O “pixo” envolve inscrições monocromáticas em locais de difícil acesso, sendo visto como vandalismo e punido, em Portugal, com multas até 15 mil euros. A remoção é cara, preocupando moradores, as autoridades e também a Câmara de Lisboa.
O movimento de pixo, que ganhou popularidade no Brasil, tem marcado a paisagem de Lisboa com inscrições feitas por grupos e indivíduos, que deixam os seus nomes em locais de difícil acesso, como topos de prédios e pontes. Diferente dos graffiti, o pixo é caracterizado por rabiscos monocromáticos e indecifráveis, criados como uma forma de protesto ou desafio, com foco no risco envolvido em alcançar lugares altos. A prática é vista como vandalismo e pode resultar em multas até 15 mil euros. Apesar da acção das autoridades, as inscrições continuam a espalhar-se, gerando frustração em moradores e dificuldades na remoção, como conta o jornal Expresso.
Embora os seus autores permaneçam desconhecidos, as suas marcas podem ser vistas por toda a cidade de Lisboa e noutros municípios da área metropolitana: enormes letras feitas com spray ou tinta, geralmente em prédios, muros e viadutos. Esses rabiscos não são desenhos coloridos, como o graffiti, nem possuem mensagens de protesto – consistem apenas em inscrições quase indecifráveis que representam os pseudónimos de quem as criou. O pixo é realizado durante a noite, e os seus praticantes muitas vezes utilizam cordas e equipamentos de escalada para alcançar locais de difícil acesso, com o objectivo de deixar as suas assinaturas. Alguns agem sozinhos, enquanto outros formam grupos ou “gangues”. Este fenómeno, popularizado no Brasil, tem-se espalhado por várias cidades portuguesas, sendo particularmente visível na capital.
No Brasil, o movimento de pixo começou nas favelas de São Paulo nos anos 1980 como uma forma de protesto dos mais marginalizados, que procuravam desta forma reclamar o seu direito à cidade. Inspirados nas tipografias de bandas de heavy metal, as favelas paulistas criaram uma linguagem própria que rapidamente se expandiu pelo Brasil e, posteriormente, para outros países. Em Lisboa, as inscrições têm aparecido em diversos prédios, tanto abandonados quanto habitados, muitas vezes a vários metros de altura. Uma das assinaturas mais presentes nas fachadas lisboetas é o de PAMPA, “o mais antigo a actuar em Portugal”, assegura o próprio ao jornal Expresso. Começou em 1989 no Brasil com um grupo de pixadores que diz “estar situado em vários países dos quatro continentes”.
O desafio de deixar a sua marca “em locais desafiantes” obriga PAMPA a uma rotina de treino e a “manter uma vida saudável, sem álcool, tabaco ou qualquer tipo de droga” para conseguir “subir cada dia mais alto”. O Expresso falou também com Eduardo, de 36 anos, que imigrou para Portugal há oito anos e que assina como Pregos. “Tem sempre de implicar risco. Quanto mais alto e mais difícil for, menor é a probabilidade de vir a ser apagado. E quanto mais impacto causar, melhor. O ‘pixador’ quer ser notado e busca a eternidade”, explica, defendendo que a cidade deve ser “uma galeria” onde qualquer um tem o direito de “expor”. “É fácil um graffiti impressionar porque tem desenho, cores e contornos. Mas o ‘pixo’ são letras feitas só com traços. O que conta é o desafio que está por trás”dit-il.
A actividade do pixo - “uma arte” assumidamente marginal, suja e indigesta – não tem um alinhamento político, à esquerda ou à direita, previamente associado. “Cada um tem os seus motivos. Uns por protesto, outros em busca de fama ou da sensação de prazer e liberdade. Pode tornar-se um grande vício”, indica PAMPA ao Expresso, referindo que o seu “trabalho” é feito em nome da “a luta contra a violência sobre as mulheres”, apesar de muito raramente abordar o tema nas inscrições.
A prática é ilegal e pode resultar em multas que chegam a 15 mil euros, conforme estipula a lei. Apesar disso, as autoridades portuguesas afirmam estar cientes do fenómeno do pixo, com os autores a serem identificados por meio de publicações nas redes sociais. No entanto, a PSP não divulgou ao Expresso o número de autos emitidos até o momento. Em Dezembro passado, dois prédios de dez andares nos Olivais foram alvos de pixos de PAMPA, cujos rabiscos que cobriam as fachadas desde o primeiro até o último andar. Os moradores ficaram revoltados com a situação e procuram ajuda das autoridades e da Câmara de Lisboa, que diz que só lhe compete a remoção de tags e graffiti em “edifícios ou elementos estruturais públicos”, ainda que, periodicamente, também o faça em prédios particulares.
Por ano, a autarquia gasta cerca de 2,1 milhões de euros anuais para remover graffitis e inscrições deste tipo, referindo estar “diariamente atenta ao problema” e a fazer um “acompanhamento constante de todos os graffiti e tags presentes na cidade”, no sentido de identificar os responsáveis e também de ter um mapeamento destes fenómenos.
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Este artigo faz parte da rubrica de Revista de Imprensa do LPP, em que destacamos, resumimos e completamos histórias de outros órgãos de comunicação social.