Depois do incêndio, Linha de Cascais circula com fortes constrangimentos: um esclarecedor

Entre o Cais do Sodré e Algés, só podem circular dois comboios de cada vez. Situação que obrigou a CP a rever horários, mas que, ainda assim, está a provocar atrasos e supressões. Esclarecemos toda a situação, para que possas viajar de forma mais tranquila.

Comboio parado no Cais do Sodré (fotografia LPP)

Um incêndio na subestação do Cais do Sodré, um dos pontos de energia que alimenta a Linha de Cascais, provocou a suspensão da circulação de comboios entre essa estação, em Lisboa, e Algés, em Oeiras, durante praticamente todo o dia de ontem, 19 de Março. Já foi reposta a circulação em toda a linha, mas com alguns constrangimentos que estão a ter impactos na vida dos passageiros.

Explicamos-te o que aconteceu e o que está ainda a acontecer.

O incidente

Foi por volta das 8 da manhã desta terça-feira, 19 de Março, que o incidente aconteceu. “O alerta foi dado às 8h08 para ‘muito fumo na subestação do Cais do Sodré’, com corte imediato das linhas entre o Cais do Sodré e Alcântara”, informa ao Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB), numa nota difundida no Facebook. O incêndio foi dado como extinto às 8h53, tendo cerca de 500 pessoas sido evacuadas pelos operacionais de dois comboios, um que viajava em direcção a Cascais e outro em direcção a Lisboa. “Foram ainda retirados cerca de 30 passageiros de um comboio que teve de parar em frente à antiga FIL”, acrescenta o RSB na mesma nota, acrescentando que actuou com nove veículos e 32 operadores e com o apoio de vários agentes de Proteção Civil.

Num comunicado partilhado durante o dia, a IP confirmava a ocorrência de “um incêndio na subestação elétrica do Cais do Sodré”, estando as suas equipas de manutenção no local “para a realização dos trabalhos necessários, que permitam a reposição da circulação neste troço com a maior brevidade possível”. A gestora da infraestrutura ferroviária nacional adiantava ainda estar “junto da Carris e Carris Metropolitana, e em articulação com a CP, (…) a procurar que possa ser reforçada a oferta de transporte em autocarro e elétrico entre Algés e Cais do Sodré”.

Manhã de dia 20 de Março com atrasos na Linha de Cascais (fotografia LPP)

A resposta

Não podendo existir comboios a circular entre as estações do Cais do Sodré e de Belém, a CP viu-se obrigada a encurtar a Linha de Cascais a Algés, onde tem espaço suficiente para gerir os comboios que estão a terminar viagem e os que vão iniciar.. A resposta foi quase imediata, e a Linha de Cascais esteve a funcionar durante o dia de ontem dentro da normalidade possível nos concelhos de Cascais e Oeiras. No troço lisboeta da Linha, os passageiros poderiam optar pelo eléctrico 15 ou pelas carreiras ribeirinhas de autocarro da Carris, que, por seu lado, reforçou a oferta dentro das suas possibilidades.

Os esforços da IP e da CP concentraram-se em resolver a situação. Para segundo plano, ficou a informação aos passageiros. Ainda durante o início da manhã, a CP fez uma publicação no Facebook a avisar da suspensão da circulação de comboios. Só mais tarde, pela hora de almoço, essa informação passou para o site da operadora ferroviária e para o Google Maps, uma das aplicações mais utilizadas pelos passageiros dos transportes públicos. Todavia, de uma forma mais pragmática, quem quisesse detalhes do que estaria a acontecer só no local é que o conseguiria, o que revela a impreparação da cidade para lidar com incidentes de grande impacto, numa altura em que a informação está cada vez mais digitalizada. Noutras cidades, é possível saber de forma imediata, através de uma aplicação como o Google Maps, quando uma determinada linha está com perturbações ou cortada.

Lisboa ainda tem um longo caminho a percorrer nesse campo. Se a CP colocou um aviso no Google Maps (e só no Google Maps porque noutras aplicações, como o CityMapper, aparecia o serviço como estando regularizado), nesse aviso ficava-se com a ideia de não haver nenhum serviço em toda a Linha de Cascais quando a interrupção ocorria apenas entre Algés e o Cais do Sodré. Ou seja, quem fosse confiar na informação do Google Maps, ficaria a achar que toda a Linha de Cascais estaria suspensa ou quem utilizasse o CityMapper não saberia de nenhuma interrupção.

Por outro lado, o incêndio desta terça-feira evidenciou também as dificuldades em gerir um sistema de transportes quando se lidam com diferentes entidades, sem que exista uma gestão centralizada que permita agilizar comunicações e preparar resposta rápidas que diminuam o impacto na vida dos passageiros. O incidente aconteceu na infraestrutura ferroviária, que é jurisdição da Infraestruturas de Portugal (IP) – é a IP que gere as linhas de comboio. Já a operação de comboios é feita pela CP. Isso significa que as duas entidades têm de estar a comunicar entre si. Se a infraestrutura ferroviária fica indisponível, a CP tem de interromper o seu serviço e pode ter de se articular com os operadores rodoviários, como a Carris ou a Carris Metropolitana, para encontrar um serviço de substituição.

A CP tem uma lista de contactos para ligar no caso de precisar de autocarros para substituir um serviço ferroviário indisponível, mas dos lado dos operadores rodoviários pode não haver veículos nem motoristas disponíveis. A Carris conseguiu reforçar algumas carreiras ribeirinhas, e chegou a existir um serviço de autocarros de substituição da CP na hora da ponta da tarde. A circulação na Linha de Cascais entre o Cais do Sodré e Algés foi reposta pelas 19h30.

Estação do Cais do Sodré (fotografia LPP)

A situação actual

A circulação na totalidade da Linha de Cascais ao final da tarde de terça-feira, mas com algumas limitações. Num comunicado partilhado pela IP, esta dava conta de terem sido “identificados os danos ocorridos” e que foi implementada “uma solução que permitiu restabelecer, ainda que com limitações, a circulação ferroviária” no troço entre o Cais do Sodré e Algés. “Face à dimensão dos danos ocorridos, a circulação ferroviária na Linha de Cascais, em particular neste troço, vai proceder-se com algumas limitações, não sendo ainda possível avançar com uma data para que a circulação ferroviária seja restabelecida com a devida normalidade”, acrescentava a empresa.

As limitações são a circulação de um máximo de dois comboios em simultâneo entre o Cais do Sodré e Algés, uma vez que a Linha está dependente da energia proveniente de uma só subestação eléctrica, a de Belém. Essa condição, definida pela IP, obrigou a CP a alterar os horários da Linha de Cascais. Foram anulados os comboios rápidos – que entre Lisboa e Oeiras fazem poucas paragens – e estabelecidas frequências de 10 minutos nas horas de ponta e de 20 minutos fora destas:

  • entre as 7 e 10 horas e entre as 17 e 21 horas, partidas aos minutos 00, 10, 20, 30, 40 e 50 do Cais do Sodré, com paragem em todas as estações;
  • entre as 10 e as 17 horas, partidas aos minutos 00, 20 e 40 do Cais do Sodré, também com paragem em todas as estações.

Na prática, estes horários têm tido várias supressões, como constatou o LPP no local. Por exemplo, o comboio que deveria sair às 9h30 do Cais do Sodré só saiu perto das 9h40 e o deste horário foi suprimido; isto porque esse comboio das 9h30 teve de ficar à espera que outro em sentido contrário regressasse à estação (pois só podem circular dois comboios em simultâneo na linha).

Em resumo: circula-se na Linha de Cascais mas com algumas supressões e com atrasos significativos. A situação deverá durar por tempo indeterminado, até ficar resolvida a situação.

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