Esta รฉ a histรณria de uma proposta aprovada por maioria na Cรขmara de Lisboa, com os votos contra dos vereadores da lista de Moedas. Uma histรณria que permite perceber melhor os meandros da polรญtica autรกrquica.

A aprovaรงรฃo, nesta semana, pela Cรขmara Municipal de Lisboa de uma proposta do Livre que inclui, entre outras medidas, a restriรงรฃo do trรขnsito automรณvel na Avenida da Liberdade aos domingos e feriados correu toda a imprensa nas รบltimas horas. No entanto, o tema tem sido simplificado de tal forma pela comunicaรงรฃo social que ignora a complexidade da polรญtica autรกrquica.
A aprovaรงรฃo de uma proposta nem sempre significa que ela, na prรกtica, seja executada. Neste artigo, vamos perceber como funciona uma Cรขmara Municipal e que diferentes caminhos pode tomar esta proposta do Livre.
Comecemos pelo inรญcio
Para percebermos o tema, temos de comeรงar pelo inรญcio e por compreender como funciona o governo de uma cidade. Enquanto que as eleiรงรตes legislativas somos convidados a escolher a composiรงรฃo da Assembleia da Repรบblica que depois forma um Governo, numa autarquia o modelo รฉ diferente: nas eleiรงรตes autรกrquicas elegemos tanto a composiรงรฃo da Assembleia Municipal como o executivo da Cรขmara Municipal.
O executivo camarรกrio รฉ, por assim, dizer o Governo da nossa cidade โ รฉ o รณrgรฃo executivo, cuja fiscalizaรงรฃo cabe ร Assembleia Municipal (tal como o Governo รฉ fiscalizado pela Assembleia da Repรบblica). O executivo integra tanto membros da lista que teve mais votos, como de outras listas que foram igualmente sufragadas nas urnas.
As eleiรงรตes autรกrquicas resultaram, assim, em vรกrias listas vencedoras que tรชm traduรงรฃo no governo da cidade โ no caso de Lisboa, o actual executivo da Cรขmara Municipal รฉ composto por um Presidente do PSD e por 16 vereadores do PSD, CDS, PS, Livre, PCP, BE e CPL:
- seis vereadores da coligaรงรฃo Novos Tempos, liderada pelo PSD/CDS;
- sete vereadores da coligaรงรฃo Mais Lisboa, liderada pelo PS/Livre, que se desdobrou em cinco do PS, um do Livre e um do movimento Cidadรฃos Por Lisboa (CPL);
- dois vereadores do PCP;
- uma vereadora do BE.
Entre os 16 vereadores, hรก um Vice-Presidente, e hรก vereadores com pelouro e vereadores sem pelouro. Ter pelouro significa para um vereador ter uma espรฉcie de “pasta ministerial”, como, por exemplo, as Finanรงas, a Habitaรงรฃo, o Urbanismo ou a Mobilidade. No inรญcio de cada mandato, todas as competรชncias executivas (ou seja, todas as “pastas”) da Cรขmara Municipal sรฃo delegadas na pessoa que encabeรงa a lista mais votada, a quem cabe distribuir as “pastas” pelos diferentes vereadores.
Em teoria, podia haver um vereador do PS com o pelouro da Mobilidade ou um vereador do Livre com o pelouro da Cultura, mas para tal era preciso ter existido um entendimento mรบtuo entre os outros partidos e o Presidente da Cรขmara. Nรฃo foi o que aconteceu, apesar de Moedas ter oferecido pelouros aos outros partidos.
Todos os vereadores governam
Assim, numa Cรขmara Municipal รฉ difรญcil traรงar uma linha entre quem รฉ oposiรงรฃo e quem nรฃo o รฉ, pois, pelo menos em teoria, todos os vereadores integram o governo da cidade e todos os vereadores โ mesmo que sem competรชncias delegadas em relaรงรฃo a um determinado tema โ podem fazer propostas.
Numa reuniรฃo pรบblica de Cรขmara recente, Rui Tavares, vereador do Livre resumiu o funcionamento do executivo da seguinte forma: “Os lisboetas votaram, escolheram e deram-nos uma configuraรงรฃo singular. Nรฃo vale a pena andarmos quatro anos a tentar interpretar uma coisa cuja realidade รฉ evidente. A legitimidade que assiste a quem tem pelouro รฉ inquestionรกvel, e a legitimidade a quem nรฃo tem pelouro รฉ tambรฉm inquestionรกvel. Os lisboetas exprimiram-se de uma maneira em que a configuraรงรฃo que deram รฉ que temos aqui. Com ela, vamos ter de trabalhar. Nรฃo vale a pena tentar dizer que hรก menos legitimidade de um lado ou do outro. Assim nรฃo iremos a lado nenhum e nรฃo conseguiremos trabalhar.”
Portanto, mesmo um vereador sem pelouro pode fazer propostas que sรฃo depois discutidas e votadas em reuniรฃo do executivo da Cรขmara, onde podem estar todos os vereadores sentados, incluindo o Presidente e o Vice-Presidente. Se todos os vereadores ou a maioria concordar com a proposta, ela tem depois de ser executada pela Cรขmara.
Foi isso mesmo que aconteceu nesta quarta-feira, 11 de Maio, quando uma proposta do Livre com vรกrias medidas para a โreduรงรฃo da dependรชncia dos combustรญveis fรณsseis na Cidade de Lisboaโ acabou por ser discutida e aprovada pela Cรขmara de Lisboa. Mesmo com sete votos contra da lideranรงa do PSD/CDS, a abstenรงรฃo do PCP permitiu que o texto acabasse apreciado favoravelmente pelos restantes oito vereadores (cinco do PS, um Livre, um Cidadรฃos Por Lisboa e um do BE).
Apesar de em รบltima instรขncia o Presidente ser o mรกximo responsรกvel por todo o executivo de uma Cรขmara Municipal, nรฃo sรฃo precisas as afirmaรงรตes de Carlos Moedas aos jornalistas, a propรณsito da proposta agora aprovada do Livre, de que se tratou de “uma decisรฃo unilateral dos vereadores da oposiรงรฃo”, que “parece que sรฃo eles que governam” e que foi a coligaรงรฃo Novos Tempos que ganhou as eleiรงรตes, situaรงรฃo que “a oposiรงรฃo ainda nรฃo percebeu”.
E agora, a proposta avanรงa?
Em teoria, sim. Uma proposta com teor de deliberaรงรฃo que a “oposiรงรฃo” aprova por unanimidade ou maioria tem a mesma validade que qualquer outra proposta, por exemplo, que a proposta lanรงada por Carlos Moedas para transportes pรบblicos gratuitos. Assim, se o Livre avanรงa com uma proposta para reactivar o A Rua ร Sua na Avenida da Liberdade, encerrando esta artรฉria aos domingos, entรฃo a medida tem de ser implementada se e uma vez aprovada.
Uma proposta do Presidente Carlos Moedas que saiu de uma reuniรฃo extraordinรกria de Cรขmara em Outubro de 2021, onde foi aprovada por unanimidade, indica que “o texto das Deliberaรงรตes da Cรขmara Municipal de Lisboa” adquire “eficรกcia logo que seja aprovado em minuta e assinado”, o que acontece imediatamente a seguir a cada reuniรฃo.
Assim, em teoria, no prรณximo domingo a Avenida da Liberdade poderia ser jรก encerrada aos carros para a realizaรงรฃo do A Rua ร Sua. Mas na prรกtica, a situaรงรฃo รฉ mais complexa. Nรฃo tendo o vereador do Livre qualquer competรชncia executiva na รกrea da mobilidade ou do espaรงo pรบblico, caberรก ao vereador que a tem โ neste caso, รngelo Pereira โ avanรงar com a proposta. Poderรก fazรช-lo com outros vereadores e com o Presidente da Cรขmara.
รngelo e Moedas terรฃo agora de perceber como รฉ que a Cรขmara pode executar as diferentes medidas que constavam na proposta do Livre, incluindo a reactivaรงรฃo do A Rua ร Sua na Avenida da Liberdade ou a reduรงรฃo dos limites de velocidade mรกximos em 10 km/h. Mas a proposta pode seguir diferentes caminhos e pode nem sequer ser executada (mas jรก lรก vamos). Caberรก pelo menos ao Livre fiscalizar esse trabalho, e assegurar que as diferentes medidas aprovadas (cerca de oito no mesmo documento) sรฃo executadas.

As diferentes ideias podem ser integradas em pacotes ou iniciativas maiores que jรก estavam a ser preparadas pela Cรขmara de Lisboa ou que vรฃo ainda ser delineadas. Pode verificar-se que uma ou vรกrias medidas tรชm um impacto significativo no Orรงamento da Cรขmara jรก aprovado e aรญ terรก de passar por uma deliberaรงรฃo da Assembleia Municipal, uma vez que o Orรงamento terรก de ser alterado. Outro caminho รฉ a medida ser adiada, por exemplo, para o depois da requalificaรงรฃo de fundo prevista para a Avenida da Liberdade.
Essa requalificaรงรฃo, que jรก tem projecto feito pela empresa municipal SRU, inclui duas ciclovias segregadas unidireccionais nas lateriais, vรกrios atravessamentos ciclรกveis ao longo da avenida, passadeiras mais seguras, passeios mais largos e a reversรฃo das vias lateriais de circulaรงรฃo, onde voltaria a ser possรญvel percorrer de carro a avenida de alto a baixo. Com essa obra executada, fechar o miolo central da Avenida da Liberdade jรก seria mais fรกcil, uma vez que as lateriais poderiam servir para atravessamento entre o Marquรชs e os Restauradores (e vice-versa).
No mais pessimista dos cenรกrios, pode nem sequer ser executada, como dizรญamos e cair no esquecimento. Nรฃo seria inรฉdito isso acontecer. No mandato anterior, uma proposta apresentada em 2020 pela entรฃo vereadora sem pelouro Teresa Leal Coelho, do PSD, deliberava precisamente a reversรฃo dos sentidos de trรขnsito nas lateriais da Avenida da Liberdade com uma intervenรงรฃo simples e rรกpida, que permitisse rapidamente executar a alteraรงรฃo. Mas a Cรขmara presidida por Fernando Medina (PS) decidiu nรฃo executar a proposta da vereadora social-democrata โ aprovada com os votos favorรกveis de PS, PSD, CDS-PP e BE e a abstenรงรฃo do PCP โ e fazer a alteraรงรฃo dos sentidos de trรขnsito unicamente na intervenรงรฃo de fundo jรก prevista para a Avenida.
Tambรฉm no mandato anterior, o PCP propรดs a disponibilizaรงรฃo de uma bolsa de horas gratuitas a todos os novos utilizadores da GIRA โ que fossem “residentes no concelho de Lisboa e a estudantes que frequentem estabelecimentos de ensino localizados em Lisboa, bem como os trabalhadores com local de trabalho habitual no concelho de Lisboa” โ para que pudessem experimentar o serviรงo. A medida nunca chegou a ser implementada atรฉ hoje. ร proposta do Livre pode acontecer a mesma coisa.
Uma proposta incompleta?
Uma coisa รฉ certa: apesar de em teoria poder ser executada jรก no prรณximo domingo, se existisse um consenso e vontade polรญtica para tal, a proposta nรฃo estรก pronta do ponto de vista prรกtico. Como รฉ que seria fechada a Avenida da Liberdade aos domingos? O encerramento seria sรณ em um ou dois quarteirรตes ou em todos? O que aconteceria aos autocarros que atravessam a avenida? As lateriais ficaram disponรญveis para circulaรงรฃo e, se sim, como? Seria permitido circular nas lateriais de alto a baixo da avenida com intervenรงรฃo da Polรญcia Municipal? E como seria reduzida a velocidade mรกxima em todas as vias da cidade? Quanto custaria a mudanรงa de todos os sinais? Qual o faseamento da implementaรงรฃo da medida?
As dรบvidas sรฃo muitas e, ao contrรกrio do que fez com a proposta para a Avenida de Ceuta ou mais recentemente para a Avenida Almirante Reis, desta vez o Livre nรฃo apresentou esquemas, montagens e respostas para, por um lado, ajudar a visualizar a medida no concreto e, por outro, permitisse a sua execuรงรฃo. O partido explica que o intuito foi unicamente pegar nas recomendaรงรตes da Agรชncia Internacional da Energia (IEA) e adaptรก-las ao contexto lisboeta. Na verdade, tanto o encerramento de ruas e avenidas aos domingos como a reduรงรฃo em 10 km/h das velocidades mรกximas de circulaรงรฃo, foram ideias apontadas pela IEA como prioritรกrias para para paรญses e cidades reduzirem, em quatro meses, a sua dependรชncia do petrรณleo em 2,7 milhรตes de barris por dia, fazendo face ร s alteraรงรตes climรกticas e a crises de combustรญveis fรณsseis como a que a Guerra na Ucrรขnia despoletou.
O Livre diz que submeteu a proposta a 12 de Abril, tendo ficado a aguardar o seu agendamento numa reuniรฃo da Cรขmara de Lisboa desde entรฃo. O Regimento da Cรขmara Municipal de Lisboa, que define entre outras coisas o modo de funcionamento das reuniรตes do executivo, determina que as propostas dos vereadores tรชm de ser discutidas numa das duas reuniรตes seguintes:
“as Propostas de inclusรฃo na Ordem de Trabalhos ser apresentadas pelos Vereadores ao Presidente da Cรขmara com a antecedรชncia mรญnima de seis dias relativamente ร data da reuniรฃo, devendo estas ser incluรญdas atรฉ ร segunda reuniรฃo apรณs a sua apresentaรงรฃo, sob pena de ficarem automaticamente agendadas para a terceira reuniรฃo apรณs a sua apresentaรงรฃo”
โ Regimento da Cรขmara Municipal de Lisboa
Ora, entre a submissรฃo da proposta a 12 de Abril e a reuniรฃo que decorreu na passada quarta-feira, 11 de Maio, realizaram-se seis reuniรตes de Cรขmara. Com o Regimento por cumprir, o Livre diz que conseguiu por insistรชncia que a proposta fosse discutida nesta quarta-feira, com a inclusรฃo do documento ร รบltima hora na Ordem de Trabalhos. Com um mรชs a aguardar agendamento, a proposta esteve disponรญvel durante um longo perรญodo de tempo para anรกlise por todos os vereadores. O Livre diz que sรณ o PCP apresentou propostas de alteraรงรฃo, tendo-o feito na vรฉspera.
Todos os vereadores terรฃo tido desde 12 de Abril para analisar e sugerir alteraรงรตes ร proposta. O Livre explicou ao Lisboa Para Pessoas que sรณ o PCP o fez de vรฉspera. “Como todas as propostas que apresentรกmos atรฉ agora, estivemos sempre disponรญveis para conseguir o consenso mais alargado possรญvel. Apenas os Vereadores do PCP nos fizeram chegar, na vรฉspera, sugestรตes de alteraรงรฃo que nรฃo incorporamos porque alteravam significamente a proposta”, escreveu Paulo Muacho, porta-voz do Gabinete do Livre na Cรขmara de Lisboa, no Twitter. E acrescentou: “Carlos Moedas tem a sobranceria de quem conseguiu uma minoria nas eleiรงรตes mas quer governar como se tivesse maioria absoluta. A proposta do Livre esteve um mรชs para ser agendada, incumprindo atรฉ o Regimento da CML e nรฃo recebemos um รบnico contacto ou tentativa de negociaรงรฃo.”
As declaraรงรตes do responsรกvel do Livre surgem em resposta ร s acusaรงรตes de Carlos Moedas ร imprensa. O Presidente da Cรขmara disse que “รฉ uma proposta que mostra a soberba e que mostra, de certa forma, que a oposiรงรฃo nรฃo estรก a perceber que aquilo que o que as pessoas querem em Lisboa รฉ poder decidir. Eu sou e quero ser o presidente da cรขmara que luta pela sustentabilidade, pelas modificaรงรตes que sรฃo precisas fazer nas cidades, mas nรฃo contra as pessoas”. No entanto, os vereadores da lideranรงa do PSD/CDS terรฃo tido acesso ร proposta em causa durante um perรญodo alargado, permitindo-lhes sugerir alteraรงรตes e incluir, por exemplo, a necessidade de um debate alargado sobre o A Rua ร Sua ou a reduรงรฃo dos limites de velocidade na cidade โ o que iria ao encontro da posiรงรฃo de Moedas: desenvolver uma cidade participada, construรญda com o envolvimento dos cidadรฃos e em diรกlogo entre todos os partidos.

O PCP, pela voz do vereador Joรฃo Ferreira, explicou porque se absteve na votaรงรฃo: “ร uma proposta que consiste num emaranhado amplo e de alguma forma desconexo de medidas de cariz muito diverso, que vรฃo desde o trรขnsito atรฉ outras que nada tรชm a ver com trรขnsito. A nossa perceรงรฃo รฉ que foi elaborada de uma forma que em termos prรกticos dificulta a sua implementaรงรฃo porque pretende tocar รกreas muito diversas, mas acaba por o fazer de uma forma pouco consistente”, disse ร agรชncia Lusa. Como exemplos, Joรฃo Ferreira referiu que a proposta nรฃo prevรช o envolvimento dos serviรงos municipais nas mudanรงas de trรขnsito, um estudo sobre o seu impacto, viabilidade e forma de aplicaรงรฃo ou a consulta ร populaรงรฃo, aos “agentes econรณmicos” e ร s Juntas de Freguesia.
“A Cรขmara Municipal de Lisboa tem um conjunto amplo de serviรงos municipais com intervenรงรฃo quotidiana nalgumas das รกreas tocadas pela proposta. Cabe na cabeรงa de alguรฉm avanรงar para decisรตes como aquelas que ali estรฃo sem envolver esses serviรงos, sem os pรดr a estudar as medidas que sรฃo propostas, sem os pรดr a estudar as consequรชncias dessas medidas, sem ouvir deles uma opiniรฃo no sentido de melhorar a prรณpria aplicaรงรฃo das medidas, de recolher sugestรตes do eventual calendรกrio para a sua aplicaรงรฃo?”, questionou, apesar de reconhecer o “sentido positivo” da iniciativa.
O voto contra dos dois vereadores do PCP (ou de apenas um) seria suficiente para reprovar a proposta do Livre na reuniรฃo da Cรขmara Municipal.
As reacรงรตes
As reacรงรตes da sociedade civil chegaram de diferentes lados. Num directo na quinta-feira de manhรฃ, na SIC Notรญcias, รlvaro Covรตes, director da Everything Is New, mostrou-se preocupado com o acesso das pessoas equipamentos culturais da cidade que existem na zona da Avenida e tambรฉm na Baixa. Em declaraรงรตes ร agรชncia Lusa, Pedro Leal, presidente da associaรงรฃo Avenida da Liberdade, que representa lojas, hotรฉis, restaurantes e serviรงos, disse que a medida “surge de forma inesperada e sem haver qualquer tentativa de diรกlogo e de compreensรฃo dos impactos que isto teria. ร uma bomba que acaba de explodir”.
Jรก Carla Salsinha, presidente da Uniรฃo de Associaรงรตes de Comรฉrcio e Serviรงos (UACS), apontou ao jornal Pรบblico que a medida “vai prejudicar muito os comerciantes” e exemplifica que as grandes avenidas de Paris, Roma ou Londres nรฃo fecharem ao trรขnsito no fim-de-semana. “O que resolve o problema รฉ ter melhores transportes pรบblicos, com metro e autocarros de dois em dois minutos, ou trรชs em trรชs minutos e incentivos para que as pessoas deixem os carros em casa.” E Junta de Freguesia de Santo Antรณnio apontou ร revista Sรกbado que รฉ uma proposta “feita por quem nรฃo conhece nada da cidade para onde foi eleito”.
Ao Pรบblico, Fernando Nunes da Silva, especialista nas รกreas do Planeamento, Urbanismo e Ambiente, no Instituto Superior Tรฉcnico, e ex-vereador da Mobilidade na Cรขmara de Lisboa num executivo PS, disse que fechar ruas ao trรขnsito periodicamente รฉ “uma belรญssima ideia” e sugere que as Juntas de Freguesia tenham tambรฉm uma palavra a dizer sobre o assunto. E Manuel Joรฃo Ramos, presidente da Associaรงรฃo de Cidadรฃos Auto-Mobilizados (ACA-M), disse ร agรชncia Lusa estar satisfeito com a proposta mas receia que “todas estas iniciativas tenham como foco a promoรงรฃo turรญstica e isso รฉ que me parece negativo”, pois “o objectivo deve ser a protecรงรฃo dos peรตes”.
O fecho da Avenida da Liberdade ao trรขnsito aos domingos foi, de todas as oito medidas apontadas pelo Livre, a que gerou mais controvรฉrsia. Carlos Moedas, por exemplo, nรฃo chegou a comentar directamente a proposta de reduzir em 10 km/h a velocidade mรกxima, mas neste caso tambรฉm as posiรงรตes se dividem. Nunes da Silva aponta que รฉ importante a implementaรงรฃo das Zonas 30 que jรก estรฃo previstas no Plano Director Municipal (PDM), mas tem dรบvidas quanto a reduzir a velocidade na Segunda Circular de 80 para 70 km/h. Para o engenheiro, nรฃo bastarรก ter um sinal indicativo da velocidade, mas sim investir numa “alteraรงรฃo do ambiente urbano nessa zona para criar no condutor elementos de reforรงo da sua atenรงรฃo e inibidores de velocidade excessiva”. A ACA-M refere que “รฉ muito importante que a velocidade reduza para 30 km/h em meio urbano, para que os automรณveis possam conviver com os chamados meios suaves de locomoรงรฃo. Nรฃo podemos continuar a ter 50 km/h sobretudo em zonas partilhadas, que podem ser mortais”.
Esta manhรฃ, o actual vereador de Mobilidade, รngelo Pereira, e o anterior vereador com essa pasta, Miguel Gaspar, estiveram a debater o tema na Rรกdio Observador. Miguel Gaspar apontou que as medidas que constam na proposta do Livre estรฃo em documentos como o Plano de Acรงรฃo Climรกtica 2030 (PAC 2030), aprovado jรก neste mandato, com o voto favorรกvel do PSD, e a estratรฉgia de mobilidade MOVE 2030, aprovada no mandato anterior, tambรฉm com o voto favorรกvel do PSD.
Pela imprensa, sabe-se que hรก reuniรตes marcadas para os prรณximos dias. Agora o tema estarรก nas mรฃos de Moedas e do Livre.