Petição com 1200 assinaturas por ciclovias na baixa esbarra na parede dos planos e estudos

Petição, organizada pelo colectivo Lisboa Possível e discutida na Assembleia Municipal, propunha ciclovias de ligação entre a baixa e o rio e ao longo deste. Vereador da Mobilidade, Ângelo Pereira, disse que primeiro é preciso estudar, planear e enquadrar essas ciclovias no futuro PMUS.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

A Assembleia Municipal de Lisboa (AML) discutiu uma petição com mais de 1200 assinaturas por uma rede de ciclovias na baixa da cidade. Lançada em Fevereiro deste ano, a petição tinha dado entrada em Abril na AML, tendo, como habitual, sido analisada primeiro na especialidade e depois apreciada por todos os deputados municipais, em plenário. Os peticionários pediram ciclovias na baixa de Lisboa em dois eixos (Norte-Sul e Este-Oeste), mas não saíram da AML com as notícias mais favoráveis.

“Escolhemos andar de bicicleta mas temos medo de passar na baixa lisboeta” – assim começava o texto da petição que, entre Fevereiro e Abril, reuniu 1268 assinaturas recolhidas online e offline. “A baixa é o coração da cidade que liga os bairros de Lisboa ao Rio Tejo. Representa a nossa identidade e é o nosso ponto de encontro. Aqui misturamo-nos todos: quem visita e quem cá mora, quem está em negócios e de férias. É a parte mais apetecível desta cidade, que deve ser segura, humana e acolhedora para todos. – prosseguia.

Pedro Ramos, utilizador da bicicleta e o primeiro peticionário, sugeria três ciclovias em dois grandes eixos: no eixo Norte-Sul, uma ciclovia segregada na Avenida da Liberdade para unir a Avenida da República ao Rossio e, a partir daqui, uma outra ciclovia a ligar o Rossio, a Praça da Figueira e o Cais das Colunas, na Praça do Comércio; no eixo Este-Oeste, uma ciclovia a unir o Campo das Cebolas à Ribeira das Naus, atravessando a Praça do Comércio e permitindo chegar ao Cais do Sodré. “Criar estas ciclovias significa proteger as nossas vidas, a nossa saúde, o nosso ambiente e a nossa riqueza cultural. Criar estas ciclovias, é um passo para a Lisboa do futuro” – concluía o texto. A petição foi organizada por Pedro, em conjunto com o colectivo activista Lisboa Possível.

Ouvido pela 8ª Comissão Permanente da Assembleia Municipal, que trata as questões de Mobilidade, o Vereador Ângelo Pereira, que detém essa mesma pasta na Câmara de Lisboa, revelou que o eixo Este-Oeste proposto faz parte do compromisso do actual executivo para criar ciclovia ribeirinha contínua entre o Parque das Nações e Algés, pelo que irá realizar-se. Já o eixo Norte-Sul terá de “ser visto de uma forma mais cuidada, mais planeada, bem estudada, e deverá ser enquadrado no Plano de Mobilidade Urbana Sustentável que está em preparação na CML”, disse o Vereador, conforme citado no relatório que a Comissão referida elaborou sobre a petição.

Ou seja, a ligação entre o Campo da Cebola e o Cais do Sodré vai acontecer integrado no projecto da ciclovia ribeirinha; mas a ligação entre a Avenida da Liberdade e o rio terá de aguardar pela auditoria à rede ciclável e pelo Plano de Mobilidade Sustentável (PMUS). Recorde-se que Câmara de Carlos Moedas decidiu suspender novos projectos de ciclovias até ser feita uma avaliação de segurança à actual rede; essa auditoria deverá ser realizada por uma entidade externa através de concurso público, ainda por lançar. Ao mesmo tempo, é vontade do actual executivo desenvolver, por fim, um PMUS para a cidade de Lisboa, integrando nesse plano a expansão da rede ciclável; este projecto será também elaborado por uma entidade externa através de concurso, ainda por lançar.

Plano de expansão de ciclovias da CML

No plano de expansão da rede ciclável de Lisboa, agora suspenso, estão previstas várias ciclovias na baixa da cidade – projectos que se concretizariam com ZER ABC:

  • ciclovia bidireccional entre a Avenida da Liberdade e a Praça do Comércio, passado pelo Rossio e atravessando a Rua do Ouro;
  • ciclovia bidireccional entre a Rua João das Regras (onde termina a pista da Almirante Reis), passando pela Praça da Figueira e atravessando a Rua dos Fanqueiros;
  • ciclovia bidireccional entre o Rossio e a Praça da Figueira, ligando as duas anteriores;
  • ciclovias unidireccionais na Rua de São Julião e na Rua do Comércio, ligando a ciclovia dos Fanqueiros à da do Ouro, permitindo assim o acesso à Praça do Comércio;
  • ciclovia de tipologia não definida na frente ribeirinha da Praça do Comércio, fazendo a ligação entre o Campo das Cebolas e a Ribeira das Naus (está prevista um troço bidireccional entre esta e o Cais do Sodré pelo Largo Corpo Santo).

Mesmo tendo sido adiado, e apesar da reavaliação que o executivo de Moedas pretende fazer, o plano ciclável para a baixa pode vir a manter-se por revelar-se o mais adequado.

Proposta de ciclovia na Rua do Ouro conforme mostrado na apresentação da ZER ABC (via CML)

Voltando à Assembleia Municipal. Além do Vereador Ângelo Pereira, a 8ª Comissão Permanente ouviu os Presidentes de Junta das freguesias de Santo António e de Santa Maria Maior, cujas posições podes ler no relatório sobre a petição, disponível em baixo. Esse documento inclui ainda cinco recomendações, que foram posteriormente aprovadas por maioria pelos deputados municipais. São recomendações da Assembleia para a Câmara, isto é, medidas sem carácter vinculativo que esta pode implementar ou não. Entre as recomendações feitas, pede-se que a autarquia estude as “melhores soluções melhores soluções para a implementação de ciclovias na baixa de Lisboa, assegurando a ligação ciclável com as ciclovias já existentes e a baixa da cidade e com a Frente Ribeirinha”.

A petição lançada por Pedro Ramos e pelo colectivo Lisboa Possível reintroduziu o tema das ciclovias na agenda política; no entanto, o pedido com mais de 1200 assinaturas esbarrou na parede dos planos e estudos – para já, nada vai acontecer mas, dos dois eixos sugeridos, deverá ser mais rápida a concretização da ligação ribeirinha por ser promessa eleitoral. Há uma vontade política clara de criar uma ciclovia ao longo do rio sem descontinuidades; este projecto está nas mãos da EMEL, que irá estudar o traçado em 2023. Recorde-se que a ideia não é criar uma pista nova mas antes resolver as situações onde existem actualmente interrupções.

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