A separação entre os canais pedonais e cicláveis é fundamental para salvaguardar a segurança de ambos, mas em especial a dos mais vulneráveis nessa relação – os peões.

Uma intervenção no âmbito do Plano de Acessibilidade Pedonal que está a decorrer no Campo Grande levou à colocação de pavimento confortáveis junto aos atravessamentos e de guias para pessoas invisuais. No entanto, a obra, realizada depois da alteração do esquema ciclável na zona, não acautelou os conflitos com os utilizadores da bicicleta.
Vamos por partes. A construção da ciclovia na Alameda das Linhas de Torres em 2021 alterou a configuração dos atravessamentos cicláveis na zona do Campo Grande. O trânsito de bicicletas foi desviado para o lado esquerdo (de quem vem da zona do edifício da NOS e da referida alameda) – antes encontrava-se do lado direito. Os atravessamentos cicláveis passaram a estar devidamente assinalados a verde, à luz do actual Regulamento de Sinalização Rodoviária, permitindo uma melhor separação entre o fluxo de bicicletas e o de peões, numa zona onde se situa uma das principais interfaces de transportes da cidade. Os ciclistas passaram ainda a contar com semaforização própria.

No entanto, apesar da alteração e da nova ciclovia da Alameda das Linhas de Torres, o local já contava com outra ciclovia, a que passa à beira do terminal e segue até ao coração de Telheiras pela passagem inferior sob a Avenida Padre Cruz. No projecto da intervenção nas Linhas de Torres, estava prevista uma ligação entre as duas ciclovias na zona do Campo Grande, permitindo a separação dos fluxos ciclável e pedonal, mas não foi executado.
Por isso, as duas ciclovias mantém-se desligadas e quem vem da ciclovia de Telheiras tem de cruzar a passadeira de peões para aceder ao atravessamento ciclável em direcção ao Museu da Cidade, causando conflitos evitáveis. A situação poderia ter sido corrigida aquando da intervenção agora em curso no âmbito do Plano de Acessibilidade Pedonal. Nesta obra, além do pavimento confortável e de guias para pessoas invisuais em todos os atravessamentos pedonais, também envolveu um novo piso de alcatrão no cruzamento no lado da NOS.

No entanto, a empreitada voltou a não mexer na saída da referida ciclovia de Telheiras e inclusive colocou o novo pavimento e as guias nessa área. O projecto desta obra, ao qual o Lisboa Para Pessoas teve acesso, tinha sido desenhado em 2020 e contemplava o antigo desenho daquele cruzamento ciclável, não tendo sido actualizado com a ciclovia das Linhas de Torres. Nesse mesmo projecto, era feita uma ligeira correcção do antigo atravessamento, desviando-o ligeiramente da passadeira de modo a separar melhor os dois fluxos – correcção que já não fazia sentido no desenho actual da zona.

Enquanto que os olhos de um condutor têm de aprender a conviver com ciclistas, os elementos mais vulneráveis com quem partilham a via, os olhos de um ciclista têm de estar sobretudo nos peões, os elementos mais vulneráveis se seguirmos a cadeia de vulnerabilidade na estrada. A separação entre os canais pedonais e cicláveis é fundamental para salvaguardar a segurança de ambos, mas em especial a dos mais vulneráveis nessa relação – os peões.