Uma outra ideia para a Praça do Martim Moniz: a proposta do segundo classificado

Conhece a ideia dos arquitectos que ficaram em segundo lugar no concurso da futura Praça do Martim Moniz.

Imagem ilustrativa do segundo classificado (via Adriano Niel/Cossement_Cardoso/In-Loco/Pátio Atelier)

Já tínhamos ficado a conhecer a proposta vencedora para a futura Praça do Martim Moniz. Trazemos-te agora a ideia do segundo classificado do concurso lançado pela Câmara de Lisboa, em que arquitectos foram desafiados a repensarem aquela praça e a transformá-la num jardim aberto a todos. O projecto que ficou em segundo lugar tem, naturalmente, semelhanças com aquele que foi premiado em primeiro – uma vez que seguiu os mesmos pré-requisitos do concurso – mas várias diferenças na abordagem seguida.

Em primeiro lugar, parece existir uma maior densificação da arborização, disfarçando o canal rodoviário que se mantém nesta praça, que, à primeira vista, pode parecer exclusivamente pedonal. Há zonas de bosque onde se pode apanhar sombra, mas também áreas de relvado para apanhar sol. E várias zonas de estadia viradas para o bairro da Mouraria. A circulação rodoviária acontece apenas num dos lados da praça, através de um prolongamento da Rua da Palma, que, nesta proposta, tem apenas uma via por sentido em vez de duas.

O que seria o antes e depois desta proposta (via Adriano Niel/Cossement_Cardoso/In-Loco/Pátio Atelier)

Também neste projecto é sugerida uma rotunda para solucionar a ligação entre o final da Avenida Almirante Reis/Rua da Palma e os demais arruamentos, só que situada no topo norte da praça e não a sul. As linhas do 28 mantém-se no mesmo sítio, promovendo a circulação do icónico eléctrico amarelo pelo meio da praça, em coexistência com os peões. Por seu lado, o canal ciclável acompanha o prolongamento da Rua da Palma, seguindo quase em linha recta até à Praça da Figueira (no projecto vencedora a ciclovia vai pela Rua João das Regras como acontece hoje e tem algumas descontinuidades ao longo do seu percurso).

Em relação à proposta vencedora, o segundo classificado é mais ambicioso na redução da área para carros e outros transportes rodoviários. Na verdade, o projecto sugere uma diminuição de aproximadamente 34% de área rodoviária para apenas 17%.

Ao nível da estrutura verde, a proposta sugere técnicas para permitir o assentamento e desenvolvimento de árvores de porte considerável sobre o parque subterrâneo do Martim Moniz, e também a acumulação de água numa pequena bacia de retenção que, na praça, ganha uma função lúdica de “espelho de água”. Sugere-se um pinhal onde pinheiros, choupos e freixos possam conviver e ajudar a desenhar a encosta, um prado de sequeiro biodiverso que possa ser ele também um promotor de mais biodiversidade, e uma floresta urbana que ajude a mitigar o efeito das ilhas de calor através da sombra e evapotranspiração. De resto, a proposta substancia um quiosque e várias zonas de estadia, bem como uma relação de proximidade e de fusão entre a praça e a sua envolvente, nomeadamente a Torre de Pêla, as Escadinhas da Saúde e o Castelo de São Jorge, fomentando um corredor verde.

Esta proposta resulta de um pequeno consórcio entre ateliês de arquitectura: por um lado, o atelier de Adriano Niel; por outro, o Cossement_Cardoso, dos arquitectos Charles Cossement e Gil Menezes Cardoso. A arquitectura paisagista foi tratada pelas arquitectas Sílvia Basílio, do estúdio In-loco, e Raquel Soares, do Pátio Atelier. O projecto contou ainda com a colaboração de uma equipa multidisciplinar composta por Rita Castel’Branco (Mobilidade), Pedro George (Urbanista), Jorge Gaspar (Geógrafo), Rosanna Helena Bach (Artista), Miguel Mourão (Visualizações 3D) e ainda os engenheiros Marco Caixa, Gina Rolim, Maria de Fátima Leal, José Duarte, João Berlenga e João Carlos Sousa.”

De seguida, podes ler a memória descritiva do projecto e consultar mais informação.

Do passado retém-se a memória de um vale entre colinas e de um curso de água que rumava ao Tejo, aos quais se seguiram camadas de terra produtiva, onde amálgamas sociais desde há muito se fizeram aqui paisagem. Do líquido ao sólido, a Praça do Martim Moniz é atração que emana da desordem, do caos, da permissibilidade. Confluências, conflitos e harmonias são quotidiano deste lugar – um palco social de riqueza ímpar, onde o desconforto de um ambiente artificial prevalece.

Mantendo este palco como património, recupera-se a origem do lugar num processo de renaturalização. Sobre esta tela vazia abrem-se rasgos para que a natureza volte a emergir e contamine a cidade. Rasgos que são nascente, guelras que se integram no sistema respiratório da cidade. Linhas que antes eram limite, agora apontam, sugerem, mas nunca confinam – uma desconstrução do limite que a praça impunha, convidando à permeabilidade e liberdade.

O jardim reflete uma composição de três rasgos que criam distintas topografias e massas vegetais – pinhal, choupal e floresta. Os dois primeiros marcam a entrada a norte. Sob o pinhal, a poente, abre-se uma clareira virada à Mouraria e ao Castelo. A nascente, o choupal sombreia um terreiro onde um anfiteatro fresco dinamiza a vida social e comercial. A sul, uma densa floresta urbana e uma encosta protegem uma clareira que contempla a Graça e a Senhora do Monte. À paisagem introduz-se o conceito de mediterrâneo fusionado: vegetação mediterrânica como base maioritária funde-se e harmoniza-se com vegetação exótica, num diálogo expressivo com as culturas sociais que aqui povoam. Estes três momentos convergem para um centro: uma praça de água. Água encaminhada pela tensão do vale que aqui desagua e é retida numa suave barragem. Forma-se um plano espelhado, de limite indefinido, cujo nível se assume dinâmico ao longo do ano. Para aqui, tudo conflui – a topografia e a água, símbolo da vida, tornam-se chão comum, união entre culturas, memória do passado e espelho do presente. Com esta centralidade espacial e simbólica, o jardim abre-se à Mouraria.

Explorando as dinâmicas deste lugar de transição, as pessoas tornam-se elemento privilegiado de uma mobilidade fluida, garantindo-se livre circulação, expressão e apropriação, num jardim que comemora a identidade natural e a riqueza humana deste lugar. O Jardim da Mouraria é uma celebração às pessoas, às gentes da Mouraria, as de cá e as de lá, as de ontem e as de amanhã, as que passam e as que permanecem.

– memória descritiva
Planta da intervenção (via Adriano Niel/Cossement_Cardoso/In-Loco/Pátio Atelier)
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