Tropecei no OUT.FEST há 19 edições. Só não fui à primeira. E, passado tantos anos e boas transformações, continua a ser um dos meus momentos favoritos do ano. Encarem o texto que se segue como um pequeno guia para aproveitarem o festival no ano que vem, se não o conhecem ainda.
Em 2005 comecei a ir ao OUT.FEST, fotografei de forma muito livre. Este ano comemorámos 20 anos de festival. A minha vida, desde 2005 até agora, cravou-se neste universo de música e fotografias. O que faço – documentar concertos, festivais, bandas – deveu-se a este início, a esta vontade de fotografar o que se passava na minha cidade, o Barreiro.
Tropecei no OUT.FEST há 19 edições. Só não fui à primeira. E, passado tantos anos e boas transformações, continua a ser um dos meus momentos favoritos do ano. Encarem o texto que se segue como um pequeno guia para aproveitarem o festival no ano que vem, se não o conhecem ainda. Um guia a partir da edição deste ano.
Passei os últimos dois anos a recuperar e olhar para o arquivo que tenho. Tornei-me fotógrafa neste gigante tubo de ensaio que era o OUT.FEST, os concertos organizados pela agora Out.ra, uma associação local, e pela restante movida barreirense. A ideia com este resgate do arquivo era ter tudo disponível para o que se ia fazer: arquivos online, partilhas nas redes (foram feitos uns mini clips com vídeos e fotos sobre cada edição), uma exposição, um livro ou a caixa de email de algum amigo que ia rever a sua cara com menos 20 anos.
Ao ver todas as fotos, escrever o texto para o livro e conversar sobre o festival e sobre a exposição que está ao pé da estátua (já voltamos aqui!), celebrei três “caixinhas” do festival: a música, o público e os lugares onde o festival aconteceu.
Muito será escrito e vivido sobre e com a música que se ouviu nesta edição.
Escrever sobre o público,os forasteiros de universos muito diferentes que vão circulando pela cidade, não me inspirou. É bem mais bonito ver a variedade de caras a circular ao vivo. Restam-me os lugares! Fico-me pelos lugares e pelas referências a estes, num estilo muito barreirense.
Li noutros tempos um dos fundadores do festival, respondendo à questão: “Porque é que o festival é no Barreiro?” com um “Porque não?”. E é sobre esta cidade que me interessa falar. A que merece um OUT.FEST e muitas outras coisas. E sobre os seus marcos e beleza suburbana, relativa é verdade, mas gigante para mim. Uma recém exilada em Lisboa, para facilitar a vida do dia-a-dia, mas eternamente convencida que não há como regressar a casa. E de barco, preferencialmente!
Sempre recebemos muitos não-barreirenses no festival. Muitos deles pela primeira vez e por essa razão pouco letrados no mapa da cidade. Recebemos bem, estamos preocupados com o seu bem estar, mandamos prints dos horários dos barcos (mesmo havendo uma app da TTSL), listamos restaurantes e sítios para beber uma, alinham-se parcerias com os TCB (Transportes Colectivos do Barreiro) e garantimos autocarros directos para Lisboa depois das duas da manhã, hora em que os barcos já não circulam. Faço até planos de viagem e deixo os avisos de sempre: “Atenção que no fim de semana os barcos às vezes são de hora a hora! Chegas à hora X, demoras Y a pé. Se preferires o autocarro é o número z!”
Mas, como já fica repetitivo e não tenho o contacto de todos os visitantes, deixo aqui algumas notas para o futuro. Um guião para circular no festival.
As perguntas mais comuns são:
Os barcos de Lisboa para o Barreiro são no Cais do Sodré ou no Terreiro do Paço?
Terreiro do Paço meus amigos. Batizada como Sul e Sueste! Dantes o Montijo também partia daqui. Agora é mesmo só com o destino “Barreiro”. Nada que enganar. E suponho que também é fácil não se meterem num dos barcos de turistas que vão dar umas voltinhas ao Tejo.
A do lado, a antiga, é para os turistas, ignorem! Mas se perderem o barco e tiverem de esperar, aproveitem para se sentarem nos sofás que lá estão, são muito mais confortáveis.
A “sala x” onde vai tocar o “artista y” é longe dos barcos?
O OUT.FEST circula por várias salas, umas mais “normais” e aptas para receber concertos que outras. Antecipem o tempo de saltitar de sala em sala a atravessar a cidade. A referência de partida será sempre a estação dos barcos, do lado do Barreiro claro.
O festival obriga-nos a caminhar por uma cidade que outros podem não achar propriamente interessante ou bonita. Sem muitos marcos visitáveis. Mas, meus amigos, uma barreirense como eu encontrou em dias de Covid muita beleza na praceta onde morou umas dezenas de anos.
Se consegui fazer uma exposição com fotos tiradas a menos de dois minutos a pé da porta do meu prédio, entende-se logo aqui que para mim tudo é bonito nesta cidade.
Portanto, admiro profundamente esta vontade do festival obrigar, a quem o visita pela música, a cruzar estas ruas. Tudo – garanto-vos que tudo – no Barreiro é a 20 min a pé máximo do barco.
20 minutos até ao Parque da Cidade, onde está o auditório.
20 minutos até à Sala 6.
16 minutos até à biblioteca.
20 minutos até aos Penicheiros.
20 minutos até ao Paivense.
5 minutos até à ADAO.
E, se estiverem com tempo, façam a volta alargada e vão pelo rio. É bonito.
Mas afinal o que são aquelas fotografias que vão aparecendo nas peças de design do festival?
Este ano temos de “lidar” com a iconografia desta cidade nos cartazes, tote bags, livro, autocolantes e mil elementos das redes sociais. O trabalho de design feito pelo José Mendes foi particularmente pensado nesta celebração.
As fotos que compunham o grafismo, autoria de Vítor Lopes – uma das cabeças do festival – tinham antigos barcos e autocarros, litrosas (um clássico nas noites barreirenses passadas à porta da vinícola – bar desaparecido da cidade cuja fachada foi mantida, mas agora tem uma habitação familiar no seu interior), tanques, edifícios e torres desaparecidas da zona industrial, fita gaffa (um essencial do “organizador de festival”), a arte do mais produtivo artista local: SYNOP, a Uma (cadelinha do Vitor) e importantes referências geográficas desta cidade que nos servem pontos de circulação: a estátua (oi!) e a santinha.
Como o âmbito deste texto é a geografia barreirense, voltemos ao início do mesmo em que escrevi: “A exposição está ao pé da estátua”, leia-se a estátua do Alfredo da Silva, que tem uma estátua da sua pessoa no Largo do Mercado 1º de Maio, na Avenida Alfredo da Silva.
Não confundir com o mausoléu que já está na zona industrial, pelo qual passariam se fossem em direção à PADA ou para o Museu Industrial, onde também houve OUT.FEST em anos passados.
A vir de carro outra referência para entrar no Barreiro é a santinha – referimo-nos à imagem da Nossa Senhora dos Caminhos que se encontra entre no enclave entre a Rua Capitães de Abril, cuidado que a Avenida com o mesmo nome já é na Baixa da Banheira, localidade do concelho vizinho – Moita, e a Avenida Movimento das Forças Armadas.
Finalizo com algumas dicas para o ano que vem:
- Comprem o passe Navegante Metropolitano, a serem já utilizadores do Navegante Municipal. Esses 10 euros a mais vão compensar em dois dias de ida-e-volta de barco.
- Reservem o lugar no autocarro que o festival disponibiliza para voltar para casa nas noites de sexta e sábado.
- Partilhem o carro com o vosso amigo 100% cool.
- Se apanharem aquela promoção do vosso TVDE favorito, safem uma gorjeta ao condutor. Para ver se ele regressa a casa antes de conseguir uma viagem de volta.