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Ciclovia em Telheiras com pilaretes removidos deixa utilizadores desprotegidos

Ciclistas queixam-se da fraca segurança desta ciclovia desde que deixou de ter pilaretes, principalmente de noite, uma vez que fica numa rua pouco iluminada.

Fotografia de Mário Rui André/Lisboa Para Pessoas

A ciclovia na Rua Professor Pinto Peixoto, em Telheiras, é uma das mais antigas de Lisboa. Fazia parte do anel que Sá Fernandes, em 2009, imaginava na cidade: um corredor contínuo que permitisse dar uma volta de bicicleta por Lisboa e que unisse os seus diferentes espaços verdes. Entretanto, a estratégia política mudou, com uma rede de mais de 150 km e a bicicleta a ser vista sobretudo como um meio de transporte urbano e utilitário. Mas as primeiras ciclovias de Lisboa, como esta, permanecem disponíveis e contam a história de uma cidade que há não muito tempo atrás começava a dar as primeiras pedaladas.

Em 2020, enquanto expandia a rede ciclável com várias intervenções pop-up, a Câmara de Lisboa melhorava algumas das ligações mais antigas, como a ciclovia da Rua Professor Pinto Peixoto. Este troço foi construído há mais de uma década com uma tipologia bidireccional, mas sem pilaretes ou outro tipo de segregação física – a separação entre a ciclovia e a estrada ao lado acontecia somente com um traço contínuo e uma diferença de cor no piso.

Anos mais tarde, a ciclovia recebeu alguns pilaretes de borracha nas zonas de menor visibilidade, ou seja, nas curvas, conforme as imagens do Google Street View de 2014 comprovam. No ano passado, muitos desses pilaretes já estavam danificados e a autarquia decidiu, então, colocar pilaretes novos, desta vez em toda a extensão da ciclovia, aumentando a segurança dos utilizadores, principalmente daqueles que circulavam em contra-sentido ao tráfego automóvel (a rua tem apenas uma via de circulação).

Estranhamente, quase todos os pilaretes colocados há pouco mais que um ano foram removidos e encontram-se amontoados no final da rua. Só alguns sobreviveram. Sofia usa esta ciclovia desde 2013. Mora em Benfica e o troço faz parte do seu commute semanal até à Biblioteca Nacional, em Entrecampos; esteve sem poder pedalar devido a uma operação ao joelho e quando regressou deparou-se com a ciclovia sem os pilaretes de segregação. “Estive cerca de um mês e meio sem andar, portanto não sei o timing da retirada”, mas “a ausência de pilaretes torna a ciclovia muito insegura à noite. Venho no sentido Entrecampos-Benfica e os carros cruzam-se comigo no sentido contrário nesta ciclovia, que fica numa rua muito pouco iluminada”, disse por mensagem ao Lisboa Para Pessoas.

Cristina também usa este troço no seu percurso para o trabalho, entre Telheiras e a Baixa. “Já é a segunda vez que colocam pinos aqui são sempre destruídos”, lamenta, sugerindo uma outra solução para o local por uma “questão de bom senso e de não desbaratar recursos do erário público” – em vez de segregadores de borracha, um lancil de pedra a separar a ciclovia da estrada à semelhança do que existe noutras partes da cidade e mesmo em Telheiras. Cristina refere ao Lisboa Para Pessoas que já, “por duas vezes”, viu o carro-varredor de ruas a derrubar pilaretes nesta ciclovia. Mas, “esta razia não sei se foi feita toda ao mesmo tempo”. “Naquele troço, passam imensas crianças de bicicleta, skates, etc. Há uma curva que é particularmente perigosa pela falta de visibilidade dos carros para a pista, devido ao muro alto” e, além disso, ali “os carros fazem marcha a trás para sair do estacionamento”.

Fotografia de Mário Rui André/Lisboa Para Pessoas

Clarrisse mora naquela rua e é utilizadora da ciclovia, que vê como “um enorme privilégio independentemente de todos os defeitos”. Conta ao Lisboa Para Pessoas que já tinha visto o carro-varredor a derrubar os pilaretes que a ciclovia tinha anteriormente. “Creio que uma solução como a da Almirante Reis seria mais apropriada. E não consigo entender porque se substituiu os pilaretes anteriores por algo semelhante.” Na ciclovia unidireccional da Almirante Reis, a segregação da ciclovia é feita através de um pequeno “alto” de borracha da Zicla, que permite que, em caso de necessidade, um carro possa entrar na ciclovia e permite também que veículos de emergência possam utilizar o corredor ciclável.

Fotografia partilhada por Bartolomeu

Bartolomeu faz a ciclovia todos os dias para deixar o filho na creche, mas não de bicicleta. “Faço-a a pé, à falta de passeios decentes para andar com o carrinho de bebé no trajecto que tenho de fazer”, conta num e-mail enviado ao Lisboa Para Pessoas, depois da primeira publicação deste artigo. Em Abril, deixou uma ocorrência na aplicação Na Minha Rua. “Na altura estavam poucos pilaretes removidos, e achava que eram os carros que os derrubavam. Eu diligentemente, assim que via um derrubado, recolocava, mas não dava para muito sem a fixação certa.” Agora, Bartolomeu não tem dúvidas de que é o carro de limpeza da Junta de Freguesia que, pela largura, derruba os pilaretes. “Os próprios pilaretes na parte de baixo têm marcas dos pneus/escovas. Diga-se que antes das eleições era raro ver qualquer limpeza a ser feita na rua.” Partilhou duas fotografias connosco.

Já Francisco, por seu lado, entende que “tudo correu bem” quando a ciclovia em causa não tinha pilaretes e que, “quando os colocaram, os mesmos condicionaram em muito a manobra das viaturas aquando do estacionamento e outras manobras” por passar a “existir apenas uma efectiva e permanente via de rodagem”. Francisco aponta as “manobras de estacionamento” e os “habituais actos de vandalismo” como as causas do derrube dos pilaretes, mas também a limpeza da ciclovia pela Junta de Freguesia. “Reconhecendo que a limitação da ciclovia terá de ser uma realidade, sugiro que a dita seja concretizada de igual modo da existente na Av. Almirante Reis – marcações físicas baixas e resistentes. Esse exemplo salvaguarda todos os interesses: segurança, circulação, estacionamento e limpeza pública.”

Vídeo partilhado por Francisco

O Lisboa Para Pessoas contactou a Câmara Municipal de Lisboa, a EMEL e ainda a Junta de Freguesia do Lumiar, mas até ao momento não recebeu qualquer resposta, excepto da EMEL que remeteu as questões relacionadas com este troço ciclável para a autarquia. A limpeza desta ciclovia é da responsabilidade da Junta de Freguesia.

Artigo actualizado a 24/11/2021 com novos testemunhos recebidos por e-mail.