A mesma CP que outrora virou costas a equipamento antigo, deixando-o abandonado pelo país como uma reportagem da SIC mostrou, tem vindo a recuperar uma parte desses comboios antigos, de modo a colocá-los de novo em marcha. Algum desse material circulante estava em relativo bom estado antes de ter sido posto de parte.
É o caso da automotora eléctrica 3525, composta por quatro veículos de dois pisos, que voltou esta semana à Linha da Azambuja. O comboio, igual aos que diariamente naquela ligação mas que estava abandonado há sete anos em Campolide, foi recuperado por dentro e por fora nas oficinas da CP do Entroncamento, num investimento, segundo a Lusa, de cerca de um milhão de euros – contas feitas, “Portugal terá poupado entre 6 a 8 milhões de euros, que é quanto custa uma automotora destas”, partilhou José Carlos Barbosa, director de Manutenção e Engenharia da CP, no seu LinkedIn.
Quem acompanha o perfil de José Carlos Barbosa no LinkedIn ou no Twitter estará a par do esforço que a CP tem feito nos últimos meses de recuperação de material descartado. O plano é simples: dar uma nova vida a esse material, melhorando o serviço ferroviário nacional enquanto não é possível modernizar a frota, e poupar dinheiro. Das oficinas de Guifões, Contumil, Entroncamento e Barreiro, já saíram comboios como novos para linhas de todo o país, incluindo quatro composições para reforçar a Linha de Sintra, também em Lisboa.
Voltando à Linha da Azambuja. De acordo com a Lusa, o comboio que foi reposto em circulação recebeu novo pavimento, os bancos foram encapados e foi feita a pintura exterior – ainda tinha a cor verde original. Foram ainda feitas melhorias técnicas, ao nível dos equipamentos electrónicos, climatização e sistema de freio, preparando este comboio para 15-20 anos de serviço.
Esta automotora recuperada junta-se às dez que, desde 1999, circulam na cintura urbana de Lisboa. Há mais uma na família, que também estava encostada em Campolide e que se encontra neste momento em oficina. A sua entrega está prevista para o próximo mês de Maio, devendo, então, nessa altura ficar operacionais as 12 unidades da frota.
Mas se vos disser que estes dois comboios, que custaram cerca de €6 milhões cada um, faziam serviço na linha da Azambuja, uma das linhas mais sobrelotadas da Portugal, provavelmente terão ainda mais dificuldade em compreender a decisão.
— José Carlos Barbosa (@zecarlosbarbosa) March 16, 2021
Dados da CP do período pré-pandemia, citados pela Lusa, indicam que na Linha de Sintra/Azambuja viajaram, em 2019, cerca de 69 milhões de passageiros, uma média de 200 mil passageiros em dia útil. Segundo José Carlos Barbosa, director de Manutenção e Engenharia da CP, a Linha da Azambuja é uma das mais sobrelotadas de Portugal.