O número de pessoas a dormir nas ruas de Lisboa duplicou em apenas um ano. Uma das situações mais críticas aconteceu ao largo da Igreja dos Anjos. Dezenas de imigrantes, provenientes do Senegal e da Gâmbia, vieram à procura de uma vida melhor, mas não conseguiram respostas imediatas em Portugal. A rua foi a única solução.
Seja em Santa Apolónia, na Gare do Oriente, no Cais do Sodré ou ao longo do eixo da Almirante Reis, não há como não reparar na realidade das pessoas em situação de sem abrigo. Mesmo que o desconforto nos faça desviar o olhar. Num ano, o número de pessoas a dormir nas ruas de Lisboa aumentou mais de 50% – passou de 394, em 2022, para 594, em 2023. Todavia, o número total de pessoas em situação de sem abrigo, na capital, é bem mais elevado: em 2023, foram contabilizadas 3378 pessoas nesse contexto (em 2022, eram 3138). Este número engloba não só as pessoas sem tecto, que estão efectivamente a dormir na rua, como todas as pessoas que, não tendo casa própria, estão numa das respostas de alojamento temporário asseguradas ou pela autarquia, ou pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Não é só em Lisboa que o número de pessoas em situação de sem abrigo tem aumentado drasticamente. Contabilizavam-se, em 2022, 10 773 indivíduos nesta situação a nível nacional; em 2018 eram 6 044, pelo que estamos perante um aumento de 78% em quatro anos. Por outro lado, cerca de 30% dos sem-abrigo a nível nacional estão na capital. É também em Lisboa que estão concentrados “dois terços das respostas de suporte habitacional do país”, explica-nos Paulo Santos, coordenador da equipa da Câmara responsável pelo Plano Municipal para a Pessoa em Situação de Sem Abrigo. “Há capacidade de resposta. Mas as políticas de prevenção públicas a montante são muito importantes, tendo em conta um cumulativo de problemáticas: a violência doméstica, a saúde mental, as dependências, os divórcios, os ex-presidiários, a imigração…”, diz. “Se olharmos para o que se passa na Europa e no Mundo, o número de pessoas em situação de sem abrigo está a aumentar pelas várias capitais. É realmente muito grave o que está a acontecer.”