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Autocarros eléctricos começam a chegar a mais partes da área metropolitana de Lisboa

A Carris Metropolitana vai ter 147 autocarros eléctricos na sua frota. Actualmente já estão em circulação 23 viaturas na Margem Sul; e as primeiras duas dezenas vão, nesta semana, para a estrada na Margem Norte, nos municípios de Amadora, Sintra e Oeiras.

Dois dos modelos que vão entrar em circulação (fotografia LPP)

A partir desta semana, haverá mais autocarros eléctricos a circular na área metropolitana de Lisboa. Depois do investimento iniciado em Lisboa pela Carris em 2019, é a vez de a Carris Metropolitana apostar, a bom ritmo, numa frota eléctrica. Ao todo, vão ser 147 autocarros eléctricos; a maioria serão de duas fabricantes chinesas – a Zhong Thong e a Yutong – e a outra parte da portuguesa Salvador Caetano (que também fornece a Carris).

Os primeiros autocarros eléctricos da Carris Metropolitana começaram a circular logo em Junho de 2022, na Margem Sul. O prestador de serviço da Área 4, a Alsa Todi, já dispõe de 23 viaturas eléctricas da Yutong e está previsto que, nos próximos meses, outros 44 autocarros eléctricos integrem a frota deste operador, que serve os municípios de Setúbal, Palmela, Moita, Montijo e Alcochete, bem como as ligações intermunicipais do Barreiro.

O sistema de carregamento eléctrico (fotografia LPP)

Entretanto, e já nesta semana, os primeiros autocarros eléctricos da Carris Metropolitana vão chegar à Margem Norte, pela mão da Viação Alvorada. Ao serviço desta operadora, que serve a Área 1 e os municípios da Amadora, Sintra e Oeiras, bem como as ligações intermunicipais de Cascais, vão estar 40 autocarros eléctricos – 20 da Zhong Thong e 20 da Salvador Caetano. Na Área 2, constituída pelos municípios de Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Mafra, também na Margem Norte, a transportadora Rodoviária de Lisboa terá um total de 40 autocarros eléctricos – 25 da Zhong Thong e 15 da Salvador Caetano –, sendo que as 25 viaturas da Yutong deverão entrar ao serviço já no mês de Setembro. Apenas a TST, que opera na Área 3 (Margem Sul), não terá frota eléctrica, pelo menos por agora.

OperadoraÁrea de operaçãoFrota eléctrica
Alsa TodiÁrea 4 (Setúbal, Palmela, Moita, Montijo e Alcochete; e ligações intermunicipais do Barreiro)67 viaturas da fabricante Yutong, das quais 23 já estão em circulação desde Junho de 2022
Rodoviária de LisboaÁrea 2 (Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira e Mafra)40 viaturas, 25 da Zhong Thong e 15 da Salvador Caetano; as primeiras entram ao serviço em Setembro
Viação AlvoradaÁrea 1 (Amadora, Sintra e Oeiras; e ligações intermunicipais de Cascais)40 viaturas, 20 da Zhong Thong e 20 da Salvador Caetano; as primeiras entram em circulação esta semana
Os eléctricos da Zhong Thong serão os primeiros a entrar em funcionamento na Margem Norte (fotografia LPP)

Os contratos da Carris Metropolitana definem que a frota a afectar à operação rodoviária deve integrar pelo menos 5% de veículos não poluentes e energeticamente eficientes, conforme definido em duas directivas europeias em vigor (a directiva 2009/33/CE e a 2019/1161). Também fazem parte da frota dos operadores que servem a Carris Metropolitana veículos movidos a gás e a gasóleo. Estes últimos tendem a responder aos requisitos mais rigorosos das normas europeias (Euro 4) e representam a maioria da frota amarela.

Por outro lado, a aquisição de viaturas eléctricas tem obrigado as operadoras a fazer investimentos nas suas instalações. A Viação Alvorada, por exemplo, já tem 40 carregadores em Queluz de Baixo, além de um novo posto de transformação (PT) para responder às novas necessidades energéticas. Artur Pedrosa, administrador do Grupo Barraqueiro, ao qual pertence a Viação Alvorada, explicou ao LPP que o plano passa por colocar a frota de autocarros a carregar durante a noite “quando há menos tensão nas redes em volta e a energia é mais barata”. Os autocarros têm 350 km de autonomia, pelo que podem funcionar durante todo o dia e só regressarem à base para carregamento de noite.

O investimento numa frota eléctrica precisa de ser feito de forma gradual, até porque é preciso que a rede local de energia eléctrica tenha capacidade de resposta para a pressão que, de repente, um conjunto de autocarros representará. “Uma frota eléctrica tem necessidades próprias, exige um espaço dedicado para paragem e carregamento nas instalações, e vai colocar pressão na infraestrutura eléctrica de toda a envolvente”, explicou Artur Pedrosa. “Por isso, é bom termos frotas mistas, para absorver este impacto e para não ficarmos a absorver da rede demasiada energia. No dia-a-dia, ninguém quer saber se o autocarro é eléctrico, querem é que ele apareça.” E para o autocarro aparecer, há que ter ‘planos B’ para a eventualidade de a rede eléctrica falhar e os autocarros não poderem ser carregados. Um desses planos pode ser recorrer à frota não eléctrica; outras duas soluções podem ser um gerador de electricidade a diesel para produzir energia para o carregamento ou até ter uma célula de hidrogénio para armazenar electricidade.

O sistema de carregamento permite gerir a carga que puxa da rede eléctrica e que coloca em cada autocarro, permitindo que o carregamento das várias viaturas seja faseado ao longo da noite ou que seja mais rápido ou mais lento conforme as necessidades. Os autocarros eléctricos agora adquiridos vão servir linhas urbanas da Carris Metropolitana, até porque o Fundo Ambiental não financiou viaturas de tipologias interurbanas – Artur Pedrosa gostaria que os incentivos fossem alargados a estas categorias numa “visão mais abrangente da mobilidade”. O administrador partilhou também uma perspectiva crítica sobre o facto de duas empresas chinesas terem ganho a maior parte dos concursos públicos realizados para a compra dos autocarros eléctricos. “É dinheiro europeu que está a sair dos nossos bolsos, porque a China está a fazer mais barato.” Na perspectiva do responsável do Grupo Barraqueiro, que além da Viação Alvorada integra também a Rodoviária de Lisboa, deveria haver uma penalização nos critérios de selecção dos vencedores dos concursos para que empresas da União Europeia pudessem ter mais vantagem em relação às de fora. “Mas não posso ser eu a fazer essa penalização. Os concursos são públicos, não posso escolher os autocarros que quero comprar. Os critérios são definidos pelo Fundo Ambiental.”

Os novos autocarros eléctricos foram parcialmente financiados, a fundo perdido, pelo PRR – Programa de Recuperação e Resiliência, através do Fundo Ambiental. O incentivo dado às transportadoras consiste na diferença entre o custo de um autocarro a gasóleo e o de um autocarro eléctrico. A Viação Alvorada recebeu cerca de 8,507 milhões de euros de incentivo público, a Rodoviária de Lisboa 6,975 milhões e a Alsa Todi 8,310 milhões – aproximadamente 70% do investimento que realizaram na compra dos novos autocarros.

Mário Rui André

Jornalista e editor do Lisboa Para Pessoas, jornal local sobre Lisboa e a área metropolitana. Tenho 30 anos de vida na capital e 10 anos de experiência em comunicação social, tendo co-fundado o Shifter, uma revista independente e de referência na área da tecnologia. Estudei publicidade e marketing na Escola Superior de Comunicação Social e, mais tarde, jornalismo e comunicação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Escrevo sobre Lisboa e sobre cidades, mobilidade e urbanismo no geral. Acompanho uma visão mais humana do espaço público, e sou pela cidadania e pela transparência da parte dos órgãos governativos.Ver Posts de autor

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