E se a rotunda do Areeiro fosse um amplo jardim? E se a Almirante Reis fosse pedonal, ciclável e exclusiva para eléctrico num troço? Estas são algumas das ideias que o atelier de arquitectura paisagista Terra viu premiadas num concurso internacional de ideias, o Urban Garden Award.
Um corredor verde que começasse na rotunda do Relógio, continuasse ao longo da Avenida Almirante Gago Coutinho, passasse pela praça do Areeiro, seguisse pela Avenida Almirante Reis e só terminasse perto do rio Tejo. Esta foi a proposta que o atelier de arquitectura paisagista Terra viu premiada num novo concurso internacional de ideias.
Nesta primeira edição do Urban Garden Award, um prémio organizado pela plataforma de arquitectura IF-Ideasforward e pela Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas (APAP), propunha-se celebrar o centenário do nascimento do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles e a sua ideia de uma Lisboa “com eixos de ligação (corredores verdes) entre o centro da cidade e a periferia (parque periférico)”. Assim, com o lema “from the port to the airport”, os participantes foram desafiados a pensar num corredor verde ao longo de todo o eixo da Gago Coutinho e da Almirante Reis, começando na praça das partidas do Aeroporto Humberto Delgado e terminando na praça da estação fluvial Sul e Sueste. No regulamento de participação, tinham de ser consideradas intervenções na Rotunda do Relógio, na Praça do Areeiro, na Alameda Afonso Henriques, na Praça do Chile e no Martin Moniz, além de nas avenidas já mencionadas.
A proposta vencedora do Terra, atelier dos portuenses Duarte Natário e João Francisco Coelho, sugere um corredor verde ao longo de todo o eixo, sem esquecer nenhuma praça. A redução do tráfego automóvel é uma das ideias centrais do projecto, juntamente com a criação de uma ciclovia contínua entre o Aeroporto e o Tejo, a introdução de um eléctrico, o alargamento de passeios e, claro, o aumento dos espaços verdes.
Logo à saída do Aeroporto, o atelier Terra propõe uma Rotunda do Relógio com apenas três vias para automóveis e um jardim no centro, juntamente com um complexo de pontes ciclopedonais. Na Avenida Almirante Gago Coutinho, em direcção ao Areeiro, é sugerida uma via só para automóveis, um corredor BUS, uma ciclovia bidireccional e um corredor para o eléctrico. Já no sector da Avenida junto à Mata de Alvalade, existe como que o prolongamento daquele espaço verde, com uma área pedonal reforçada e mais árvores.
Na Praça do Areeiro, a dupla de arquitectos do Terra, que se juntou a mais duas colegas de profissão – Joana Azevedo e Camila Feital –, idealizou uma rotunda com muito menos espaço para o automóvel e mais espaço para o transporte público e para os modos suaves. No centro da praça, foi desenhado um jardim com zonas de estadia, brincadeira de passeio, com espaço para caminhar e pedalar. A ciclovia e o eléctrico têm continuação por esta praça reinventada, seguindo pela Avenida Almirante Reis. No troço entre a Alameda e a Rua Pascoal de Melo, a proposta passa pela eliminação total do tráfego automóvel: aqui, o espaço seria das pessoas, das bicicletas e do eléctrico. Os carros seriam desviados para ruas paralelas.
De seguida, a Almirante Reis ganharia uma via automóvel apenas no sentido ascendente, uma vez que para descer continuara a ser utilizada a Rua de Arroios; mais adiante, já sendo Rua da Palma, haveria trânsito de carros de dois sentidos mas só num dos lados da artéria; o outro lado continuaria a ser para as pessoas. O Martim Moniz seria um amplo espaço verde, que continuaria pela Praça da Figueira e pela Rua da Prata. Estas zonas seriam totalmente pedonais mas teriam o eléctrico e ciclovia. Na proposta do Terra, o tráfego rodoviário na baixa seria desviado pela Rua da Madalena e pela Rua do Ouro.
No seu site, os arquitectos explicam que a sua abordagem assenta num “novo modelo de mobilidade urbana” e na “procura de soluções que passem por reduzir a utilização do automóvel na cidade e pela implementação de alternativas mais ecológicas”, como é o caso do andar a pé, da bicicleta e do transporte público. Os arquitectos procuraram criar um corredor de eléctrico contínuo ao longo de todo o trajecto e recuperar antigas linhas de eléctrico. A proposta – escrevem – envolve também no conceito de uma cidade dos 15 minutos, que “defende que a melhor mobilidade é aquela que é mais reduzida e que garante a acessibilidade a tudo o que precisamos para o nosso dia-a-dia”.
A equipa do atelier Terra diz ter-se inspirado no “contexto histórico destas zonas da cidade de Lisboa” e nos “ensinamentos e projectos de Gonçalo Ribeiro Telles”. Podes conhecer mais sobre esta proposta nos pósteres seguintes ou no site do atelier. Importa referir que este trabalho foi desenvolvido no âmbito de um concurso de ideias, onde é possível imaginar mais além do que a realidade nos permite e onde o objectivo é acima de tudo lançar o debate e promover a reflexão sobre os eixos de ligação para a cidade de Lisboa.