Novo abatimento na Rua da Prata volta a mostrar as fragilidades do subsolo pombalino

Um novo buraco na Rua da Prata obrigou ao encurtamento dos eléctricos 15 e 25, e interrompeu o corredor ciclável. A Junta de Freguesia critica a Câmara de Lisboa por não ter feito, em 2023, a reparação integral do colector pombalino.

Um novo buraco voltou a abrir-se na Rua da Prata (fotografia LPP)

O piso da Rua da Prata sofreu um novo abatimento, num troço que não foi intervencionado nas obras realizadas há apenas dois anos. Esta ocorrência levou à interrupção do corredor ciclável (a circulação de bicicletas continua a poder ser feita mas pela mão) e à interrupção da circulação dos eléctricos 15 e 25, que passaram a terminar no Cais do Sodré em vez de seguirem até à Praça da Figueira.

O abatimento ocorreu na noite de 29 de Janeiro, após um período de chuvas intensas. O buraco, com quatro metros de profundidade e uma área subterrânea de 40 m², surgiu na zona de calçada junto aos estabelecimentos Espressolab e Panda Cantina. No subsolo, passa um troço do colector pombalino de drenagem da Rua da Prata que não foi alvo de intervenção aquando do grande abatimento de Dezembro de 2022 e que, por isso, se encontrará ainda degradado.

Para a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (liderada pelo PS), esta nova situação evidencia um problema que a Câmara de Lisboa (liderada pela coligação PSD/CDS) não resolveu, mas adiou. “Mais uma vez, moradores e comerciantes são sujeitos aos incómodos de uma rua fechada e de obras a decorrer, sem previsão da duração nem da durabilidade da intervenção”, indica Miguel Coelho, Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em comunicado.

O colector da Rua da Prata é uma grande infraestrutura de saneamento, constituída por alvenaria de pedra de calcário aparelhada, com secção em arco abobadado, paredes planas verticais e abóboda em arco de volta circular. As dimensões são de 2,85 metros de altura por 2,15 metros de largura. Esta infraestrutura terá sido concluída vinte anos depois do terramoto de 1755, sendo, por isso, um coletor pombalino.

Rua da Prata já tinha colapsado nas chuvadas de 2022

Foi no final de 2022 que, com as grandes chuvadas de Dezembro daquele ano, o colector de drenagem da Rua da Prata colapsou, obrigando ao corte imediato do trânsito rodoviário naquela artéria que ficou, então, exclusivamente pedonal. A autarquia accionou com urgência a contratação de obras de reparação (e reconstrução) de um troço alargado do colector e de reposição do pavimento à superfície. Essas obras ficaram concluídas um ano depois, no final de 2023 e, como medida de prevenção, a Rua da Prata voltou a não abrir à tráfego motorizado, ficando exclusivamente para peões, bicicletas e para eléctricos.

O comércio está preocupado (fotografa LPP)

“Aquando do colapso da Rua da Prata em 2022, o primeiro grande abatimento que originou a medida de corte do trânsito e o escoamento pela Rua da Madalena, a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior alertou para a necessidade de intervenção integral no coletor desta rua. Uma intervenção parcial não seria suficiente – como demonstrado pelos abatimentos subsequentes, sendo o mais recente o que se verificou na noite de 29 de Janeiro, após um período de chuvas mais intenso”, diz ainda Miguel Coelho.

O autarca acrescenta: “O evidente colapso do colector de escoamento de águas, uma estrutura pombalina, e a rua visivelmente oca por baixo exigem outro tipo de intervenção: uma obra de fundo, naturalmente mais demorada, mas que é a única solução possível para uma rua segura e estável. Este não é o entendimento da Câmara Municipal de Lisboa e do Sr. Presidente Carlos Moedas.”

Local está a ser inspeccionado, obras terão de ser feitas de urgência (fotografia LPP)

O Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior insiste que “é preciso uma intervenção de fundo na Rua da Prata, mesmo que a custo de alguma incompreensão por parte das pessoas”, e que “resolva em definitivo os problemas já diagnosticados na Rua da Prata”, pois “de empreitada em empreitada, a Câmara consome mais recursos técnicos e financeiros, e não resolve o problema”. “Decida-se, Sr. Presidente, arranje a rua de uma vez por todas. Às vezes, o barato sai caro.”

Eléctricos encurtados, obra urgente necessária

A Câmara de Lisboa terá agora de adjudicar uma empreitada de urgência para reparar o restante colector da Rua da Prata ou fazer uma empreitada para toda a rua. Até lá, poderia ser encontrada uma solução mais confortável para a circulação de bicicletas, uma vez que a circulação pedonal continua a ser feita – não só o abatimento é longe da zona ciclável, como poderia das duas uma, ou ser deixado um canal mais estreito para a passagem de bicicletas ou colocadas rampas para as mesmas poderem subir para o passeio.

Numa nota escrita, enviada ao jornal Público, a Câmara de Lisboa explica que o novo buraco “não tem qualquer relação com a reparação anterior” pois ocorreu noutra parte da rua, mas adianta que o abatimento aconteceu devido a um novo troço do colector pombalino “há muito sem reparação, cuja parede cedeu às intensas chuvas dos últimos dias”. A autarquia refere ainda que a obra realizada em 2022 “trouxe mais segurança e durabilidade ao colector pombalino no troço intervencionado”; e que ainda o local do novo abatimento “está agora a ser inspeccionado para se proceder à reparação”.

Eléctricos foram encurtados (fotografia LPP)

Numa reportagem da SIC, comerciantes mostraram-se apreensivos com esta nova situação, temendo a perda de clientes, principalmente dos turistas que circulavam na Rua da Prata para apanhar o eléctrico.

A Carris fez alterações nos eléctricos 15 e 25; estes passaram a terminar no Cais do Sodré. Já entre o Cais do Sodré e a Praça da Figueira, a circulação destas carreiras faz com autocarros, através da Rua da Madalena (no sentido da Praça da Figueira) ou da Rua dos Fanqueiros (no sentido do Cais do Sodré).

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