Lisboa está mais GIRA… ou é só em algumas freguesias? O que nos dizem os dados

Com a chegada à Ajuda no início deste mês, a GIRA cumpriu o desígnio de servir todas as freguesias de Lisboa. São agora 195 estações espalhadas pela cidade – estão cada vez mais próximas dos utilizadores, embora ainda distantes de alguns. Como é a cobertura do sistema de bicicletas partilhadas pela cidade? Que desequilíbrios mostram os dados?

Uma estação GIRA na freguesia de Campolide (fotografia LPP)

Já lá vão oito anos de GIRA em Lisboa. O sistema foi inaugurado em 2017 com 100 bicicletas distribuídas por 10 estações na zona do Parque das Nações. O plano inicial previa um crescimento até às 140 distribuídas pelo planalto central e a frente ribeirinha da cidade.

No entanto, dois anos depois e contrariamente ao contratado com a Órbita, empresa à qual foi adjudicada a implementação e operação do sistema, eram ainda pouco mais de metade as que estavam instaladas e em operação. As falhas sucessivas na expansão da GIRA levaram a EMEL, empresa municipal de mobilidade de Lisboa, a rescindir este contrato em 2019 e a internalizar, no ano seguinte, as operações de suporte ao funcionamento do sistema. Foi então que finalmente a rede de estações voltou a crescer. Apesar da pandemia, entre 2020 e 2022 foram abertas 59 novas estações, tendo o sistema atingido as almejadas 140 neste último ano. 

Mas as expectativas, nesta altura, já não se ficavam por aqui. Apesar dos constrangimentos na expansão inicial, a procura nunca parou de crescer e em 2019 cada bicicleta era já utilizada, em média, em mais do que sete viagens por dia – uma taxa de utilização superior à de cidades com sistemas consolidados, como Londres, Paris ou Barcelona. Por isso, aquando da internalização da sua gestão, a EMEL anunciava já uma visão a oito anos de um sistema com 350 estações dotadas de 3 500 bicicletas.

Seis anos depois vamos a pouco mais da metade deste caminho. Hoje existem 195 estações na cidade e cerca de 2000 bicicletas (pelo menos, em teoria). Ainda assim, o sistema tem crescido de forma consistente e acaba de atingir o marco de ter pelo menos uma estação em cada freguesia da cidade.

Um marco sonante, mas que ainda não cumpre a visão da EMEL para a GIRA. Apesar de hoje já não mencionar números absolutos de bicicletas ou estações, a empresa municipal tem afirmado nos relatórios dos últimos anos a ambição de disponibilizar uma estação a pelo menos 10 minutos a pé de qualquer cidadão. E é através da análise deste critério que se evidenciam as desigualdades territoriais do sistema.

A GIRA chegou a todas as freguesias, e agora?

Uma estação GIRA na freguesia de Campolide (fotografia LPP)

Desenhando a área correspondente ao percurso pedonal de 10 minutos a partir de cada estação existente na rede, podemos facilmente visualizar que nem todas as freguesias da cidade estão servidas da mesma maneira. Se as zonas oriental, ribeirinha e planalto central estão já praticamente cobertas na sua totalidade, evidenciando o cumprimento do plano inicial, zonas menos centrais e tendencialmente mais desfavorecidas acabam por ter um acesso mais reduzido ou mesmo inexistente ao sistema. 

Este mapa mostra ainda uma outra realidade. Para além da área de serviço, é também evidente o desequilíbrio na distribuição das estações pelo território. Enquanto que nas freguesias de Alvalade ou Avenidas Novas há mais de 20 estações, na Ajuda, Alcântara, Beato, Campo de Ourique, Campolide, Estrela, Marvila, Misericórdia, Penha de França, Santa Clara, e São Vicente não chegam a cinco, muitas delas colocadas nos seus limites administrativos, excluindo o acesso a grande parte dos seus fregueses.

Um sistema ainda desiquilibrado

E se nem todas as freguesias têm a mesma área ou número de habitantes, a verdade é que estas disparidades se mantêm quando o número de estações é relacionado com estas dimensões socioespaciais. Das 11 freguesias com menos de cinco estações na sua área, a grande maioria tem menos de duas estações por quilómetro quadrado e não passam das 0,2 estações por mil habitantes. Em oposição, as melhor servidas chegam às nove estações por quilómetro quadrado e ultrapassam uma estação por cada mil habitantes.

Em média, a cidade de Lisboa é hoje servida por 2,3 estações por quilómetro quadrado, um número ainda inferior aos sistemas que ultrapassou em 2019 no número de viagens diárias por bicicleta. Para a mesma área, LondresParis e Barcelona oferecem uma média superior às seis estações.

Se este número vai ser atingido, não é claro. Nem se será necessário para cumprir o desígnio de ter uma estação a 10 minutos a pé de cada cidadão.

Sem divulgar a localização exata das suas localizações e o calendário da sua implementação, uma listagem não oficial compilada por utilizadores da GIRA, em particular pelo Miguel Monteiro – e confirmada pelo LPP –, dá conta de 177 estações previstas um pouco por toda a cidade. Avistadas nos mapas das estações mais recentes ou em comunicações à imprensa feitas pela EMEL, a sua concretização iria reduzir as assimetrias territoriais do sistema, aplicando o slogan da marca, de tornar “Lisboa mais GIRA”.

Resta saber se a EMEL estará à altura deste compromisso. Apesar da promessa de um crescimento “muito elevado” feita no Plano de Atividades e Orçamento, e das concretizações desse crescimento, o sistema de bicicletas partilhadas continua a enfrentar instabilidades com estações vazias e bicicletas em falta, o que que quebra a confiança dos utilizadores no sistema. Não só a expansão da GIRA e a sua aproximação à população da cidade são necessárias, como é preciso ser um sistema fiável e previsível.

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