Cinco estações GIRA, que já têm as ligações eléctricas feitas e que aguardavam apenas abertura, poderão agora ser movida de lugares de estacionamento para outros locais próximos, por pressão da Junta de Freguesia.

A Junta de Freguesia de Belém (JFB) quer deslocalizar cinco estações GIRA instaladas na freguesia e já ligadas à infraestrutura eléctrica da cidade, porque as mesmas ocupam lugares de estacionamento automóvel. Numa publicação no Facebook na passada quarta-feira, escrita em letras maiúsculas, a Junta de Belém dava conta de que as cinco estações “irão ser recolocadas em breve noutro local perto”, sem adiantar mais detalhes.
As cinco estações GIRA que a Junta de Belém quer tirar de lugares de estacionamento para zonas de passeio fazem parte da expansão do sistema de bicicletas partilhadas em curso. São duas na Avenida da Torre de Belém (uma no cimo da avenida e outra na parte debaixo, junto ao Pingo Doce), uma num parque de estacionamento de Algés, outra no Largo Alves Miguel junto à ciclovia da Rua Fernão Mendes Pinto, e uma quinta junto à Cordoaria. Além da publicação no Facebook, a Junta de Belém ainda afixou avisos à população em cada uma das estações polémicas, que, no entanto, terão sido removidos no próprio dia.
Uma GIRA num parque dissuasor
Uma das estações mais criticadas é a que foi colocada num dos parques de estacionamento dissuasores de Algés, trocando seis lugares de estacionamento automóvel por 37 docas para bicicletas. Críticos questionam o porquê de a estação não foi colocada na zona de passeio ao lado, que é uma área de baixa utilização por não existirem atravessamentos pedonais próximos, ou na sua localização originalmente planeada no projecto de requalificação de fundo da Rua Fernão Mendes Pinto – ou seja, no meio do nó rodoviário de Algés, junto ao viaduto do IP7, por onde está prevista a ligação ciclável intermunicipal entre Lisboa e Oeiras.


No Largo Alves Miguel, a estação GIRA com 11 docas retirou um lugar de estacionamento. Na Avenida da Torre de Belém, as duas estações GIRA com 19 docas cada uma tiraram quatro lugares de estacionamento oblíquos na zona do Pingo Doce, onde existem ainda dois cafés, e entre dois e três lugares longitudinais na parte norte da mesma avenida. Já na zona da Cordoaria, a estação GIRA substituiu seis lugares automóveis por 30 docas para bicicletas. Contas feitas, a freguesia de Belém poderá ganhar 97 docas GIRA e perder 19 lugares de estacionamento.
Na mesma publicação no Facebook, a Junta de Freguesia de Belém garante que não pretende criar uma “guerra” entre automobilistas e ciclistas, e que apenas está a exigir “equilíbrio e bom senso”. No grupo Vizinhos de Belém na mesma rede social, o Presidente da Junta, Fernando Ribeiro Rosa, já tinha mostrado algumas vezes o seu desagrado com a localização das estações GIRA, referindo num comentário recente que “a EMEL é que fez este disparate mas vai ter de reverter esta situação”. Acrescentava que “tudo farei para que isso se concretize e que a EMEL seja penalizada por essas despesas que desnecessariamente provocou”.

Deslocalização pode encarecer e atrasar processo de expansão da GIRA
Num comentário recente no grupo Vizinhos de Belém – onde a JFB marca uma presença assídua de diálogo com os seus fregueses –, João Farmhouse Carvalhosa, tesoureiro da Junta, esclareceu que “a Junta de Freguesia diligenciou junto da CML para que a EMEL retirasse as estações colocadas de forma irracional” e que aguardam a sua retirada “tal como foi comprometido”. Segundo João, a JFB sugeriu que a estação colocada em frente ao Pingo Doce passasse para depois do cruzamento, mais perto do fim da avenida. “As outras não têm ainda [nova] localização. Terá de ser a EMEL a propor e deverá ser validado pela Junta”a-t-il expliqué.
De acordo com o caderno de encargos do mais recente concurso público de aquisição de estações GIRA, a instalação de uma estação com 20 docas tem um custo unitário máximo de 35 mil euros. Estima-se, a partir deste tecto máximo, que a reinstalação das cinco estações poderá ter um custo extraordinário de 175 mil euros no pior dos cenários. De notar que algumas das cinco estações contestadas agora pela Junta de Belém já estavam instaladas desde o Verão passado e que foram, mais recentemente, ligadas à electricidade, para que, em breve, pudessem entrar em funcionamento. A sua eventual deslocalização implicará não só a retirada da estação do local actual e o seu transporte até ao novo ponto, mas também novas instalações eléctricas, o que poderá encarecer e atrasar o processo de expansão da GIRA.

A alteração ou remoção de estações GIRA devido à pressão de juntas de freguesias, comerciantes ou moradores tem sido uma situação regular desde o início da implementação do sistema de bicicletas partilhadas na cidade de Lisboa. Desde 2018 que várias estações foram deslocalizadas de espaços afectos ao automóvel – onde originalmente estavam previstas – para áreas pedonais antes ou após a sua instalação, segundo algumas notícias e segundo apurou o Lisboa Para Pessoas. Especialistas entendem que as estações GIRA deverão substituir espaço automóvel para promover uma verdadeira transição modal do carro para modos mais sustentáveis; e esse é o entendimento também de pessoas próximas ao processo, que entendem que a colocação de estações GIRA em passeio induz à utilização das bicicletas em áreas pedonais, o que pode gerir conflitos ou até acidentes com peões.


GIRA avança sem ciclovias
De referir que Belém já tem estações GIRA junto à ciclovia ribeirinha. As cinco estações agora contestadas pela Junta servem para trazer a rede para o interior da freguesia, onde está prevista a expansão também da rede de ciclovias. Com a ciclovia na Avenida da Índia suspensa desde Abril de 2021, a única ciclovia com perfil utilitário que chegou a ser construída na freguesia de Belém foi a da Rua Fernão Mendes Pinto. No entanto, o plano de ciclovias pop-up anunciado por Fernando Medina em 2020 previa vários eixos cicláveis em Belém – além da Avenida da Índia e da Rua Fernão Mendes Pinto, também na Avenida das Descobertas, na Avenida Restelo ou na Avenida da Torre de Belém. Estas cinco ciclovias dariam a Belém uma rede ciclável segregada e de uso utilitário, que acomodaria melhor as futuras estações GIRA e que, segundo o núcleo associativo Vizinhos de Belém, permitiria também melhorar o estacionamento automóvel e a segurança rodoviária da freguesia.
“Surpreende-nos acima de tudo a falta de informação. Seria fácil para uma junta de freguesia ou associação de moradores defender a mudança de planos se conhecesse os argumentos que levaram ao desrespeito dos projectos de fundo e à instalação das estações em novos locais”, argumenta Gonçalo Matos, coordenador dos Vizinhos de Belém.
Ao Lisboa Para Pessoas, Gonçalo explica que a Avenida da Torre de Belém ou a Rua Fernão Mendes Pinto “têm projectos de espaço público em desenvolvimento”, aos quais os Vizinhos já tiveram acesso e nos quais “havia lugares previstos para as estações, nomeadamente em refúgios ou noutro tipo de dispositivos de segurança que acomodariam esses equipamentos de forma mais enquadrada”. “Surpreendeu-nos o aparecimento de estações em localizações até desviadas desses pontos inicialmente previstos nos projectos, o que indica que os ramais eléctricos e as próprias estruturas vão ter de ser reconduzidas em algum momento.” Para Gonçalo Matos, há um “esclarecimento que é necessário e que terá de chegar mais tarde ou mais cedo”, e é fundamental ponderar “não a relocalização destas estações, mas os projectos dos arruamentos por inteiro e a sua calendarização urgente”.
O Lisboa Para Pessoas contactou a EMEL mas não obteve resposta até ao momento.