GIRA é gratuita para residentes com Navegante, mas app pode dar “erro desconhecido”

Apesar de Carlos Moedas promover a gratuitidade das bicicletas GIRA para residentes com passe Navegante, um “erro desconhecido” na aplicação tem deixado vários utilizadores de fora desse benefício. Outros dizem que foi uma dor de cabeça activar esta oferta.

A GIRA é gratuita para residentes em Lisboa com passe Navegante (fotografia LPP)

Carlos Moedas farta-se de falar das GIRAs gratuitas para residentes em Lisboa com passe Navegante, mas o que o Presidente da Câmara de Lisboa provavelmente não sabia é que a aplicação estava, ao longo de largos meses, a deixar várias pessoas de fora desse benefício. Tudo por causa de um “erro desconhecido”.

A situação, que já tinha sido reportada ao LPP múltiplas vezes e que a Antena 1 noticiou recentemente, tem a ver com o processo de associação do passe Navegante à conta GIRA através da aplicação das bicicletas partilhadas. É no separador “Passes” da app da GIRA que os residentes em Lisboa (domicílio fiscal no concelho) podem activar o passe “GIRA Navegante” gratuitamente. Basta associarem o seu cartão Navegante à aplicação das bicicletas e carregarem mensalmente o seu passe Navegante; sempre que esse passe estiver activo no cartão, o uso da GIRA pode ser feito sem custos adicionais.

Exemplo do “erro desconhecido” que tem aparecido aos utilizadores da GIRA (captura de ecrã DR)

No entanto, vários utilizadores queixa-se de dificuldades na associação do Navegante à GIRA para beneficiarem das bicicletas da cidade de forma gratuita e integrada no passe. Quando o tentam fazer – ou seja, quando inserem o número do cartão Navegante na app da GIRA –, recebem “erro desconhecido” como resposta. Sem qualquer informação adicional. A EMEL já está ocorrente das dificuldades há muito tempo, praticamente desde que a integração foi anunciada em Maio de 2023. Nessa altura, só estudantes com o passe gratuito da autarquia podiam activar a “GIRA Navegante” na aplicação; todas as outras pessoas tinham de ir a um balcão da EMEL pedir um código. Entretanto, a aplicação passou a permitir a activação do passe combinado por todos os residentes com Navegante… mas foram surgindo relatos de erros, e parece que esses problemas se intensificaram no final do ano passado.

“Erro desconhecido”

Tanto a reportagem da Antena 1, como depois uma notícia do Público, dão conta destas falhas. Vários testemunhos que foram chegando ao LPP repetem essas histórias. Rodrigo, 20 anos, estudante, relata que começou a ter problemas com o “erro desconhecido” por volta de Agosto do ano passado, quando tentou renovar o passe. “Quando fui ao balcão de atendimento da EMEL no edifício do Campo Grande disseram-me que tinha um problema no passe, e o funcionário até me mostrou o computador em que tinha uma mensagem em que dizia algo do género ‘Informar o cliente para se dirigir à TML’. Fiz isso, e informaram-me que estava tudo correcto e imprimiram um talão a comprovar que tinha o passe carregado”, conta. Rodrigo voltou depois ao atendimento EMEL, onde a questão voltou a não ficar resolvida, mas deram-lhe um código temporário para activar o passe da GIRA. “No início de Novembro, voltei a tentar e o bug parece ter sido resolvido, pelo menos para quem tem o passe carregado para um ano, como é o meu caso, que sou estudante, e de outros amigos.”

Francisco, também estudante e também com 20 anos, relata uma experiência semelhante, marcada por falhas persistentes e por um processo moroso de resolução. “Logo que foi lançada a integração da GIRA com o Navegante, tentei activar a oferta na aplicação. Apesar de ter funcionado nos primeiros meses, deixou de funcionar durante muito tempo, pelo que tentei perceber qual era a origem do problema”, explica. Tentou contactar o apoio ao cliente da EMEL por e-mail, mas, sem sucesso, deslocou-se ao atendimento presencial, mas foram-lhe dando códigos de activação do serviço para compensar as falhas na aplicação. No início do novo lectivo, em Setembro, igual. “Disponibilizaram-me um vale válido para seis meses como ‘penso rápido’. Uns meses mais tarde, em Janeiro, sem explicação, consegui finalmente associar o meu cartão Navegante e fiquei com a GIRA válida até até Setembro de 2025, a mesma validade do meu passe”, diz Francisco. “Escusado será dizer que tudo isto, toda esta despreocupação da EMEL em resolver problemas de funcionamento deste género, tornou impossível a minha tentativa de ter a GIRA como uma alternativa de transporte fiável na cidade de Lisboa.”

Felipe, 24 anos, estudante, partilha uma situação idêntica: “Eu tinha a GIRA com Navegante funcionando, um dia, depois de uns meses sem usar, tentei desbloquear uma bicicleta e não consegui, deu erro. Desde então, toda vez que tento adicionar o número do cartão ou desbloquear uma bicicleta, dá “erro desconhecido” sem nenhuma informação adicional.” Por fim, Hugo, 37 anos, engenheiro informático e utilizador regular da GIRA desde 2018, critica a falta de resposta da EMEL: “Nesta modalidade gratuita com o passe Navegante, comecei por utilizar os vouchers que me forneceram na EMEL quando validei a morada. Passado uns meses começou a funcionar normalmente, apesar de por vezes obrigar a registar o passe no início de cada mês. Em Dezembro, deixei de conseguir utilizar porque passou a aparecer ‘erro desconhecido’ .Já enviei e-mail sobre o tema, sem qualquer resposta. Já tentei ligar, por duas vezes, também não foi atendido.”

À Antena 1, Sara, que via a GIRA como “uma forma de descontrair depois do trabalho” porque fazia uma “caminho que é bastante agradável” do Marquês do Pombal até à zona do Calhariz de Benfica, disse que deixou de usar as bicicletas da cidade desde que deixou de ter acesso ao passe gratuito. “A última vez que eu consegui utilizar a GIRA foi em Novembro”, referiu. “Desde Dezembro que não funciona, dá sempre ‘erro desconhecido’ quando tento fazer o login na aplicação com o número do passe”, pelo que ficou-se pelos transportes públicos ou pelo andar a pé, quando faz bom tempo. Não pensa investir num passe, mesmo sendo o custo deste de apenas 25 €/ano. Já Luísa, também ouvida pela Antena 1, contou que acabou por investir no passe por estar cansada das dificuldades com a aplicação. “Como estava cansada disto, decidi fazer o passe anual e pagar 25 euros”, disse, explicando que usa a bicicleta em complemento com o transporte público nas suas deslocações entre as duas margens do Tejo para ir trabalhar.

Aparentemente sem resolução

A EMEL explicou à Antena 1 que “uma das principais razões para a indisponibilidade do serviço era o facto de os utilizadores não conseguirem realizar a sua autenticação de morada fiscal junto da TML”, a empresa intermunicipal que tem a gestão do Navegante e de toda a bilhética dos transportes públicos na Área Metropolitana de Lisboa. “Houve um esforço de compatibilização de ambos os sistemas, mas o estado de evolução ainda não é o perfeito”, afirma ainda a empresa de mobilidade de Lisboa, acrescentando que se está “numa fase de remodelação” do software da GIRA, com a introdução de uma nova aplicação móvel, e que houve um reforço do apoio ao cliente. Ainda segundo a EMEL, todos os utilizadores que expuseram a sua situação junto dos canais de atendimento EMEL “viram a sua situação analisada e, para os casos elegíveis, foi atribuída uma solução alternativa” – isto é, a disponibilização de códigos/vouchers para seis meses –, “procurando minimizar estes constrangimentos”. Ainda de acordo com a EMEL, existirão cinco mil utilizadores GIRA com o passe combinado com o Navegante.

Já a TML disse à Antena 1 que nos últimos seis meses recebeu um “número muito reduzido” de pedidos de apoio vindos da EMEL. “Desde Novembro de 2024 que não temos quaisquer registos de novos pedidos”, alega a empresa metropolitana de mobilidade.

Em Maio de 2023 foi anunciada uma integração da GIRA com o Navegante, permitindo que residentes na capital pudessem utilizar as bicicletas partilhadas sem pagar os 25 €/ano, desde que fossem utilizadores do transporte público, ou seja, tivessem o passe Navegante. Desde então, em várias ocasiões públicas, o Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, tem assinalado a medida como um passo na descarbonização da cidade e que Lisboa é das poucas cidades na Europa com bicicletas gratuitas.

Gostaste deste artigo? Foi-te útil de alguma forma?

Considera fazer-nos um donativo pontual.

IBAN: PT50 0010 0000 5341 9550 0011 3

MB Way: 933 140 217 (indicar “LPP”)

Ou clica aqui.

Podes escrever-nos para [email protected].

PUB

Junta-te à Comunidade LPP

A newsletter é o ponto de encontro de quase 3 mil pessoas.