (ou seja, para fora da AML), com excepção do Barreiro onde, por existir um operador municipal – a Transportes Colectivos do Barreiro (TCB) – a CM apenas assegurará as ligações com os concelhos vizinhos. (Essa será a mesma situação de Lisboa e de Cascais, onde a CM apenas fará ligações intermunicipais.)

Na Área 4, a operação da CM estará a cargo da Alsa Todi, a empresa que venceu o concurso público internacional. A TST, que actualmente assegura uma boa parte do transporte rodoviário em toda a Margem Sul, ficará com a operação na Área 3, que abrange Sesimbra, Seixal e Almada e que será lançada apenas a 1 de Julho. A Área 4 servirá como piloto, permitindo à TML afinar eventuais detalhes antes de lançar as restantes três áreas da CM.

As linhas e os números

Na Área 4, estão previstas 153 linhas de autocarro, que se traduzirão em cerca de 365 percursos, estando previstas aproximadamente 745 mil circulações por ano – a TML diz que representa um aumento de 55% da oferta em veículos/km e de 60% em circulações. A Alsa Todi deverá ter uma renumeração anual estimada em 24 milhões de euros, uma vez que a operação renderá 1,71 € por cada quilómetro percorrido por cada veículo.

Existirão 62 linhas novas, mas a grande maioria das linhas são antigas e vão simplesmente ser reforçadas com mais autocarros a circular e mais horários de circulação. Conforme já te tínhamos contado aqui, a oferta da Carris Metropolitana nesta e nas outras Áreas será dividida em Linhas Próximas, Linhas Longas, Linhas Rápidas, Linhas Interregionais, Linhas de Mar e Linhas Turísticas. As linhas mais importantes são as primeiras quatro; Ana Oliveira, da direcção operacional da TML, refere que 80-85% da oferta global da CM serão Linhas Longas, dedicadas a estabelecer ligações entre localidades e municípios.

O mapa da rede prevista para a Área 4 (imagem cortesia de Carris Metropolitana)
A oferta actual e a oferta da CM na Área 4 (imagem cortesia de Carris Metropolitana)

Já as Linhas Próximas são geralmente circulares e permitem andar dentro de uma mesma cidade. As Rápidas oferecem percursos mais directos e com menos paragens, e vão, por exemplo, estabelecer ligações a Lisboa. As Interregionais existirão porque, por vezes, é preciso criar ligações para fora da AML. Existirão Linhas Interregionais apenas na Área 4 para ligar à zona das Vendas Novas, no Alentejo Central; e na Área 2, para ligar à região do Oeste. São ligações que já existiam e que agora serão integradas no sistema de bilhética do Navegante – as pessoas pagam um extra de 20 € no passe para saírem da AML numa destas Linhas Interregionais; ou mais 50 cêntimos a 1 € na tarifa de bordo.

O tarifário da Carris Metropolitana (imagem cortesia de Carris Metropolitana)

As Linhas de Mar (inicialmente apelidadas de Linhas de Praia) vão servir zonas que não estão próximas do mar e as Linhas Turísticas vão permitir chegar facilmente a monumentos e outros pontos turísticos da AML. No caso da Área 4, só existirá para já uma Linha Mar, que fará um percurso entre o Montijo, a Moita e Sesimbra. A TML diz que ainda está a afinar o tarifário para as Linhas Mar e Turística, mas para as restantes linhas já está definido.

Além da cor que identificará cada linha, existirá uma numeração composta por quatro algarismos associada. Na Área 4, todos os autocarros começaram por 4 e os dígitos seguintes identificarão se se trata de uma linha só de um município, que circula entre municípios, que faz ligação a Lisboa ou que sai da AML, como já te explicámos aqui.

A numeração das linhas na Área 4 (imagem cortesia de Carris Metropolitana)

Uma rede evolutiva

Ana Oliveira realçou que a Carris Metropolitana é “uma rede de transportes que não é estática, é evolutiva” e, por isso, mesmo nos primeiros meses poderão existir alterações e afinações no detalhe. Os horários e percursos da Área 4 de operação da CM serão disponibilizados ainda esta semana; entretanto, tem sido feito um esforço de comunicação para garantir que, por exemplo, quem usa o transporte rodoviário da TST, da Sulfertagus ou de outro operador actualmente vai saber qual o número do autocarro correspondente a partir de dia 1 de Junho. Além de um “conversor de linha” no site da CM, está a ser distribuída informação em papel aos passageiros e foi criada uma linha de atendimento telefónico.

O desafio é gigante: assegurar a passagem de testemunho entre a dezena de empresas de transporte público que hoje operam na AML e os quatro novos operadores, que já a partir do Verão vão estar a circular com autocarros amarelos e uma marca comum. Dividida por quatro áreas, a operação da CM será assegurada em cada destas áreas por uma empresa diferente em regime de concessão, mas a coordenar toda a operação estará a TML. Ana Oliveira diz que o grande objectivo é “minimizar os impactos negativos” que poderão existir com esta mudança.

“Estamos a montar um sistema sem informação de passageiros ou das carreiras realizadas”, apontou Rui Lopo a propósito da inexistência de dados consolidados e completos da parte de várias empresas que hoje operam na AML. O facto de todos os autocarros passarem a ser monitorizados em tempo real e de forma centralizadas vai permitir à TML ter um conhecimento diferente do panorama do transporte público rodoviário. A partir de 1 de Junho, as peças da CM vão começar a compor-se e Rui Lopo avança que é expectativa da TML ter o puzzle completo até Setembro, mesmo a tempo do arranque das aulas.

Outras informações:
  • os 370 painéis digital que serão instalados nas paragens, com informação em tempo real sobre a chegada dos autocarros, não vão estar disponíveis antes de 1 de Julho. A TML prevê colocar 50 desses painéis em estações de comboio e outras interfaces de transporte, bem como em zonas com muita movimentação de passageiros, como eventualmente centros comerciais e no aeroporto. Na Área 4 estão previstos 69 painéis;
Lisboa Fotografía Para Personas
  • a TML não garante que todos os autocarros estarão adaptados para mobilidade reduzida, mas estima que 95% da oferta seja plenamente acessível;
  • a informação da Carris Metropolitana vai estar disponíveis no Google Maps, permitindo às pessoas planear a sua viagem nesta aplicação. Poderá não estar ainda no dia 1 de Junho;
  • o wi-fi gratuito nos autocarros da CM não deverá estar disponível antes de 1 de Julho, uma vez que escasseiam componentes electrónicos devido ao contexto global;
  • numa primeira fase, cerca de dois terços dos autocarros circularão com validadores antigos (os equipamentos onde o passageiro passa o cartão para validá-lo). Isso irá atrasar o lançamento da possibilidade de usar o telemóvel ou o cartão bancário para usar o serviço da CM, sem dinheiro ou cartão físico. Espera-se que até ao final do ano seja possível ter todos os validadores renovados e dessa forma desmaterializar a bilhética;
  • a Carris Metropolitana vai ter um site novo e mais completo a partir de 1 de Junho. A app do Navegante – que integrará a informação da Carris Metropolitana e substituirá o portal Viajes a Lisboa – deverá chegar até ao final deste ano;
  • vai continuar a não ser possível entrar num autocarro da CM dentro do município de Lisboa a não ser nas paragens iniciais/terminais do percurso, à semelhança do que acontece hoje na generalidade dos autocarros da Rodoviária de Lisboa ou da Vimeca. Tal acontece porque a Carris tem exclusividade na operação dentro do concelho de Lisboa. A TML diz, no entanto, que vai estudar eventuais excepções caso a caso, por exemplo, nas ligações ao Aeroporto;
  • ao abrigo dos contratos da Carris Metropolitana, os operadores vão manter alguns Espaços Navegante espalhados pela AML, destinados a servir os passageiros. Na Área 4, serão seis, dos quais dois estarão em Setúbal por se tratar de um concelho bastante populoso. Estes Espaços Navegante da CM estarão a funcionar em horário alargado, entre as 8 e as 21 horas. Os Espaços Navegante funcionarão em complemento a uma extensa rede de Agentes Navegante, isto é, papelarias e outros negócios locais onde é possível carregar o passe Navegante, e também aos chamados Puntos de navegación, máquinas automáticas onde é possível imprimir e carregar o cartão na hora. Até ao final do ano, e no total das quatro Áreas de operação, a TML espera que existam mais de 1500 Agentes, 26 Espaços Navegante e 23 Pontos Navegante.
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