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Estratégia nacional para a bicicleta precisa urgentemente de liderança e recursos, denuncia MUBi

Fotografia cortesia de Catarina Lopes

Publicada há dois anos, a Estratégia Nacional para a Mobilidade Activa Ciclável 2020-2030 está sem recursos e no iminente perigo de vir a falhar as metas intercalares para 2025, denuncia a MUBi – Associação Pela Mobilidade Urbana Em Bicicleta. “O Governo precisa urgentemente de criar as estruturas, dotar as equipas dos meios necessários e investir seriamente na mobilidade activa”, lê-se num comunicado da associação, enviado às redacções.

Foi publicada a 2 de Agosto de 2019 a Estratégia Nacional para a Mobilidade Activa Ciclável (ENMAC) 2020-2030. A Estratégia, aprovada por Resolução do Conselho de Ministros, estabelece metas ambiciosas para o país. Entre elas, que a utilização da bicicleta como modo de transporte em Portugal convirja com a média do resto da Europa e que, até 2030, pelo menos uma em cada dez viagens nas cidades portuguesas seja feita em bicicleta.

“Alcançar essas metas exige um grande investimento e esforço colectivo do Estado para uma profunda transformação da sociedade ao nível da mobilidade urbana. Será necessário haver mais de meio milhão de utilizadores quotidianos de bicicleta no final da década”, refere a MUBi.

A associação acrescenta que “numa estratégia a dez anos, completados hoje dois anos, é extremamente preocupante que a ENMAC continue muito atrasada e a progredir a um ritmo extremamente lento”, apesar da pressão da Assembleia da República para que o Governo priorize e acelere a implementação da Estratégia. A MUBi diz que “estamos no perigo iminente de falhar as metas intercalares para 2025” e acusa o executivo de estar a tentar fazer “omeletes sem ovos”: “A ENMAC precisa urgentemente de ter uma equipa de pessoas dedicadas – um Gabinete-Geral da Bicicleta, como em Espanha – com um orçamento próprio para a gestão e organização da Estratégia.”

“As entidades responsáveis pela execução das suas 51 medidas têm de rapidamente ser capacitadas com os recursos humanos, técnicos e financeiros necessários. Precisa, também, da liderança política capaz de a tornar uma estratégia de facto nacional, com os vários ministérios envolvidos, e de criar as estruturas que permitam uma real articulação com as autarquias”, acrescenta a mesma associação.

A MUBi lembra que Espanha destinou três mil milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência para a mobilidade activa, enquanto que Portugal reservou zero. A República da Irlanda decidiu alocar, ao longo dos próximos cinco anos, 10% do Orçamento do Estado para transportes à mobilidade em bicicleta e outros 10% ao modo pedonal. São 360 milhões de euros por ano (um milhão por dia) para os modos activos, num país com metade da população portuguesa. A Irlanda irá, por exemplo, com 5% desse orçamento contratar 250 técnicos para trabalhar na área da mobilidade activa nas administrações locais e ajudar na boa aplicação dos investimentos.

“Os benefícios socioeconómicos quantificáveis da actual utilização da bicicleta na União Europeia estão avaliados em mais de 150 mil milhões de euros por ano. Destes, mais de 90 mil milhões de euros representam externalidades positivas no ambiente, na saúde pública e nos sistemas de mobilidade”, escreve ainda a MUBi.