Livre leu a auditoria à rede ciclável de Lisboa e propõe as “Vias da Liberdade”

O Livre entende que o plano de Moedas de expansão da rede ciclável é “contraditório com a auditoria” e apresentou um plano alternativo. Proposta foi aprovada por maioria em reunião da Câmara de Lisboa no início de Outubro.

Ciclovia na Avenida Almirante Reis (fotografia LPP)

Carlos Moedas pediu uma auditoria à rede ciclável da cidade e, a partir desta, apresentou um plano de acção, com 56 novas ciclovias ou troços de ciclovias, dos quais 20 serão infraestruturas segregadas. Mas, para o Livre, que também leu o levantamento e análise feito pela consultora internacional Copenhagenize, o plano de acção de Moedas é “contraditório com a auditoria, não respondendo às questões colocadas pela mesma”. Por isso, o Livre apresentou um plano alternativo para a expansão da rede ciclável. Chamou-lhe Vias da Liberdade – Programa para as Ciclovias de Lisboa 2024-2030.

O que diz o Livre sobre a auditoria e o plano de Moedas?

Para o Livre, “perderam-se quase três anos parando, adiando ou cancelando obras programadas em matéria de ciclovias, à espera desta auditoria”, que veio “reafirmar que a rede existente é boa; e que, mais do que corrigir, é urgente e necessário expandir a rede ciclável em zonas onde ainda não há ciclovias segregadas e através de eixos estruturantes”. O Livre diz que “foram abandonadas ciclovias segregadas e com projecto desenvolvido ou em desenvolvimento, consideradas prioritárias pela auditoria”.

O Livre fez uma comparação entre o plano de expansão da rede ciclável do anterior Executivo de Fernando Medina (PS), as conclusões da auditoria encomendada pelo sucessor Carlos Moedas, e o plano de expansão apresentado a partir dos resultados dessa auditoria:

O partido, que na Câmara de Lisboa tem um vereador eleito em coligação com o PS, entende que o plano de acção apresentado pelo Executivo de Moedas “não prevê a criação de percursos segregados em nenhum dos eixos prioritários apontados pela auditoria, com excepção da Rua da Prata”, e que as ligações propostas nesse plano “são na grande maioria demasiado curtos para construírem rede” ou consideradas ligações de “baixa prioridade”. Para o Livre, deveriam ser prioridade eixos como a Avenida de Roma, a Avenida Egas Moniz ou a Avenida da Liberdade, referidos na auditoria.

O Livre critica ainda Moedas pela aposta em ruas partilhadas entre carros e bicicletas, no modelo 30+bici, em eixos que “não reúnem condições de segurança para a coexistência, sendo disso exemplo os arruamentos citados na auditoria: Avenida Elias Garcia com 3 265 veículos/dia; Avenida Barbosa du Bocage com 3 699 veículos/dia; Rua D. Estefânia com mais de 13 000 veículos/dia”; e também a Avenida da da Liberdade com “17 692 veículos/dia numa das laterais e 33.434 veículos/dia na outra, mais de 16 vezes acima do limite máximo estabelecido pela auditoria”. “A opção do plano pela
generalização da tipologia 30+Bici agrava um dos problemas detetados pela auditoria, a qual afirmou claramente que a implementação deste tipo de percursos em ruas com volume de tráfego excessivo, além de ineficaz, pode ser contraproducente”
, indica.

Qual é o plano alternativo do Livre?

Face a todas estas críticas, o Livre decidiu apresentar uma proposta de expansão da rede ciclável, intitulada Vias da Liberdade – Programa para as Ciclovias de Lisboa 2024-2030. Esta proposta foi aprovada por maioria em reunião de câmara do dia 9 de Outubro, com os oito votos a favor dos vereadores da oposição (Livre, PS, CPL, BE e PCP) e os sete votos contra da coligação PSD/CDS.

A proposta Vias da Liberdade compromete a Câmara de Lisboa com um plano de acção diferente do de Moedas, nomeadamente com:

  • criar ciclovias segregadas em eixos como a Avenida da Liberdade-Rossio, Avenida Almirante Gago Coutinho, a Rua Morais Soares, a Avenida Mouzinho de Albuquerque, a Rua Braancamp, a Avenida da Igreja, a Avenida de Roma ou a Rua da Junqueira, como identificado pela auditoria;
  • estudar “soluções cicláveis seguras e atractivas” para arruamentos como a Rua dos Jerónimos, a Rua Conde de Redondo, a Estrada de Benfica ou o eixo da Rua da Escola Politécnica;
  • ligar equipamentos escolares e estações de transporte público à rede ciclável. Estações de comboio como o Oriente, o Rossio e Benfica, bem como grandes interfaces como Campo Grande e Sete Rios, terão conexões cicláveis prioritárias. Além disso, serão implementadas ciclovias seguras em áreas escolares para garantir percursos protegidos a estudantes e famílias;
  • repor a “imediatamente a ciclovia removida por este Executivo” na Avenida de Berna, voltando a ligar o campus da FCSH da Universidade Nova de Lisboa à rede “através de percurso ciclável segregado e com as dimensões regulamentares”. O Livre quer também que seja iniciado “um processo de participação pública” sobre aquela avenida com a “população que habita, estuda e trabalha naquele eixo”;
  • não criar novos corredores 30+bici em ruas com um volume de tráfego superior a 2 000 carros/dia, conforme indica a auditoria. Assim, antes de criar novas vias partilhadas entre carros e bicicletas, a EMEL deverá “realizar um estudo para avaliação do volume de tráfego” e, se o limite referido for ultrapassado, “deverá o executivo optar por ciclovias segregadas ou garantir uma solução que diminua os volumes de tráfego utilizando as recomendações da auditoria”;
  • “mandatar a EMEL para lançar um concurso de empreitada plurianual de trabalhos diversos, específicos para manutenção de ciclovias, que contemple os trabalhos de manutenção e melhoramento recomendados na auditoria”. O Livre quer que as ciclovias existentes sejam ampliadas e ajustadas para cumprir dimensões internacionais, garantindo maior conforto e segurança. Além disso, esse plafond de manutenção deve ser usado para a eliminação de pontos de conflito em cruzamentos e também para a implementação semaforização adaptada às bicicletas, com tempos de espera reduzidos.

O Livre propõe que a execução do programa Vias da Liberdade se inicie já em 2025, com a conclusão dos estudos prévios até ao Verão desse ano e dos projectos de execução até Dezembro. Dessa forma, concursos de empreitada estarão “prontos para ser para ser lançados durante o ano de 2026 e as obras em todos os eixos estruturantes concluídas até 2030”, entende o partido.

É proposto ainda a criação de “equipas de projecto multidisciplinares” que envolvam técnicos da Câmara de Lisboa, da EMEL, da Carris e da Lisboa E-Nova, capazes de olhar não só para a rede ciclável, como também para questões de acessibilidade pedonal e transporte público na elaboração dos estudos prévios e dos projectos de execução das ciclovias. O Livre sugere o desenvolvimento de processos participativos para cada eixo a ser intervencionado durante a fase de estudo prévio.

Podes ler a proposta completa do Livre aqui:

Apesar de ter sido aprovado em reunião da Câmara de Lisboa, o programa Vias da Liberdade, do Livre, poderá não avançar se essa não for a vontade do Executivo de Carlos Moedas, que lidera o governo da cidade. É provável que o Presidente da Câmara mantenha a vontade de concretizar o seu próprio plano de acção de ciclovias, sobre o qual podes ler aqui.

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