Às Árvores: manifesto-proposta por uma Lisboa floresta

Opinião de Pedro Miguel Santos.

Apresento-vos a campanha/movimento/iniciativa/o que lhe queiram chamar “Árvores em Todas as Ruas de Lisboa”. É muito simples. Significa espalhar a ideia e pressionar os poderes públicos para que em todas as ruas de Lisboa haja árvores. Todas é mesmo todas.

O reclame luminoso da farmácia da minha rua marca 16h38m. Também me diz que estão 39º. À sombra. Não estou ao sol porque ele se movimenta durante o dia e os prédios fazem o favor de deixar a sua silhueta arrastar-se. Nos cerca de 380 metros desta artéria de Arroios, bem no centro da capital, há duas árvores e um arbusto. É das freguesias lisboetas que menos tem.

Estamos a 13 de julho do ano da graça de 2022. A República está em Situação de Contingência. O país arde. Como já se sabia que ia arder. E sufoca. Como já se sabia que ia sufocar. Ontem, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera divulgou um modelo de previsão de temperaturas para tarde de hoje. Havia manchas brancas assinaladas no mapa, o que significava que a temperatura máxima prevista ultrapassava a da própria escala da carta. A escala terminava nos 46º.

Estamos a arder, a cozer em fogo vivo, a viver num forno. Tudo vai ser pior. Mais frequente. Mais intenso. Vamos ter de aprender a viver assim. Precisamos de nos adaptar, de transformar os locais onde vivemos. Encontrar maneiras de lidar com o calor. Precisamos de árvores.

Qualquer pessoa que esteja em Lisboa meia dúzia de dias percebe rapidamente duas coisas: há carros a mais e árvores a menos. Quando a canícula se impõe torna-se por demais óbvio: não há sombras, não há frescura, é quase impossível caminhar a pé. Os passeios de calcário são sorvedouros de calor, e devolvem-no à atmosfera com a mesma sofreguidão com que o sugaram. Juntem a isso o pára-arranca dos milhares de carros, a falta de brisa e o que temos nas nossas ruas entre colinas é uma sauna. De ar quente e poluído. Há centenas de ruas sem uma única árvore, sem abrigo do sol, sem o canto dos pássaros, sem flores, sem abelhas, sem diversidade de vida.

Precisamos de baixar a temperatura das nossas cidades ou não conseguiremos viver nelas. Pelo menos as pessoas pobres, que andam a pé, de transportes públicos, que não têm carro. As que vivem em casas mal isoladas, sem ar condicionado. As que não saem de casa de manhã, não descem num elevador até à garagem, não entram num veículo até ao local de trabalho, aonde voltam a estacionar noutra garagem, para subir noutro elevador, até se sentarem numa confortável cadeira. Tudo isto climatizado.

Se vivem nesta cidade, cá trabalham ou simplesmente gostam dela, digo-vos: precisamos arregaçar as mangas.

Ideia

Árvores em todas as ruas de Lisboa. Quando digo todas, é todas. Seja no Restelo, num bairro municipal em Santa Clara ou numa qualquer azinhaga esquecida de Marvila. Todas as ruas de Lisboa devem ter árvores plantadas.

Acção

Lisboa tem demasiado espaço público reservado aos carros. Se já é difícil termos passeios onde as pessoas possam circular com conforto e segurança, imaginem ainda retirar espaço para plantar árvores. Proponho algo mais radical, que vá à raiz do problema. Por cada três lugares de estacionamento existentes um é retirado e dará lugar à plantação de uma árvore. É simples: 2 carros / 1 árvore. Esse espaço que era antes ocupado por um veículo passa a ser reservado na íntegra para plantação de espécies vegetais, arbustivas, instalação de mobiliário urbano como pequenas mesas ou bancos.

Parece simples, tenho a certeza de que não será. Obrigará a estudos vários, não só para sabermos que espécie será mais adequada a cada rua (seja devido à orientação solar, seja pelos regimes de pluviosidade) mas, também, porque nalguns casos pode ser contraproducente plantar árvores, elas podem impedir uma boa dispersão de poluentes e arejamento da zona. Não seja por isso: façam-se pérgolas, latadas, corredores inteiros de trepadeiras misturadas de espécies frutíferas e ornamentais. Desde que haja sombreamento e vida verde, discutamos soluções.

Se isto não se aprova em reunião de Câmara, que se tente via Juntas de Freguesia. Se não der resultado, que se vá aos Orçamentos Participativos. Se ainda assim não der, tentemos associações locais, escolas, igrejas, comissões de moradores, sindicatos, quem vier por bem.

Se mesmo assim a coisa der para o torto, olhem, estou por tudo. Se não fazem as autoridades, fazem as pessoas: picareta, pá, enxada, terra, árvores, água. Plantem no outono, que é quando as raízes das árvores se desenvolvem melhor, o que aumenta a sua taxa de sobrevivência. Ou, então, inspirem-se nestas histórias:

O que vou fazer

Honestamente, só sei que será duro. Sei que a ideia de retirar lugares de estacionamento é tudo menos popular; que tanto o executivo municipal, como a Junta de Freguesia de Arroios, onde moro, não verão a ideia com bons olhos. Mas é o que menos me importa. Vivemos em Democracia e as ideias são armas muito poderosas. Quero viver numa cidade onde toda a gente tem direito a andar na rua, faça chuva ou faça sol. Tenho direito a usufruir de uma Lisboa com árvores, a andar a pé numa Lisboa com sombra, a ouvir o chilrear dos pássaros. Se já chegámos ao tempo em que se acha isto utópico, então morreram as utopias.

Para já, vou atirar-me a isto:

  • Começar a divulgação nas e das redes sociais das ideias base: Árvores em todas as ruas de Lisboa = 2 carros / 1 árvore;
  • Apresentar uma candidatura ao Orçamento Participativo de Lisboa 2022 para a freguesia de Arroios;
  • Agregar pessoas e vontades em torno desta ideia;
  • Reunir com decisores políticos e instituições públicas e privadas para apresentar a ideia.

Como podes ajudar?

Serão precisas muitas mãos para fazer esta ideia passar da teoria à prática.

Divulga as páginas das redes sociais [Twitter, Instagram e Facebook], partilhando as informações que forem sendo divulgadas e convidando pessoas das tuas relações familiares e amizades.

Podes também enviar-me um email, explicando de que forma poderias ajudar para arvorestodasruaslisboa@gmail.com.

Quem sou

Chamo-me Pedro Miguel Santos. Gosto de dizer que sou um rapaz do campo. Cresci e vivi a maior parte da minha vida numa aldeia no concelho de Porto de Mós, mas moro por Lisboa, ou nos seus arredores, há já 14 anos.

Sou jornalista, trabalho no Fumaça. Comecei na VISÃO. Pelo meio, fiz uma pausa na informação, e ajudei a dar vida ao Projeto Rios Livres, da associação ambientalista GEOTA.

Não sou de me ficar quando acho que as coisas precisam de ser mudadas.
Para os tempos que aí vêm adotei o seguinte lema: Sous les pavés, les arbes.

Às Árvores.

Lisboa, 13/14 de julho de 2022
Pedro Miguel Santos

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