Passe Navegante passa a dar para usar bicicletas e trotinetas da Bolt… E a GIRA?

Fotografia de Mário Rui André/Lisboa Para Pessoas

O mesmo passe que se usa para aceder a todos os transportes públicos de Lisboa, o Navegante, vai dar para usar as bicicletas e trotinetas da Bolt, por mais 15 euros por mês. Ou seja, aos 30 euros do Navegante, soma-se uma mensalidade adicional para quem quiser 20 minutos diários nos veículos da Bolt para fazer o “último quilómetro”.

Imagem cortesia de Bolt/TML

Para beneficiares desta oferta, terás de ter o passe Navegante activo no teu cartão Lisboa Viva e preencher este formulário online, que te pede o teu número de telemóvel associado à conta Bolt e um comprovativo através de fotografia do passe. Depois terás de aguardar até quatro dias úteis pela validação dos dados e, a partir daí, poderás comprar o Navegante mensalmente com o extra de minutos diários para usar em bicicletas e trotinetas Bolt.

Conjugar a bicicleta (ou trotineta) com o transporte público permite tornar este último mais competitivo, uma vez que nem sempre o autocarro, o comboio ou o metro pára à porta de casa, da escola ou do local de trabalho. Esta intermodalidade é comum em cidades onde o uso da bicicleta está mais desenvolvido mas verifica-se também em Lisboa, onde já existem estações GIRA e estacionamentos para bicicletas e trotinetas à porta de importantes interfaces e paragens de transportes públicos e onde é possível ver vários passageiros, principalmente nos comboios suburbanos, a transportar consigo uma bicicleta ou trotineta própria.

Porque não a GIRA no Navegante?

No entanto, esta relação entre a Bolt e o passe Navegante pode ser questionada, uma vez que resulta de uma parceria entre um operador privado, a Transportes Metropolitanos de Lisboa, e a Câmara de Lisboa. Ao ser permitida apenas a associação de uma determinada oferta comercial ao Navegante, um passe público e financiado com o PART do Fundo Ambiental, os utilizadores ficam limitados a uma única empresa, apesar de na cidade operarem outras marcas de trotinetas como a Lime, a Bird ou recém-chegada Link. A própria autarquia lisboeta tem um sistema partilhado e público, exclusivamente com bicicletas, chamado GIRA, que não funciona com o Navegante.

Contudo, a intenção de estabelecer uma ligação entre a GIRA e os transportes públicos da cidade será tão antiga quanto o sistema partilhado, que foi lançado na cidade no final de 2017. Numa entrevista há dois anos ao Jornal Económico, o vereador de mobilidade de Lisboa, Miguel Gaspar, disse haver abertura do lado da autarquia para integrar operadores privados no passe de transportes – também já existiu uma parceria com a Hive – mas que essa relação começaria pela GIRA, que é gerida pela EMEL com o apoio do município. “No ano passado [2018] desenvolvemos um serviço que permite perguntar se um utilizador da bicicleta GIRA tem ou não tem um passe [para os transportes públicos] válido. Isso vai permitir-nos, quando o sistema funcionar de forma completa, discriminar positivamente quem tiver o passe. Quem tiver o passe da rede pública de transportes, terá condições de acesso à rede de bicicletas GIRA mais favoráveis – esse é o primeiro passo de integração que estamos a desenvolver”, referiu Miguel Gaspar. “Porque é que não há um passe de transporte público mais umas viagens de táxi ou viagens de bicicletas ou trotinetes? É esta conversa que temos tido com os operadores destes transportes e estamos a tentar construir este modelo.”

Um passe mensal de GIRA custa 15 euros, enquanto que o anual custa apenas 25 euros – o que dá pouco mais que dois euros por mês. São valores muito competitivos, principalmente se continuar a não ser cobrada a tarifa por viagem. Para um utilizador de transportes públicos, a GIRA poderia estar incluída no também acessível Navegante de 30 euros. O Navegante permite circular em todos os modos de transporte da cidade de Lisboa, dos autocarros ao metro, do comboio aos barcos; a inclusão da GIRA na oferta do passe poderia passar por equiparar o sistema de bicicletas partilhadas a um transporte público, pelo que a utilização da GIRA seria gratuita e ilimitada como todas as outras modalidades.

Um passe que não chega a toda a cidade

Captura de ecrã da aplicação da Bolt

Ao Público, Santiago Páramo, da Bolt, referiu que “Lisboa vai acolher um passe de micromobilidade e estamos extremamente felizes que isto vá acontecer” uma vez que não há muitas cidades europeias que o tenham. No entanto, o serviço da Bolt não está disponível em toda a cidade, pelo que este passe criado em parceria com a TML e a autarquia irá excluir muitas pessoas que vivem ou trabalham em freguesias como Carnide, Benfica, Marvila, Beato, Olivais ou Parque das Nações, conforme o mapa que partilhamos ao lado. Fonte da Bolt explicou, ao Lisboa Para Pessoas, que “queremos disponibilizar um serviço fiável para todas as pessoas que se deslocam na cidade e, como tal, para alargar a nossa área operacional, precisamos de conseguir assegurar uma cobertura mínima dos nossos veículos em cada área” e acrescentou que as zonas não cobertas “estão a ser consideradas para a fase de expansão da cobertura do serviço”.

De referir ainda que a Bolt não é pioneira num passe de micromobilidade, nem é tão pouco a primeira vez que em Lisboa existe um. Em Maio de 2019, a Hive também disponibilizou 20 minutos aos portadores do cartão Lisboa Viva (não era preciso ter um passe Navegante activo no cartão); só que a oferta, que era gratuita, só durou até Dezembro desse ano. O Lisboa Para Pessoas contactou ainda a EMEL para saber mais sobre uma eventual integração da GIRA no Navegante, mas até ao momento não recebeu qualquer resposta.

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