“O conflito pelo espaço público também é uma disputa do imaginário”

Durante largos meses, os historiadores Luísa Sousa e Diego Cavalcanti, a economista Patrícia Melo e investigadores de outras áreas olharam para o passado da mobilidade em Lisboa, em particular para o uso e invisibilidade da bicicleta. Nesta entrevista, partilham connosco algumas ideias.

Da esquerda para a direita: Patrícia Melo, Luísa Sousa e Diego Cavalcanti, investigadores do projecto Hi-BicLab (fotografia LPP)

Ao longo do tempo, a mobilidade foi mudando. Houve tempos em que a bicicleta era popular em Lisboa. A preferência por este meio de transporte rápido e independente de horários não é uma moda de agora, teve outros momentos áureos. Com o tempo, a utilização do automóvel subiu significativamente, num país que começou por ter uma taxa de motorização das mais baixas — um crescimento que não foi exclusivamente orgânico. E a utilização do transporte colectivo decresceu. Estas são algumas ideias discutidas no Hi-BicLab, um projecto de investigação liderado pelo Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT), da FCT NOVA e FCUL, e que teve a participação do UECE (ISEG-UL), do CIAUD (FAUL) e do GOVCOPP (U. Aveiro).

Durante vários meses, historiadores e académicos de diversas áreas do saber procuraram no passado respostas que estimulem a nossa imaginação colectiva e nos ajudem para pensar o presente e o futuro das nossas cidades. Este trabalho não foi feito dentro da academia; foram desenvolvidas várias actividades à sociedade, como um passeio histórico, uma exposição fotográfica, tertúlias de discussão de documentos, e workshops de co-construção de ideias. Os contributos e a curiosidade das pessoas foram essenciais para o sucesso deste projecto, cujos resultados serão lançados em breve num livro, escrito de forma acessível. É essa publicação que antecipamos nesta entrevista a três dos membros da equipa do Hi-BicLab: os historiadores Luísa Sousa e Diego Cavalcanti e a economista Patrícia Melo.

Acham que olhamos pouco para o passado quando desenhamos políticas públicas?

LUÍSA SOUSA (L.S.): Às vezes, corremos o risco de haver uma instrumentalização de aspectos do passado para servir agendas do presente. De qualquer modo, o tratamento do passado deve ser feito com cuidado. O contexto é importante.

As pessoas até podem ter sensibilidade de olhar para o que foi feito antes, mas muitas vezes fazem-no sem um enquadramento historiográfico mais amplo. E por vezes as nossas escolhas, enquanto sociedade, são legitimadas por agendas de conhecimento económico, de conhecimento científico e técnico, que estão incrustadas na sociedade em que se vive num dado momento e nos valores dessa altura. E se isto não for percebido e desconstruído, podemos estar a reproduzir soluções que precisavam de ter sido criticadas no passado, e não foram, e perder a nossa capacidade crítica e criativa no presente para pensar soluções para uma cidade mais justa, que inclua uma série de outras visões para a cidade.

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