Nas vésperas de fazer 30 anos, a EGEAC muda de nome e passa a ser Lisboa Cultura. “A marca é Lisboa. E, portanto, Lisboa Cultura é a nova marca, o novo nome da EGEAC, é o novo branding”, diz o Presidente da Câmara, Carlos Moedas.
Não há cidade sem cultura. Lisboa Cultura é o novo nome da EGEAC, a empresa municipal de gestão cultural de Lisboa, e uma nova marca que se pretende afirmar na cidade. “EGEAC é um nome que não soa. Muitas pessoas nem sabiam se era uma empresa do Estado, da Câmara, ou o queria dizer”, afirmou Carlos Moedas, Presidente da Câmara, num encontro com jornalistas. “A marca é Lisboa. E, portanto, Lisboa Cultura é a nova marca, o novo nome da EGEAC, é o novo branding.”
A Lisboa Cultura herda as tarefas e o património da EGEAC, incluindo os seus 25 equipamentos, como museus, teatros, cinema e galerias arte, os seus 3,8 milhões de visitas por ano, e os mais de 450 trabalhadores ao serviço da programação, conteúdos, artes e património de Lisboa. A Lisboa Cultura vai ficar ainda com a responsabilidade da realização das Festas de Lisboa, que acontecem todos os anos em Junho em torno do Santo António, enchendo as ruas da cidade de boa disposição.
A EGEAC tinha sido criada pela Câmara de Lisboa em 1995. Chamava-se, na altura, Equipamentos dos Bairros Históricos de Lisboa ou EBAHL. O objetivo era reabilitar e transformar grandes edifícios, desenvolvendo neles projectos culturais que ajudassem a atrair e a fixar população nos bairros. A EBAHL começou por gerir equipamentos como o Castelo de São Jorge, o Teatro Taborda, hoje Teatro da Garagem, ou o Convento das Bernardas, onde funciona o Museu da Marioneta. Um ano depois, em 1996, passou a ser responsável pelas Festas de Lisboa, por se entender que as mesmas tinham as suas raízes culturais e programáticas nos bairros históricos.
Em 2003, a EBAHL mudou a designação para EGEAC, ou Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, configurando esta mudança também uma nova estratégia: passou a preocupar-se além dos bairros históricos e ganhou uma escala maior – a da cidade. Com esta alteração, a EGEAC ganhou a responsabilidade de gerir teatros, cinemas, museus, ateliês e galerias de arte e até o Padrão dos Descobrimentos. O Cinema São Jorge, a Casa Fernando Pessoa, o Teatro São Luiz e o Atelier-Museu Júlio Pomar são apenas alguns dos espaços municipais entregues à EGEAC. Em 2018 abriram as portas do LU.CA – Teatro Luís de Camões, dedicado à programação para crianças e jovens, e em 2019 foi inaugurado o Teatro do Bairro Alto, os dois mais recentes espaços da empresa municipais.
Entre este ano e 2025, quando a agora Lisboa Cultura celebrará 30 anos, a cidade irá ganhar novos equipamentos ou reencontrar-se com equipamentos antigos que acabaram de ser renovados: em Belém, o Pavilhão Júlio Sarmento; no Parque Mayer, o Teatro Variedades, submetido a oito anos de obras; na Baixa lisboeta, o MUDE – Museu do Design e da Moda, também renovado; o Espaço Altântida, que nascerá no Palacete dos Marqueses de Pombal, na Rua das Janelas Verdes.
Num encontro com jornalistas, o Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e o ex-Presidente da RTP, agora administrador da Lisboa Cultura, Gonçalo Reis, detalharam algumas das novidades culturais da cidade para as próximos meses:
- MUDE – Museu do Design e da Moda: a reabertura a 25 de Julho do MUDE na Rua Augusta, após ter estado oito anos fechado para obras de requalificação. Vai ser aberto sem a colecção, mas com uma exposição que convidará os visitantes a olharem para o edifício no seu estado bruto;
- Teatro Variedades: a reabertura está prevista para o início de Outubro, depois das obras de reabilitação que demoraram também oito anos e que envolveram problemas entre a Câmara e o empreiteiro da obra. A conclusão da reabilitação deste teatro, segundo um projecto de Aires Mateus, chegou a estar prevista para 2016. O Teatro Variedades está inserido no Parque Mayer, que conta com o já renovado Cineteatro Capitólio e também com o Teatro Maria Vitória, ambos espaços concessionados a promotoras privadas;
- Pavilhão Julião Sarmento: a abertura do Pavilhão Julião Sarmento a 4 de Novembro, com uma colecção privada do pintor e artista visual, que morreu em 2021. A transformação do antigo armazém de alimentos, localizado na Avenida da Índia, em Belém, num novo centro de arte contemporânea, tinha sido anunciado em 2017 e foi um projecto do arquitecto Carrilho da Graça;
- Museu do Fado: em 2025, vão iniciar-se as obras de ampliação e de renovação do Museu do Fado, em Alfama. Este museu irá aumentar em cerca de 60% a sua área expositiva, com um projecto do Atelier Santa-Rita. Haverá uma renovação da exposição de longa duração, dos espaços de exposições temporárias e da zona exterior, que será utilizada para concertos;
- Núcleo de Arte Contemporânea da CML: também em 2025 poderá ser concretizada a criação de um novo museu para expor a coleção de arte contemporânea da Câmara Municipal de Lisboa, adquirida anualmente na ARCOlisboa. O local para abrigar esse acervo do Núcleo de Arte Contemporânea da autarquia ainda está sendo definido, mas provavelmente será próximo às Galerias Municipais;
- Espaço Atlântida: vai ficar no Palacete dos Marqueses de Pombal, na Rua das Janelas Verdes, e vai albergar a biblioteca do escritor argentino Alberto Manguel, que doou o seu arquivo de mais de 40 mil livros à cidade. O concurso público para a primeira fase das obras de recuperação deste palacete está a decorrer até 27 de Julho;
- Biblioteca António Lobo Antunes: será a primeira biblioteca da rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa na freguesia de Benfica e deverá abrir no segundo semestre de 2025, o edifício da antiga Fábrica Simões. Esta biblioteca vai ter o nome de António Lobo Antunes, escritor que nasceu e cresceu em Benfica, e contará com um centro interpretativo da sua obra;
- Um Teatro Em Cada Bairro: este programa da Câmara de Lisboa, lançado no mandato de Moedas, procura criar uma rede de pequenos espaços culturais de proximidade nos bairros da cidade. O modelo de gestão é em parceria com entidades culturais privada. Existem já seis equipamentos lançados: o Teatro dos Coruchéus, em Alvalade; o Espaço Avenidas, nas Avenidas Novas; o Cine-Teatro Turim, em Benfica; a Boutique de Cultura, em Carnide; a Casa do Jardim da Estrela, na Estrela; e a Quinta Alegre, em Santa Clara. O sétimo “teatro” será o auditório da Vila Romão da Silva, em Campolide;
- Passe Cultura: lançado em 2022, permite o acesso gratuito a mais de 40 espaços culturais da cidade a residentes com menos de 23 anos e maiores de 65, bastando apresentar o Cartão de Cidadão nas bilheteiras. Até Junho de 2024, foram distribuídos cerca de 23 mil ingressos (11 mil no primeiro ano e 10 mil no primeiro semestre de 2024), e dois terços dos beneficiários têm menos de 23 anos;
- 80 anos do Plano de Urbanização de Alvalade: em 2025, o Plano de Urbanização do Bairro de Alvalade comemora 80 anos e está previsto um programa comemorativo com exposições e colóquios;
- Apoio ao jornalismo: em Setembro deste ano, será lançado um programa de estímulo ao sector dos média, conteúdos e jornalismo pela Lisboa Cultura. Uma iniciativa inspirada nas bolsas da Gulbenkian, cuja última edição data de 2020/21, e pretenderá apoiar novos projectos jornalísticos e projectos para as plataformas digitais, com intervenção de um júri qualificado e sem qualquer intervenção editorial da Lisboa Cultura ou da Câmara Municipal.
A actividade cultural da Câmara de Lisboa realiza-se em diálogo, claro, com os outros agentes da cidade, em particular com a Gulbenkian, que deverá reabrir o seu Centro de Arte Moderna Gulbenkian (CAM), depois das obras de renovação e ampliação, em Setembro. Não esquecer ainda o papel que os eventos têm na cidade, como é o caso do DocLisboa, festival de cinema documental, ou do IndieLisboa, festival de cinema, do Lisboa 5L, festival de literatura que voltará em 2025 depois de resolvido o actual imbróglio, ou do Tribeca Film Festival, que junta filmes, séries, música, podcasts e a cultura pop em geral e que se realizará pela primeira vez em Lisboa neste ano.
Para a Câmara de Lisboa e para Carlos Moedas, a actividade cultural da cidade pode e deve ser financiada com a taxa turística, e pode também servir para criar novas centralidades na cidade, distribuindo melhor o fluxo turístico. Outro grande desafio é a acessibilidade dos museus, teatros, cinemas, galerias municipais e espaços expositivos a cargo da Lisboa Cultura. Esse trabalho envolverá a plataformas elevatórias, disponibilização de cadeiras de rodas, sinalização para deficientes visuais, tradução e legendagem digital para língua gestual, e audiodescrição.