Depois de ter anunciado o abate e substituição de oito árvores de grande porte no miradouro de São Pedro de Alcântara, a Câmara de Lisboa diz agora que “nem todos os exemplares infectados estão propostos para substituição agora, permanecendo enquanto os dados de monitorização assim o indicarem”.
Uma semana depois da notícia do Lisboa Para Pessoas e de uma faixa de protesto colocada no miradouro de São Pedro de Alcântara, onde a Câmara Municipal de Lisboa (CML) previa o abate e substituição de oito árvores doentes, a informação pública sobre essa intervenção desapareceu. Desapareceu do local e do site da autarquia. Entretanto, já voltou a estar disponível – pelo menos online –, mas a Câmara esclarece agora que o que se vai fazer é “uma substituição gradual do arvoredo que vai entrando em fase de maior risco”.
“Embora algumas árvores do miradouro de São Pedro de Alcântara se encontrem contaminadas por um fungo com um comportamento muito destrutivo e apresentem perigo de queda devido à degradação progressiva do lenho, nem todos os exemplares infectados estão propostos para substituição agora, permanecendo enquanto os dados de monitorização assim o indicarem”, refere o município ao Lisboa Para Pessoas, depois de um pedido de esclarecimento. “O que se está a fazer é uma substituição gradual do arvoredo que vai entrando em fase de maior risco.” A CML não indicou, no entanto, porque é que a informação sobre o abate e substituição do arvoredo foi retirada temporariamente do local e do site.
Plataforma Em Defesa das Árvores questiona abate e pede mais informação
A 23 de Fevereiro, a Plataforma Em Defesa das Árvores enviou um pedido de esclarecimento sobre a autorização do abate no Miradouro de São Pedro de Alcântara. “Pedimos ainda que a operação de abate seja adiada até que todas as dúvidas sejam esclarecidas”, escreviam numa mensagem endereçada ao vereador responsável pela Estrutura Verde, Ângelo Pereira, e ao Presidente da Câmara, Carlos Moedas. Na mesma carta, pediam que fosse facultados mais elementos, como um relatório fitossanitário realizado por uma “entidade idónea”, como o Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo de Almeida, e uma “opinião técnica que fundamente a substituição das árvores abatidas por uma outra espécie”.
“Pedimos ainda ao novo executivo que considere evoluir na abordagem que é feita às árvores de grande porte que apresentam fragilidades e doenças”, escreviam ainda, acrescentando que “as árvores adultas são seres vivos magníficos e na maior parte das vezes insubstituíveis. Pedimos, pois, que em casos como este (…) se considere tomar medidas de permitam a preservação dos exemplares, como (…) o escoramento ou a aplicação de cabos de sustentação de ramos (…)”.
Ao Lisboa Para Pessoas, Rosa Casimiro, porta-voz e fundadora da Plataforma Em Defesa das Árvores, reiterou que “para abater árvores, é preciso um relatório fitossanitário feito como deve ser” e lamentou a ausência de informação da parte da autarquia. A CML publicou no seu site, como costuma fazer, um “Pedido de Autorização para Abate de Árvore” – um pequeno documento com os números identificadores das árvores a remover, a sua localização e uma pequena fundamentação. “Muitas vezes dizem que aquilo [o documento partilhado pela CML] é um relatório técnico, mas não não aceitamos. Não está assinado por nenhum técnico ou laboratório”, argumenta Rosa. “Não basta dizer que se as árvores são perigosas” para as pessoas que passeiam no Miradouro, “há que quantificar quão perigosas são”.
No Jardim António Nobre, mais conhecido por miradouro de São Pedro de Alcântara, estava previsto o abate de oito árvores de grande porte da espécie Celtis australis e a sua substituição por oito exemplares de outra espécie, Liquidambar styraciflua. A CML explicava que as oito árvores foram avaliadas para abate porque “apresentam elevado nível de decrepitude e copa esparsa” e “constituem, por isso, em caso de rotura, um perigo para a segurança de pessoas e bens”. No documento partilhado pela autarquia, podia ler-se ainda que os elementos arbóreos apresentam “sinais da presença” de um fungo chamado Inonotus rickii.
No Regulamento Municipal do Arvoredo de Lisboa, documento publicado em 2015, pode ler-se que “o plano de substituição de arvoredo inclui obrigatoriamente o relatório de avaliação do arvoredo a substituir” e que esse relatório “deve ser elaborada pelos serviços técnicos competentes da CML, da Junta de Freguesia ou por entidade externa reconhecida para o efeito”. Fica claro, neste documento, que “os abates só serão executados após autorização emanada da autoridade competente”, que pode ser a própria CML. Ao Lisboa Para Pessoas, a autarquia garantiu que “a Equipa de Arvoredo da Câmara Municipal de Lisboa, com vasta experiência, faz uma avaliação contínua do arvoredo urbano”.