Espanha tem uma nova linha de comboio e a CP vai ajustar a oferta na Linha do Leste, encurtando a partir de 31 de Julho a viagem entre as Lisboa e Madrid. As capitais ibéricas ficarão a menos duas horas e um transbordo de distância. Espanhola Renfe tentou convencer a CP a lançar já uma…

A viagem começa num Intercidades a partir de Lisboa, muda para uma Allan verde a diesel no Entroncamento e, à chegada a Badajoz, prossegue num Intercity directo rumo a Madrid. No total, e a partir de 31 de Julho, serão nove horas e três comboios diferentes entre as duas capitais ibéricas – menos duas que actualmente – com o reforço da oferta do lado da CP e também da espanhola Renfe.
A CP vai ajustar a oferta na Linha do Leste a 31 de Julho para responder à nova infraestrutura ferroviária que Espanha acabou de apresentar entre Madrid e Badajoz (já lá vamos). Assim, não só a ligação por comboio entre Lisboa e a capital espanhola ficará encurtada em duas horas (passa de 11 para nove horas), como passarão a ser necessários três comboios em vez de quatro (ou seja, dois transbordos em vez de três) para realizar a viagem. No percurso inverso, entre Madrid e Lisboa, a deslocação demorará nove horas e 30 minutos. Mas vamos ao roteiro completo:
- De Lisboa para Madrid: apanhar o Intercidades em Santa Apolónia às 12h30, que chega ao Entroncamento às 13h30; seis minutos para trocar para o comboio Regional que segue até Badajoz, chegando às 16h26 (hora portuguesa). De Badajoz, o Intercity da Renfe parte dez minutos depois, às 17h36 (hora espanhola), chegando às 22h18 à estação de Madrid-Chamartín.
- De Madrid para Lisboa: apanhar o Intercity de Madrid-Chamatín às 8h30 (hora espanhola), que chega às 13h24 a Badajoz. Depois de 16 minutos de espera, parte às 12h40 (hora portuguesa) o comboio Regional da CP em direcção ao Entroncamento, onde chega às 15h40. Por fim, basta espera 20 minutos pelo Intercidades que segue para Lisboa-Santa Apolónia, com previsão de chegada às 17h00.
Mais um horário mas os mesmos comboios
A Linha do Leste passará a ter, a partir de 31 de Julho, dois comboios diários por sentido em vez de um. Actualmente, existe apenas uma ligação a partir de Santa Apolónia às 8h45 e a chegar a Badajoz às 14h14, passando pelo Entroncamento; e no sentido inverso, a sair de Badajoz às 16h24 e a chegar a Lisboa às 20h20. Mas, como a Renfe só colocará o Intercity a fazer uma ligação diária por sentido entre Badajoz e Madrid, apanhar o comboio que hoje existe obrigaria a um grande tempo de espera na cidade fronteiriça espanhola.
Na Linha do Leste, continuarão a circular as automotoras verdes Allan, que, segundo o jornalista Carlos Cipriano do Público, “é o material mais antigo que a CP tem ao seu serviço e que só circulam na Linha do Leste”. Foram construídas na Holanda nos anos 1950, tendo tido o seu tempo de vida prolongado com uma modernização realizada nos anos 1990. Circulam a uma velocidade máxima de 100 km/h, funcionam a diesel e, segundo reporta o Público, “as avarias destas automotoras no Alto Alentejo têm sido frequentes”. Carlos Cipriano escreve que a CP não tem material a diesel mais moderno para a Linha do Leste porque a frota existente está em uso nas linhas do Douro, Minho, Oeste e Algarve – só com a electrificação destes troços e com a chegada de comboios novos, eléctricos, será possível libertar automotoras a diesel para outros serviços que, para já, se vão manter a diesel, como é o caso da Linha do Leste.
Com um serviço limitado no lado português, foi em terras espanholas que se ganhou menos tempo de viagem entre as duas capitais ibéricas. Espanha abriu, no final de Junho, um novo troço de 150 quilómetros de alta velocidade entre Badajoz e Plasencia; ainda sem electrificação (só estará feita no próximo ano), a velocidade de circulação será, por agora, de 180 km/h – em vez dos futuros 250 km/h –, o que garante, ainda assim, menos 51 minutos de viagem entre Badajoz e Madrid em relação ao passado.
Espanhola Renfe sugeriu comboio directo de 7 horas, mas CP rejeitou
O Intercity que circulará nesse novo troço espanhol e que fará a ligação entre Badajoz e Madrid é um comboio Talgo “todo-o-terreno”, apto para alta velocidade, e que funciona tanto a electricidade como a diesel, tanto em bitola ibérica como europeia, e também em dois tipos de tensão eléctrica. De acordo com o Público, a espanhola Renfe queria prolongar este comboio até Lisboa, mas a parceira CP não mostrou interesse em usar a Linha do Leste para isso, preferindo a Beira Alta e a ligação a Espanha por Salamanca, onde há mais mercado.
O jornalista Diogo Ferreira Nunes do ECO escreve que, com um entendimento entre Renfe e CP para o prolongamento do Intercity a Lisboa, a viagem poderia ser encurtada a sete horas – o comboio circularia em bitola ibérica e europeia e sob tensão eléctrica dos dois lados da fronteira (25 mil volts em Portugal e 3 mil volts em Espanha). Segundo o Público, a Renfe propôs mesmo uma divisão de despesas e receitas (mas sobretudo de despesas porque o serviço será deficitário) no trajecto português.
O novo troço de 150 quilómetros no lado espanhol vai integrar a futura ligação de alta velocidade entre Madrid e Lisboa, que em Portugal passará pela zona de Évora, estando neste momento em construção uma nova linha de alta velocidade (250 km/h) entre Évora e Badajoz. As primeiras previsões avançadas apontavam para a conclusão deste troço e para a entrada em operação desta ligação rápida entre as duas metrópoles (cinco horas) em 2023. Em Março de 2020, a pandemia de Covid-19 foi desculpa para o fim do comboio nocturno Lusitânia entre as duas capitais, por decisão unilateral da Renfe. O ECO refere ainda que, em 1989, a ligação ferroviária diurna entre Lisboa e Madrid demorava menos tempo do que vai demorar a partir de 31 de Junho: apenas oito horas com o comboio directo Talgo “Luís de Camões”.