A partir de Santa Apolónia, a TML sabe onde estão os autocarros amarelos de toda a área metropolitana de Lisboa, quantas pessoas estão a viajar e os serviços que, por alguma falha, não foram realizados. Estes dados aparecem em vários ecrãs na sala onde se gere a gigantesca operação da Carris Metropolitana. Mas são também partilhados com o público, numa política de transparência pouco comum no sector dos transportes.

Um ecrã gigante onde é possível ver os autocarros que estão a circular, em tempo real, em qualquer parte da área metropolitana de Lisboa. Numa janela ao lado, aparece o número de validações ao segundo, a partir do qual é calculado o número de passageiros. “Se uma pessoa validar duas vezes o passe, só conta como um passageiro”, explica Mariana Costa.
Mariana é responsável pelos dados da Carris Metropolitana. A sua tarefa e responsabilidade é supervisionar a informação que vai chegando em tempo real dos quatro operadores que asseguram, debaixo da mesma marca, a circulação de milhares de autocarros em mais de três mil quilómetros quadrados – a maior região metropolitana do país. Na sala de operações da Carris Metropolitana, onde está a equipa da Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) que gere todo este serviço, os números estão sempre a mexer.

“Naquele painel, temos a informação do número de validações ou de vendas a bordo, que já foram feita até agora. Ao lado temos um número grande, que é o total da operação da Carris Metropolitana e depois temos os quatro números pequeninos, que são por área operacional. Depois, à direita, temos o total de passageiros únicos transportados.”
Além dos dados sobre validações e passageiros, o ecrã mostra a localização, ao segundo, de cada autocarro. A TML sabe onde está cada veículo, se está a circular ou se ficou parado no trânsito, por exemplo. E, pelo meio, vai sabendo também se as circulações estão a ser feitas ou se existiu alguma supressão – o que é útil para monitorizar e, se necessário, penalizar os operadores. Mas, acima de tudo, estes dados servem para saber o que se passa no terreno.


Toda esta informação em bruto é usada “para calcular uma série de indicadores que nos ajudam a monitorizar a operação”, explica Mariana. Um dos mais importantes é das viagens planeadas quantas é que foram realizadas – dado que a Carris Metropolitana disponibiliza publicamente no seu site, mas já vamos a esta parte. “Ali atrás, têm estes quadros com alguns indicadores que nós calculamos com base nesta informação. Aqueles números maiores são a percentagens de circulações realizadas. Estão a verde porque mais de 95% das circulações foram realizadas no dia anterior”, diz Mariana, apontando para um conjunto de ecrãs mais pequenos, quatro no total, um por cada área de operação.

“Depois temos uma série de indicadores que nos ajudam depois a perceber qual é o foco que devemos seguir na optimização da rede”, refere a analista de dados. “Temos a percentagem de circulações com zero passageiros, a percentagem de circulações com mais de 10 minutos de atraso em à partida, ou percentagem de circulações também com adiantamento em relação à hora de partida que está prevista.”
A Carris Metropolitana em si não é um operador mas uma marca que agrega quatro operadores diferentes. Cabe à TML a articulação e gestão dessas empresas, assegurando que cumprem os respectivos contratos de concessão. Isto é, a TML é responsável por supervisionar o trabalho que a Viação Alvorada, a Rodoviária de Lisboa, a TST e a Alsa Todi fazem nas respectivas áreas de operação (são quatro operadores e quatro áreas, duas a norte e as outras duas a sul do Tejo). “Como estes operadores são remunerados pela extensão percorrida, nós temos que ter a informação que nos permita detectar quais é que são as circulações que são realizadas, e se elas foram realizadas de forma completa”, aponta Mariana. “E também se elas tiveram atrasos ou adiantamentos, porque os contratos prevêem penalizações caso existam grandes atrasos ou adiantamentos.”
“Também há ali aquela informação das reclamações. Nós também monitorizamos diariamente as reclamações. Aquilo que está ali é a percentagem do número de reclamações em relação ao total dos passageiros transportados”, diz.

A informação que chega à sala da TML em bruto e que é mostrada nos vários ecrãs de monitorização é também mostrada ao passageiro. “É assim que mostramos quantos minutos faltam para o próximo autocarro”, explica Mariana, referindo-se quer aos painéis amarelos que estão colocados nas principais paragens, quer à informação em tempo real que qualquer pessoa pode consultar no seu telemóvel – seja na aplicação oficial da Carris Metropolitana, seja na aplicação da sua preferência (Google Maps, Apple Maps, CityMapper, Transit, Moovit…).
Mostrar tudo, sem medos
A aposta na monitorização e transparência dos dados da Carris Metropolitana faz parte da estratégia da TML. “Faz parte de uma política nossa, como entidade pública, de expormos e de estarmos expostos, de sermos avaliados e de permitirmos uma avaliação do serviço público que é prestado por nós”, afirma Rui Lopo, administrador da TML. O objectivo é garantir que a informação está acessível não só internamente, mas ao público em geral, através do site da Carris Metropolitana. Numa nova secção intitulada ‘A nossa operação ao vivo’, qualquer pessoa pode ver quantos passageiros foram transportados no dia de hoje, no mês ou no ano, saber as linhas mais utilizadas e também a percentagem de viagens realizadas a partir do que está planeado. “É uma política de transparência total”, refere o responsável.



Agora, com a Carris Metropolitana e com ferramentas de monitorização em tempo real, a TML consegue saber exactamente quantos autocarros estão na estrada, quantos passageiros estão a ser transportados e quais os níveis de cumprimento do serviço. “Nós monitorizamos, como vocês viram, esses dados e agora vamos passar a mostrar esses dados às pessoas. Vamos começar com indicadores relativamente simples, que é quantas pessoas estão a ser transportadas por dia.” A TML quer ser transparente, mas precisa de ir aos poucos. “Estamos a começar devagarinho, ainda não vamos colocar todos os dados e mesmo os primeiros dados que estamos a colocar são dados que ainda estão em teste”, explica.
Ainda assim, o administrador da TML faz um disclaimer: há factores tecnológicos que podem afectar a precisão da informação. “Isto está assente a muitas questões tecnológicas que podem falhar, ou porque o servidor esteve indisponível durante 10 ou 30 minutos, e é o suficiente para haver um delay na passagem da informação, ou porque um autocarro, por uma razão qualquer, deixou de comunicar”, exemplifica. Apesar destes desafios, a evolução tem sido notória. “Nós melhorámos imenso desde o início da operação, melhorámos imenso no último ano, melhorámos muitíssimo nos últimos seis meses, porque vamos apertando cada vez mais os sistemas dos operadores e vamos trabalhando em várias frentes. Ainda não está perfeito, mas… está no ponto em que a gente já não tem receios de estarmos a dar informação que já não esteja boa para as pessoas poderem consultar.”
Entre os próximos passos está a divulgação mais detalhada da operação. “Vamos passar a divulgar o número de passageiros de todas as linhas, estamos só a afinar pequenas coisas e ainda a corrigir alguns dados e perceber como é que os operadores têm que corrigir alguma informação, para também podermos passar a dar esse dado”, adianta Rui Lopo. Para além do número de passageiros, será também divulgado um outro indicador essencial: o nível de serviço por linha. “Ou seja, face àquilo que está planeado acontecer, o que é que o operador realizou ou não realizou numa determinada escala temporal.”
Segundo os dados da TML, actualmente cerca de 98% dos serviços planeados são realizados. “Claro que nós temos imensas linhas que têm 100%, depois imensas linhas têm 99%, depois imensas linhas têm 98%. Depois temos algumas que, ou por decisões de operação, ou por circunstâncias isoladas que acontecem no dia-a-dia da operação, não são feitas”, explica, o que vai influenciando a percentagem geral. E há razões para que não sempre seja possível atingir os 100% de serviços cumpridos. “Não se consegue fazer 100% ou porque um motorista falhou e não apareceu, ou porque um autocarro avariou, porque há tanto trânsito que o autocarro demorou muito tempo num percurso de ida e depois não consegue fazer, dentro do planeado, o percurso de vinda…. Portanto, há um conjunto de variáveis que justificam a não realização de um determinado serviço.”
Ter dados em tempo real ajuda a que a TML e os operadores possam, à distância, repor falhas que estejam a acontecer no terreno, principalmente se essas falhas afectarem os serviços mais concorridos. “Quando algo falha logo às 5h30, que é o momento tenso da manhã, o que é que se costuma fazer? Costuma-se realocar os autocarros aos serviços mais críticos e retirar o autocarro dos serviços menos críticos”, explica Rui Lopo. Esta realidade faz com que algumas linhas com menor procura possam ser mais afectadas por falhas pontuais e, por isso, não tenham a tal taxa de 100%. “Isto são coisas que diariamente acontecem. Acontecem sempre em operação. O que se tem que trabalhar é sempre para melhorar, mesmo nessas linhas que tendencialmente podem ser as mais afetadas por decisões de operação.”

Para garantir que a informação disponibilizada é cada vez mais precisa, há um trabalho contínuo de afinação. “Como vos disse há pouco, estamos a trabalhar com muitos dados técnicos, de muito baixo nível, que é preciso trabalhar ainda com os operadores. Estamos a trabalhar no sentido de corrigir coisas tecnológicas, sobreposições de paragens, coisas deste género, que depois não permitem que o elemento tecnológico seja bem calculado”, explica o administrador da TML.
Outro factor essencial para a fiabilidade dos dados é a formação dos motoristas. “Isto não aparece por geração espontânea”, sublinha Rui. “A interacção do motorista com a sua consola, no início de cada circulação, é importante: o motorista tem de seleccionar bem o serviço que vai fazer, o que depois permite que o sistema de informação consiga apanhar que aquela circulação começou a horas ou começou num sítio certo. Tudo isto tem sido um processo que demora o seu tempo, mas que já achamos estar com dados bastante fiáveis.”
Um novo site e uma Carris Metropolitana a crescer
A disponibilização de dados sobre a operação decorreu em Novembro, com o lançamento de um novo site para a Carris Metropolitana, que veio complementar a aplicação móvel, lançada dois meses antes. O site renovado trouxe uma série de novidades e melhorias focadas em oferecer uma experiência digital mais intuitiva e prática para todos os utilizadores, apostando na acessibilidade, personalização e inovação.


Entre as novidades, está a disponibilidade da plataforma em português e em inglês, tornando a plataforma mais acessível para pessoas estrangeiras, bem como a experiência mobile-first, com um design pensado em primeiro lugar para dispositivos móveis. A personalização é uma parte forte do novo site, permitindo a cada utilizador destacar as suas linhas e paragens preferidas na homepage, para acesso rápido às informações mais relevantes;
As ferramentas de pesquisa passaram a incluir uma procura mais eficiente por linhas e paragens, facilitando o acesso à informação. E os avisos passaram por um upgrade, com novos filtros de pesquisa e a possibilidade de incluir links, imagens e categorias específicas, tornando mais prática a consulta de informações importantes.

“Nós temos mais de 40 mil pessoas por dia que consultam o nosso site. Juntamente com o número de pessoas que utilizam a app, é um número bastante significativo de consultas e de exposição da Carris Metropolitana”, observa Rui Lopo. “Estas são ferramentas que hoje em dia são absolutamente indispensáveis na utilização de transportes públicos.”
“Hoje os transportes estão, e bem, adaptados a aplicações informáticas que nos permitem consultar horários, obter avisos, ter informação diversa. E, portanto, isto é absolutamente indispensável se nós quisermos continuar a trabalhar para servir melhor as pessoas”, acrescentou o administrador da TML no referindo encontro com jornalistas.
Em 2024, a Carris Metropolitana transportou mais de 174 milhões de passageiros e verificou-se um crescimento em todas as suas áreas de operação: 59 milhões de passageiros na Área 1 (Amadora, Oeiras e Sintra), 58 milhões na Área 2 (Loures, Mafra, Odivelas e Vila Franca de Xira), 37 milhões na Área 3 (Almada, Seixal e Sesimbra) e 19 milhões na Área 4 (Alcochete, Moita, Montijo, Palmela e Setúbal). Em Outubro, dois novos máximos foram atingidos, registando-se um total superior a 17 milhões de passageiros transportados num só mês e 688 mil passageiros transportados nas 24 horas de operação do dia 10 de Outubro.
Além disso, observou-se um crescimento significativo em vários terminais, tendo sido os três que mais cresceram: Moita, com um aumento de 174,9%; Alverca, com um crescimento de 68,2%; e Palmela, com mais 60,35%. Um destaque especial ainda para os mais de 10 milhões de passageiros que atravessaram o rio Tejo, utilizando as pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, reforçando a importância das ligações intermunicipais. O crescimento da Carris Metropolitana verifica-se não só durante os dias úteis: desde 2023, a média de passageiros que utilizam a rede da Carris Metropolitana aos fins-de-semana aumentou em 25%.