Sete Rios tem uma nova praça, com um repuxo que refresca nos dias mais quentes. O largo de São Sebastião deixou de ser um estacionamento. A Gulbenkian ficou mais ligada à cidade. E a Praça de Espanha é agora um agradável e grande parque. Há uma nova Lisboa para descobrir a pé ou de bicicleta.
A Gulbenkian cresceu. Um dos jardins mais notáveis de Lisboa alargou-se para sul, acompanhando a renovação do Centro de Arte Moderna (CAM) e ligando-se a uma nova praça em São Sebastião. Mas a expansão do jardim da Gulbenkian é apenas uma das muitas transformações que Lisboa está a conhecer num dos seus centros. Uma transformação que começa em Sete Rios.
A nova praça de Sete Rios
É junto ao Jardim Zoológico que encontramos a renovada Praça Marechal Humberto Delgado. O Zoo deixou de ter trânsito a passar à frente dos seus portões, e conhece agora um silêncio. Num dia de calor intenso de Agosto, como aquele em que fizemos esta visita, os novos repuxos servem para refrescar e também para brincadeiras dos mais novos. A praça conta com pequenos canteiros, cujos arbustos e árvores ainda precisam de crescer, e com uma área de maior densidade vegetativa – trata-se da zona onde já existia um jardim anteriormente e que agora foi aumentada, com um quiosque que ainda há de reabrir, um novo parque infantil e novas árvores. Há uma ciclovia a cortar toda a praça, ligando a Estrada das Laranjeiras (com as suas excessivas quatro vias) à Estrada de Benfica.
Com uma área de intervenção superior a 152 mil metros quadrados, o projecto devolveu o espaço às pessoas, melhorando a qualidade de vida na zona com um novo espaço verde acolhedor. Foram plantadas cerca de 200 novas árvores, o sistema rodoviário foi reorganizado com uma nova rotunda, as travessias pedonais ficaram mais curtas e seguras, e as paragens de transporte foram relocalizadas. Este é um exemplo claro de como a cidade pode ser moldada em prol dos seus habitantes, devolvendo-lhe o protagonismo que o trânsito antes retirava.
Lisboa está a transformar-se. A cidade, conhecida pelo seu encanto histórico, tem vindo a provocar-nos com novos espaços públicos, mais modernos e mais centrados nas pessoas. Apesar de o trânsito continuar caótico na capital, sem medidas eficazes da parte do Município para promover uma transição modal, essa mesma autarquia tem feito algum trabalho na requalificação de espaços que eram primeiramente ocupados pelo automóvel.
A Praça de Espanha, agora um parque verde
De Sete Rios conseguimos chegar à Praça de Espanha, uma área que até 2020 era um enorme e complexo cruzamento automóvel. Os carros continuam lá mas agora há um enorme parque verde. Podemos usufruir de várias áreas de lazer ao ar livre, caminhos cicláveis e pedonais, e de zonas sombreadas, ideais para momentos de descanso.
O nova Praça de Espanha – ou Parque Gonçalo Ribeiro Telles – ficou totalmente concluída em 2023 com uma obra secundária de espaço público e a finalização da grande cafeteira e esplanada, ainda por concessionar. Existem três grandes clareiras com relvado, e vários caminhos e bosques por descobrir, aproveitando as árvores e arbustos que foram crescendo nos últimos anos. O arco que antes estava “perdido” no meio de um nó rodoviário surge agora integrado no parque, que liga também ao Teatro Aberto, que ganha assim uma nova envolvente. O parque prolonga-se até às traseiras de uma série de edifícios de habitação e de hotelaria, onde existe um pequeno charco e onde já está a funcionar um quiosque. A estação de Metro da Praça de Espanha foi integrada na nova área verde, que se liga também ao IPO e que futuramente estará rodeado das sedes do Montepio e da Jerónimo Martins.
Uma Gulbenkian ligada à cidade
Da Praça de Espanha, chegamos imediatamente à Gulbenkian. A inconfundível fundação cultural com os seus jardins de inspiração japonesa dispensa apresentações. A recente expansão do Centro de Arte Moderna (CAM) e do jardim da Gulbenkian, desenhada por Kengo Kuma e Vladimir Djurovic, melhorou significativamente o espaço público adjacente, nomeadamente na Rua Marquês da Fronteira. Na altura da nossa visita, Agosto, ainda as obras no CAM e do prolongamento do jardim decorriam, mas de fora já era possível espreitar lá para dentro e ter um deslumbre do que agora em Setembro abriu ao público.
Mas nesse “lá fora”, já existiam novidades. O troço da Rua Marquês de Fronteira, em frente à Gulbenkian, tinha acabado de ser requalificado, para oferecer agora melhores condições para peões e ciclistas. Junto à nova entrada sul da Gulbenkian, surge agora uma praça em que os jardins da Gulbenkian e a cidade de Lisboa se confundem. O novo muro, mais baixo, serve não só como espaço de estadia e descanso, mas permite melhor apreciar as árvores notáveis que caracterizam o local. Transformando esta área num espaço acolhedor e harmonioso, a nova configuração melhorou também a circulação e a acessibilidade para peões e ciclistas, ampliando o espaço disponível e reduzindo conflitos.
Ficou só a faltar a continuação deste espaço público mais agradável até à zona do El Corte Inglês, onde existe um estrangulamento do canal ciclável e pedonal. De resto, a obra na Rua Marquês de Fronteira introduziu um conjunto de infraestrutura para bicicletas na zona, com passadeiras bem sinalizadas, nova semaforização e uma ligação não só à ciclovia da Avenida Duque d’Ávila, como ao Largo de São Sebastião da Pedreira – a última paragem nesta nossa rota de transformação urbana.
O renovado Largo de São Sebastião da Pedreira foi inaugurado em Junho. Este novo espaço público, com 13 mil metros quadrados, foi pensado para o lazer. Aquilo que antes era um largo ocupado pelo automóvel foi transformada numa praça pedonal agradável e com árvores que ainda terão tempo de crescer. O mobiliário urbano moderno, que inclui bancos, torna o local mais acolhedor e funcional, promovendo o convívio entre os habitantes da cidade. O quiosque também promete ter essa função, logo que seja concessionado e aberto. Junto aos prédios, às lojas e aos restaurantes, passaram a existir passeios largos, devidamente protegidos por estacionamento longitudinal ou pilaretes.
O espaço, apesar de não ter ciclovias segregadas, é também uma zona acessível às bicicletas, com marcações no chão, que permitem a circulação em dois sentidos. O projecto inicial previa um contra-fluxo ciclável, mas foi bloqueado pela Junta de Freguesia das Avenidas Novas, responsável também pela alteração e encurtamento da ciclovia na Avenida de Berna, em frente à Gulbenkian.
Mas voltando ao mais importante. O passeio entre Sete Rios e São Sebastião é uma viagem pela nova Lisboa, uma cidade que se tem transformado- Estas obras, parte de uma estratégia de regeneração urbana mais ampla, não só melhoram a qualidade de vida dos lisboetas, como reforçam a importância do espaço público como lugar de encontro, lazer e bem-estar.