Apresentado o Plano Ferroviário Nacional com investimentos previstos até 2050

O Plano Ferroviário Nacional tem várias novidades para a Área Metropolitana de Lisboa (AML). São investimentos pensados para um horizonte temporal até 2050.

Lisbon Photography For People

É um plano com o objectivo de guiar os investimentos daqui para a frente do país em ferrovia, para que os mesmos não sejam definidos à mercê de oportunidades de fundos comunitários ou das vontades de cada Governo. O Plano Ferroviário Nacional (PFN) foi finalmente apresentado; nesta quinta-feira, 17 de Novembro, ficou a conhecer-se o resultado de um ano de trabalho.

Nem tudo são novidades surpreendentes: já se esperava a reactivação dos troços desactivados das Linhas do Alentejo e do Douro, ou a re-inclusão de Viseu e de Bragança na rede ferroviária nacional. Também não é surpresa a ligação do Aeroporto Sá Carneiro, do Porto, com ferrovia e a reabertura da Linha de Leixões, também a Norte, por exemplo. Mas há vários detalhes novos, que ainda não tinham sido propriamente abordados em apresentações anteriores.

Podes descarregar e consultar, aqui em baixo, o Plano Ferroviário Nacional na íntegra. Logo a seguir, apresentamos os principais destaques deste documento.

Na Área Metropolitana de Lisboa

Começando pela Área Metropolitana de Lisboa (AML), o Plano Ferroviário Nacional agora apresentado prevê os seguintes investimentos:

  • Linha de Loures: uma nova linha a começar em Lisboa, a cortar o concelho de Loures e a ligar directamente à Linha do Oeste para reduzir os tempos de viagem para a zona Oeste em 20 ou 30 minutos. Há a possibilidade de, aproveitando esta nova linha, colocar comboios directos entre Torres Vedras e Setúbal pela Ponte 25 de Abril;
  • Ligação directa entre Sintra e Setúbal, com a nova travessia do Tejo, que irá também colocar a Moita e o Barreiro mais próximos de Lisboa;
  • Ligação directa entre Cascais e a Azambuja, com a ligação das actuais Linhas de Cintura e de Cascais e com a já prevista nova estação ferroviária subterrânea em Alcântara. Com a expansão do Metro para Alcântara, já em curso, esta zona poderá tornar-se uma grande interface de transportes da cidade;
  • Melhorar a conectividade entre a ferrovia e o Metro de Lisboa, com uma nova estação de comboios em Chelas-Olaias com um novo interface com a Linha Vermelha na estação de Metro das Olaias (investimento já previsto), a ligação entre a estação ferroviária Roma-Areeiro e a estação de Metro do Areeiro, e uma interface entre a estação ferroviária do Rossio e a estação de Metro do Rossio (actualmente só tem ligação com a estação de Metro dos Restauradores);
  • Afirmar a Linha de Cintura como uma verdadeira “5ª linha de Metro”, começando por “melhorar drasticamente e uniformizar a comunicação dos serviços existentes, independentemente do modo e do operador, em especial, quando se trata de transporte de grande capacidade como comboio e Metro”. Ao mesmo tempo, “alargar-se o horário dos comboios que servem a estação de Alcântara-Terra aos fins-de-semana e feriados”. Numa segunda fase, reforçar as frequências dos serviços actuais, para que a Linha de Cintura tenha 15 comboios/hora nos dias úteis e nove comboios/hora nos fins-de-semana e feriados.
Rede ferroviária prevista no PFN na AML

No PFN, lê-se que a actual rede ferroviária na AML tem uma “estrutura radial”, o que “torna difíceis deslocações que não tenham como destino Lisboa”. Ou seja, é uma rede com “utilização limitada para mobilidade dentro dos concelhos, incluindo Lisboa”. Por isso, verifica-se uma “elevada frequência e ocupação às horas de ponta”, mas uma “baixa frequência e ocupação no resto do dia”. O novo Plano propõe a “conversão de ligações radiais em ligações diametrais, facilitando ligações rápidas entre município da periferia da AML” et un “elevada frequência durante todo o dia”.

“Das 175 milhões de viagens de comboio feitas no país, 134 milhões são feitas nos comboios suburbanos de Lisboa”, pode ler-se na apresentação do Plano Ferroviário Nacional, onde também é referido que, apesar de as regiões de maior densidade populacional estarem concentradas ao longo das linhas ferroviárias, isso não acontece com Loures e Odivelas – como o Lisboa Para Pessoas mostrou com esta análise de dados.

Uma parte fundamental do futuro ferroviário da Área Metropolitana de Lisboa é a nova travessia do Tejo (a muito aguardada Terceira Travessia do Tejo – TTT), entre Chelas e o Barreiro, e que não só pode permitir comboios entre Sintra e Setúbal, mas também reduzir em pelo menos 30 minutos o acesso de Lisboa ao Alentejo e Algarve.

No resto do país

Em relação ao resto do país, o Plano Ferroviário Nacional propõe:

  • Linha de Trás-os-Montes: nova linha para ligar Porto, Vila Real e Bragança, que, para ser competitiva com o automóvel, deve colocar Vila Real a menos de 1 hora do Porto e Bragança a menos de 2 horas da cidade Invicta;
  • Nova linha Aveiro – Viseu – Guarda – Vilar Formoso, que reintroduz Viseu na rede ferroviária nacional, permitindo o acesso à futura Linha de Alta Velocidade. Esta nova linha também vai permitir colocar Lisboa a 3 horas de Madrid, assumindo que os investimentos no lado espanhol estão completos;
  • Reabertura da Linha do Alentejo na sua totalidade, criando uma redundância à actual Linha do Sul e aproximando Beja do Algarve. Actualmente, a Linha do Alentejo liga Lisboa a Évora e Beja, mas quem esteja em Beja, por exemplo, se quiser descer para Sul tem hoje de subir até à capital e de voltar a descer;
  • Reabertura da Linha do Douro na sua totalidade, reactivando a ligação de 28 quilómetros entre o Pocinho (onde hoje termina a Linha) e Barca d’Alva, podendo existir aqui uma ligação a Espanha (mas depende da vontade do país vizinho de reactivar a sua parte). Um estudo da IP já realizado diz que serão necessários 74,7 milhões de euros para reabrir a Linha do Douro neste troço;
  • Ligação de Alta Velocidade a Sul, ligando Lisboa ao Algarve. Existem duas alternativas em estudo: a modernização da actual Linha do Sul, reduzindo a viagem em cerca de 30 minutos; um novo eixo que inclua Évora, Beja e Faro e que permita uma viagem em menos de 2 horas. Pode ser criada uma ligação directa na zona de Lisboa para ligar a Alta Velocidade a Norte e a Sul sem passar pela capital, aproveitando essa eventual nova linha para ligar o futuro Aeroporto de Lisboa;
  • Expansão do Sistema de Mobilidade do Mondego e reactivação do comboio até Cantanhede: em Coimbra está em construção a primeira fase do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), também conhecido como Metro Mondego – um sistema de metrobus que vai re-aproximar a Lousã de Coimbra, mais de 10 anos depois do encerramento do Ramal da Lousã. Mas numa segunda fase, o SMM pode atravessar o Mondego e ligar Coimbra a Cernache e a Condeixa-a-Nova. Já quanto a Cantanhede está pensada a reactivação do troço ferroviário entre esta cidade e a Pampilhosa, permitindo uma ligação directa ao actual serviço suburbano da Figueira da Foz.
  • Expandir e consolidar o turismo ferroviário, através das linhas do Douro, da Beira Baixa, de Sintra e Cascais (“ligam Lisboa a dois locais com elevada procura turística de praia e de património dentro da própria Área Metropolitana, tendo, no caso da Linha de Cascais, um interesse paisagístico em si mesmo”), do Vouga e também a do Corgo – “caso venha a considerar-se a sua reabertura parcial”.
Ferrovia e metrobus na região de Coimbra
  • Sistema de Mobilidade do Algarve, um sistema de metrobus complementar à actual Linha do Algarve para servir cidades e zonas fora do alcance directo do comboio, como Vila do Bispo, Albufeira e Quarteira, e também o Aeroporto de Faro.
  • Comboios Nocturnos e Internacionais: o PFN prevê que “a primeira medida a tomar, neste contexto, é a retoma do serviço Sud Express”, entre Lisboa e Paris, permitindo uma viagem numa noite e uma manhã. Estão ainda pensadas ligações nocturnas entre Lisboa e Madrid, entre Lisboa e Barcelona, entre A Coruña e Faro, e entre Lisboa, Barcelona e Valência (“um eixo que valerá a pena estudar para a criação de serviços deste tipo”).

Na Área Metropolitana do Porto

Em relação ao Porto e à região Norte:

  • reactivação da Linha de Leixões e nova ligação ao Aeroporto Sá Carneiro, o que permitirá prolongar os serviços suburbanos e regionais da Linha de Aveiro;
  • inclusão da Linha do Vouga na rede suburbana do Porto, com serviços frequentes pelo menos nas suas duas extremidades;
  • Linha do Vale do Sousa, para ligar o Porto a Paços de Ferreira e Felgueiras;
  • Sistema de Mobilidade Ligeira do Cávado-Ave, um sistema de metrobus e/ou de metro ligeiro para fechar a malha do chamado Quadrilátero do Minho, ligando as pontas da rede pesada ferroviária, isto é: Póvoa de Varzim – Famalicão – Guimarães – Fafe, por um lado, e Braga – Guimarães, por outro. Pretende-se que este sistema possa ter uma “solução evolutiva, com primeira fase em modo rodoviário, prevendo futura evolução para ferrovia ligeira”;
O Sistema de Mobilidade Ligeira do Cávado-Ave proposto
  • e ainda: a ligação entre o Porto e Amarante com a futura Linha de Trás-os-Montes; a criação de serviços entre o Porto e Barcelos; e tornar Braga o terminal dos comboios Regionais da região do Minho. Segundo o PFN, “após a criação dos serviços suburbanos entre o Porto e Barcelos, propõe-se que, com a construção de uma concordância em Nine, os serviços Regionais da Linha do Minho, procedentes de Viana do Castelo, possam ir terminar a Braga”.
Rede ferroviária prevista no PFN na AMP

Um ponto de situação

O Plano Ferroviário Nacional tem em conta os projectos de recuperação e modernização da rede existente já em curso ou em projecto, nomeadamente:

  • a nova linha Évora-Elvas, que já vai permitir a criação de serviços de alta velocidade directos entre Lisboa e Madridet le prolongamento do Intercidades a Elvas – em curso;
  • a concordância da Mealhada, que irá permitir ligações Intercidades directas entre o Porto e a Beira Interior (Castelo Branco, Covilhã, Guarda) – em curso;
  • a electrificação da Linha do Algarve, da Linha do Oeste (entre Meleças e Caldas da Rainha) et Linha do Douro (entre Marco de Canaveses e Régua) – em curso;
  • a nova Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto, que irá libertar capacidade da Linha do Norte, encurtar as distâncias entre as duas maiores cidades do país e também aproximar o país litoral e interior – em projecto;
  • a futura Linha de Alta Velocidade entre o Porto e Vigo e entre Braga e Vigo– em projecto.
  • a conclusão da electrificação da rede existente – em projecto.

Com a conclusão da electrificação da rede existente, propõe-se o prolongamento do serviço Intercidades a Portalegre et retoma de serviços directos de longo curso entre Lisboa e Beja. O PFN propõe ainda um novo eixo de comboios Intercidades entre Lisboa e Valença com serviços frequentes et criação de novos serviços e redução de tempos de viagem no acesso de Lisboa/Porto à Beira Alta e ao Oeste, com utilização da futura Linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto.

Num pequeno diagnóstico, o PFN identifica que, apesar de a actual rede ferroviária cobrir as zonas mais povoadas do país – com 82% da população a viver a menos de 15 minutos de uma estação ou apeadeiro – “algumas linhas não têm serviço de passageiros, outras têm serviço fraco”, e “alguns territórios não têm acesso à rede”. A actual rede de Alta Velocidade com o serviço Alfa Pendular (que circula a um máximo de 220 km/h) está circunscrito ao eixo Braga – Faro “com oferta limitada a Sul”; os serviços interurbanos (Intercidades e Interregional) funcionam “sem horários cadenciados e com oferta limitada nas ligações à Beira Interior, Oeste, Alentejo e Algarve”; os tempos de viagem são, “na generalidade, pouco competitivos”; e há uma “quase inexistência de ligações transfronteiriças”.

No cenário final, o Plano Ferroviário Nacional pretende que as 10 maiores cidades do país estejam integradas com serviços ferroviários de Alta Velocidade, que existam várias ligações a Espanha a partir de todo o território, e novos serviços interurbanos (Intercidades e Interregional) com “ligações frequentes e competitivas com o automóvel aos centros urbanos de relevância regional”. Acima de tudo, o PFN pretende “assegurar ligação com elevada qualidade de serviço aos 28 centros urbanos de relevância regional, que incluem todas as capitais de distrito, potenciando o seu desenvolvimento”.

A execução deste Plano, que tem um horizonte temporal indicativo de 2050, pretende ainda o fim de todas ligações aéreas domésticas em Portugal continental. Pretende-se também uma transferência modal para a ferrovia: no que toca ao transporte de passageiros, passar de 4,6% para 20% de quota modal do comboio. Podes descarregar a apresentação completa aqui:

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