A nova parcela do Jardim da Gulbenkian desenvolve-se em harmonia com o existente, densificando a vegetação com espécies autóctones; desenha-se um novo lago central e cria-se uma nova entrada a Sul, sobre a rua Marquês de Fronteira, abrindo o Jardim à cidade e aos visitantes.

No final de 2022, tapumes metálicos começaram a rodear o muro de pedra do antigo parque medieval de Santa Gertrudes, que o empresário Eugénio de Almeida mandou edificar no século XIX, na zona que hoje é conhecida por São Sebastião. Em Dezembro, os referidos muros começaram a ser deitados abaixo. É que o Jardim da Gulbenkian vai crescer para sul e abrir-se aqui à cidade, com um projecto de arquitectura paisagista do libanês Vladimir Djurovic, que seguiu os contornos dos autores do Jardim original dos anos 1960, António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles.
A obra de prolongamento do Jardim iniciou-se meses depois de ter arrancado a expansão do Centro de Arte Moderna (CAM) da Gulbenkian. Se este edifício irá ganhar novos espaços de exposição e uma pala gigante (e possivelmente icónica) – num projecto assinado pelo japonês Kengo Kuma –, o lado Sul do Jardim procurará relacionar-se com o novo CAM, ligando-se ao seu interior e, ao mesmo tempo, respeitando as linhas e ambientes do Jardim já existente. Aliás, Vladimir Djurovic e Kengo Kuma trabalharam em conjunto para que o crescimento da Gulbenkian fosse realizado em harmonia.

Numa conferência de apresentação do projecto do Jardim, que se realizou no final de 2022 e que contou com a presença do próprio Vladimir Djurovic, o arquitecto paisagista mostrou alguns dos principais trabalhos do seu estúdio, o Vladimir Djurovic Landscape Architecture, sediado no Líbano, onde nasceu. Djurovic disse que a Natureza sempre foi o centro dos seus desenhos, procurando mudar a forma como, nos nossos ambientes urbanos e citadinos, nos relacionamos com ela; mas só mais recentemente o arquitecto libanês disse estar a conseguir focar-se em clientes que colocam a Natureza à frente do lucro, usando-a para responder aos desafios ambientais e sociais do nosso tempo.
A Fundação Gulbenkian é um desses clientes e, no projecto de expansão do Jardim, o arquitecto libanês imaginou um ecossistema à base de espécies nativas da zona de Lisboa, que se possa auto-sustentar e ao mesmo tempo oferecer sustentabilidade à cidade, bem como acolher a fauna que vive ou passa por Lisboa – Djurovic quer criar um habitat para todos os seres vivos, incluindo os seres humanos. A vegetação de grande porte pré-existente no local será mantida e integrada no novo Jardim, que terá um pequeno lago e vários percursos pedonais, que se ligarão aos anteriores. Na zona Sul, onde estava o antigo muro do Gertrudes, haverá uma nova entrada na Fundação e uma nova praça, onde se aproveitará para reduzir os conflitos entre peões e ciclistas.

Durante a apresentação do projecto, Vladimir Djurovic confessou que a Gulbenkian é dos seus sítios preferidos em Lisboa, desde que começou a visitar a cidade há quase 25 anos, quando veio à Expo’98; e falou no desafio difícil de dar continuidade ao trabalho de Ribeiro Telles e Viana Barreto, um projecto que considera intemporal e de grande harmonia entre espaços verdes e edifícios. Djurovic também disse não perceber porque é que no mundo da arquitectura paisagista não se fala lá fora destes dois nomes portugueses. No final da sessão, o arquitecto libanês quis deixar um sonho à audiência: imaginar Portugal como um modelo de sustentabilidade a seguir, um país que consiga preservar ou conservar metade do seu território nas suas condições naturais e que consiga, nas suas zonas urbanas, construir mais espaços como a Gulbenkian.
E o exterior?
O prolongamento da Gulbenkian, quer do CAM, quer do Jardim, tornou-se possível depois de a Fundação ter adquirido, em 2005, a última grande parcela dos terrenos do antigo parque de Santa Gertrudes à Fundação Eugénio de Almeida; esta instituição fica apenas com uma pequena parte, o local onde se ergue a Casa de Santa Gertrudes, as antigas cavalariças do parque e que têm um aspecto de castelo. A Gulbenkian lançou depois um concurso internacional para concretizar a expansão, do qual Vladimir Djurovic e Kengo Kuma saíram vencedores. O novo CAM e Jardim deverão estar prontos em 2024.
A obra no interior da Gulbenkian vai ser acompanhada por uma intervenção a realizar pela Câmara de Lisboa e pela empresa municipal SRU no exterior, mais concretamente na Rua Marquês da Fronteira, onde passará a existir uma nova entrada a Sul no espaço da Fundação. Segundo a autarquia, ainda “está a ser terminado o projecto de execução” daquela que será a Fase 1 da intervenção na Rua Marquês de Fronteira e “a previsão é que as obras se iniciem no final de 2023 e durem cerca de 9 meses”.

“Com esta intervenção, são melhoradas as condições de circulação e acessibilidade pedonal, principalmente com o alargamento do passeio Norte, junto ao Jardim. Reorganiza-se também a iluminação pública e o mobiliário urbano e é alterado o abrigo de transportes públicos de acordo com os fluxos pedonais e cicláveis”, informa a Câmara. “O rebaixamento e recuo do muro existente permite criar uma nova frente urbana regular e coerente, a cidade de Lisboa ganha mais de 1000 m2 de novo espaço público, removem-se barreiras e cria-se um espaço de transição na nova entrada do Jardim da Gulbenkian.”
Desta intervenção, que pretende melhorar “as condições de acessibilidade pedonal e circulação em bicicleta no local, reduzindo conflitos com os peões e com os automóveis”, só se conhece o seguinte esboço preliminar de 2021, publicado em Boletim Municipal:

A Câmara explica que a intervenção no exterior da Gulbenkian vai ser integrada com o projecto de requalificação do Largo de S. Sebastião da Pedreira, que está a arrancar agora no âmbito do programa Uma Praça Em Cada Bairro. “Estas intervenções partem de um pensamento integrado para criar uma solução estruturada e segura de espaço público pedonal e ciclável, implementar medidas de redução do tráfego automóvel, aumentar o espaço público e esplanadas comerciais disponíveis, e reforçar a cobertura com árvores.” A autarquia dará mais detalhes “quando estiver terminado o projecto de execução”.