Obras urgentes na Rua da Prata evidenciam sistema de drenagem “muito, muito degradado”

Vereadora Filipa Roseta lembra que o Plano de Drenagem de Lisboa “não são só os túneis” e que “falta tudo o resto”, ou seja, reabilitar um sistema de drenagem que está “muito, muito degradado”, conforme os colapsos de colectores na Rua da Prata – e não só – indicaram.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Em Dezembro, as chuvas intensas que caíram sob Lisboa levaram ao encerramento da Rua da Prata. O colapso de uma parte de passeio destapou um problema maior que não poderia ser mais adiado: o colector de drenagem que atravessa aquela rua, transportando as águas pluviais para tratamento e posterior descarga no Tejo, quebrou, obrigando a Câmara de Lisboa a lançar uma empreitada urgente de reparação.

A Rua da Prata foi imediatamente encerrada ao trânsito e assim estará durante os meses que a obra de reparação tomará. O corte daquela artéria, que assume um papel preponderante na rede viária da Baixa Pombalina, sucedeu logo após o abatimento, a 16 de Dezembro, uma sexta-feira. Na segunda-feira seguinte, dia 19, arrancaram as obras.

Não se sabe a real duração da intervenção. Os comerciantes terão sido informados de que duraria três a cinco meses. Mas a autarquia indicava em Dezembro que os prazos iriam depender da “da ocorrência de mais precipitação [que não aconteceu com a mesma intensidade] e da real extensão dos danos, a qual só poderá ser estimada com mais rigor quando se iniciarem os trabalhos de demolição e escavação do troço danificado”. A Carris desviou os autocarros e eléctricos que passavam na Rua da Prata por dois meses.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Certo é que os carros não passam na Rua da Prata desde meados de Dezembro. O trânsito continua aberto a peões e para a mobilidade suave, como as bicicletas, também não existem restrições (mas existe um troço da Rua onde toda a estrada está bloqueada, sendo preciso ir pelo passeio com o veículo pela mão).

Na primeira sessão plenária da Assembleia Municipal, que decorreu no dia 10 de Janeiro, a Vereadora da Habitação e Obras Municipais falou apenas em “meses” de obra. Filipa Roseta disse que “o nosso sistema [de drenagem] está muito, muito degradado” e que “precisa de muita reabilitação” . “O Plano Geral de Drenagem de Lisboa não são só os dois túneis. O Plano Geral de Drenagem de Lisboa são obras no valor de 250 milhões. Os dois túneis são só 130 milhões. Falta tudo o resto. Vou sublinhar isto: falta tudo o resto”, explicou a vereadora do executivo de Carlos Moedas. “Temos 8 milhões de obras feito desde 2015 até hoje.”

Nesse “tudo o resto”, Roseta inclui a reabilitação dos colectores da Baixa Pombalina e de outras infraestruturas do sistema de drenagem da cidade – são “1600 km de colectores, que atravessam quatro séculos. O mais antigo é anterior ao pombalino”, referiu a vereadora responsável. Apresentado em 2015, o Plano Geral de Drenagem de Lisboa 2016-2030 fazia um diagnóstico do sistema da cidade e apresentava linhas de actuação, entre elas a construção de dois túneis para descarga rápida no rio de águas da chuva captadas nas partes altas da cidade (evitando, dessa forma, a sua acumulação nas partes baixas da cidade), duas grandes bacias de retenção, a ligação de bacias já existentes ao sistema e a reabilitação de vários colectores. “Em 2015, quando estas obras foram indexadas, já estava, por exemplo, a necessidade de refazer o colector da Avenida Infante Dom Henrique que colapsou nas cheias, como também já estava a necessidade de reabilitar os colectores da Baixa Pombalina”, disse Filipa Roseta.

A Vereadora responsável disse que “há uma razão pela qual [essas obras] não foram feitas: são obras muito exigentes, muito complexas que obrigam a uma enorme paciência dos nossos cidadãos. Cada vez que se muda um colector, ou que colapsa um, a via [que está por cima dele] tem de estar fechada durante meses, que é o que vai acontecer na Rua da Prata”. Não é por acaso que a Câmara de Lisboa tem vindo a comunicar o Plano Geral de Drenagem de Lisboa como a “obra invisível que prepara a cidade para o futuro”. É preciso preparar Lisboa mas também a população. “Temos de pedir paciência aos nossos cidadãos porque são obras difíceis que nós temos de fazer”, repetiu Roseta. E “não são só os túneis”, reforçou perante os deputados municipais, a quem pediu a leitura integral do Plano. “Estou a sublinhar isto porque parece que estamos a colocar o foco só nos dois túneis, mas também temos de fazer as outras todas.”

Na Rua da Prata, “tem de ser refeito o colector pombalino que estava lá desde o século 18”. A obra foi adjudicada por ajuste directo à empresa Tecnovia em tempo recorde, por se tratar de uma intervenção de “urgência imperiosa”, à luz do Código dos Contratos Públicos. A Rua da Prata foi o abatimento mais mediático – até porque já tinha acontecido em Outubro, com o trânsito cortado durante uma semana – mas não foi o único a suceder nos últimos tempos no sistema de colectores de drenagem da cidade. Na Avenida Infante D. Henrique, colapsou um colector no final de Dezembro e a reparação deverá durar dois meses, até ao final de Fevereiro/início de Março.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

Livre quer aproveitar obras para oferecer melhor espaço público às pessoas

Na também primeira reunião do executivo da Câmara deste ano, que decorreu no dia 11 de Janeiro, o partido Livre sugeriu à autarquia que aproveite as obras de urgência que tem vindo a realizar devido às cheias para oferecer às pessoas um melhor espaço público. No caso da Rua da Prata, o partido propõe que, depois da intervenção, se mantenha a artéria fechada aos carros, apenas com circulação pedonal, do eléctrico 15 e com uma ciclovia. Ou seja, o Livre quer que na Rua da Prata seja implementado o projecto da ZER ABC com a adição de uma ciclovia segregada e bidireccional.

A proposta do Livre para a Rua da Prata (DR)

Na apresentação realizada ao executivo, o vereador do Livre Carlos Teixeira, em substituição de Rui Tavares, mostrou fotografias recentes da Rua da Prata a ser tomada pelas pessoas, caminhando ou deslocando-se noutros modos suaves, uma vez cortada ao trânsito. O partido apresentou uma proposta para a Rua da Prata que inclui uma ciclovia bidireccional, algo que não estava previsto no âmbito da ZER ABC (que previa essa ciclovia na Rua do Ouro).

Já no Campo Grande, onde existiu um abatimento do pavimento que ainda está por resolver, junto ao túnel rodoviário e ao cruzamento com a Avenida do Brasil, o Livre quer melhorar a acessibilidade pedonal e ciclável, prolongando o espaço de ciclovia e melhorando-o para resolver os conflitos entre os dois modos que se verificam nessa zona. O partido propõe também a supressão de uma das quatro vias rodoviárias para três, de forma a tornar o atravessamento pedonal mais estreito e, dessa forma, mais seguro.

A proposta do Livre para o cruzamento da Avenida de Brasil com o Campo Grande (DR)

O Livre pegou ainda no corte recente de duas vias no Viaduto Duarte Pacheco para reparações no âmbito das cheias, alegando que essa supressão de duas vias (uma em cada sentido) não piorou o trânsito automóvel numa das principais entradas e saídas da cidade de Lisboa. O partido diz que existem 16 linhas de autocarro a utilizar aquele Viaduto, entre seis da Carris e 10 da Carris Metropolitana, e pede uma introdução de corredores BUS naquela zona, abrindo caminho para o prolongamento desses corredores pela A5. Segundo o Livre, esses dois corredores BUS, um por sentido, ajudaria a tirar mais carros de Lisboa e trazer mais pessoas da periferia de transporte público que o passe gratuito, que serve apenas algumas faixas da população residente neste município.

A proposta do Livre para o Viaduto Duarte Pacheco (DR)

O Livre apresentou estas suas ideias no período de discussão aberta da reunião do executivo camarário, não tendo formalizado nenhuma proposta para votação.

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