Uma melhoria à actual Linha do Sul com a nova ponte no Tejo permitira colocar Lisboa a 2 horas de Faro. Já uma nova linha, de alta velocidade, entre Lisboa e Faro colocaria as duas cidades a 1h40, ligando ao mesmo tempo Évora e Beja ao Algarve.

Numa apresentação realizada na comemoração dos 100 anos da chegada do comboio da Lagos, a Infraestruturas de Portugal (IP), responsável pela gestão da rede ferroviária nacional, abordou duas alternativas que estarão a ser consideradas para reduzir o tempo de viagem entre Lisboa e o Algarve: uma delas passa por melhorar a actual Linha do Sul, permitindo um tirar entre 30 minutos e 1h à viagem actual, e outra com a construção de uma nova linha, de alta velocidade, que permitiria poupar 1h20.
As duas opções estão a ser pensadas no âmbito do Plano Ferroviário Nacional (PFN) que ainda está a ser construído e que deverá consistir num documento orientador dos futuros investimentos ferroviários a serem feitos pelo país logo que existam oportunidades de financiamento. Em relação à ligação entre Lisboa (Entrecampos) e Faro, existem várias questões levantadas pela IP, como quais os limites da infraestrutura actual, que vantagens existem na eventual construção de uma linha nova, de alta velocidade, entre as duas cidades, se existiriam ganhos significativos em termos de tempo que justificassem essa opção e se seria possível fasear esse investimento.

Actualmente, pela Linha do Sul (que liga Lisboa a Faro pela Ponte 25 de Abril), uma viagem entre Lisboa (Entrecampos) e Faro pouco mais que 2h50; entre Lisboa e Lagos são cerca de 3h40 e para Vila Real de Santo António são mais de 4h. Mas…
- Intervindo na Linha do Sul entre Torre Vã e Faro, como está previsto no Programa Nacional de Investimentos para 2030 (PNI 2030), será possível tirar meia hora a esta viagem: de Entrecampos a Faro seriam 2h30 de comboio; para Lagos seriam 3h10 com transbordo em Tunes;
- Se acrescentarmos a esse investimento a muito adiada e aguardada Terceira Travessia do Tejo (TTT), seria possível cortar mais meia hora: 2h entre Lisboa-Oriente e Faro e 2h40 para Lagos (com o transbordo em Tunes).

Segundo a IP, esta opção de melhorar a actual Linha do Sul tem duas vantagens: permite um investimento faseado (primeiro investir na Linha e depois fazer a TTT) e optimizar a infraestrutura existente. No entanto, uma eventual nova linha de alta velocidade na zona Sul do país poderia colocar Lisboa a 1h40 de Faro, ou seja, significaria uma redução adicional de 20 minutos. A IP pensou num traçado que incluísse Évora e Beja, o que permitira incluir as duas principais cidades alentejanas do interior no acesso ao Algarve. No entanto, esta alternativa tem duas desvantagens: a impossibilidade de fasear o investimento e o facto de a alta velocidade retirar apenas 20 minutos adicionais à viagem em relação a um aproveitamento do canal actual (1h20 vs 1h de redução).

No PNI 2030, está prevista a “construção de variantes ao traçado entre Torre Vã e Tunes (Linha do Sul), permitindo obter trocos mais extensos de velocidade homogénea mais elevada e, por conseguinte, reduzindo os tempos de viagem”, bem como a “modernização do troco Casa Branca-Beja da Linha do Alentejo, incluindo electrificação e instalação de sistemas de sinalização e telecomunicações”. Este investimento, estimado em 230 milhões de euros e com um horizonte temporal 2021-2025, “inclui ainda o estudo da viabilidade e pertinência das ligações ferroviárias aos aeroportos de Faro e de Beja”.
Beja-Funcheira desconsiderada
De fora do investimento previsto fica a reactivação e electrificação do troço entre Beja e Funcheira (actual Linha do Alentejo), que permitiria colocar comboios entre Lisboa, Évora, Beja e o Algarve; estes comboios não iriam ser os mais directos entre a capital e Faro mas permitiriam ligar as maiores cidades do interior alentejano ao Algarve e criar uma redundância à actual Linha do Sul, conforme especialistas têm vindo a defender.

A Linha do Alentejo liga o Barreiro (Lisboa) à Funcheira, passando por Évora e Beja. O troço entre Beja e a Funcheira está desactivado desde 2012. Por isso, se hoje a população do Alentejo quiser ir de comboio ao Algarve tem de subir a Linha do Alentejo toda até Lisboa para aí apanhar a Linha do Sul, descendo tudo novamente. Com a reabertura da ligação entre Beja e Funcheira, não só o Alentejo passaria a estar mais próximo do sul como várias populações voltariam a ter o comboio à porta.
Segundo o Dinheiro Vivo, seriam necessários entre 77 e 86 milhões de euros para a modernização e electrificação do troço entre Beja e a Funcheira. A diferença de valores diz respeito à ambição do investimento: 77 milhões para comboios a circular a 140 km/h, 86 para 200 km/h. Simultaneamente, a electrificação do troço entre Casa Branca e Beja custaria 68 ou 94 milhões – a diferença também tem a ver com a ambição. Contas feitas, seriam precisos 145-180 milhões de euros para modernizar 127,2 quilómetros de ferrovia no Alentejo e colocar a Casa Branca e a Funcheira a cerca de 1 hora de distância, em vez de quase 2 horas, aproximando ao mesmo tempo o Alentejo do Algarve e da capital.
Podes descarregar, de seguida, a apresentação completa realizada pela Infraestruturas de Portugal no âmbito do centenário da chegada do comboio da Lagos, no dia 29 de Julho, pelo vice-presidente da empresa, Carlos Fernandes:
De salientar que esta foi a primeira vez que se ouviu falar de uma ligação de alta velocidade a Sul. Para já, o único investimento previsto e assegurado é entre Lisboa e Porto, estando prevista a sua conclusão até 2030. A nova linha será alternativa à Linha do Norte actual e será construída por fases. A primeira parte, entre o Porto e Soure, poderá ficar concluída em 2026-2028 e já permitirá uma viagem entre Lisboa e Porto em menos de duas horas. 1h17 de viagem só em 2028-2030. Leiria irá ficar a menos de 40 minutos de Lisboa, e Coimbra a menos de uma hora. Mais detalhes aqui.