Levam-nos à escola, ao trabalho, ao médico e de regresso a casa. Também nos conduzem à praia e à cultura. Mas nem sempre reparamos neles. Raquel Albuquerque, jornalista, quis dar visibilidade à profissão de motorista de transporte público e, através de oito histórias de diferentes partes do país, falar um pouco sobre a nossa sociedade e o nosso território.
“Todos os dias e noites, por ruas citadinas, estradas secundárias ou caminhos de terra, milhares de motoristas de transportes públicos levam alguém até um destino. Passam anos ao volante de um autocarro ou de um elétrico, a verem as paisagens a mudar e, se forem efetivos num par de carreiras, a acompanharem passageiros ao longo de várias etapas da vida. A profissão existe há mais de um século em Portugal, mas pouco se sabe sobre a sua história e a rotina destes profissionais, homens e também mulheres, nacionais e também imigrantes, cujo número se revela insuficiente para as necessidades crescentes neste sector. Este livro retrata oito motoristas de autocarros e dois guarda-freios de eléctricos, em vários pontos do território, as suas histórias e quanto nelas se espelha a evolução de um país em movimento.”
Levam-nos à escola, ao trabalho, ao médico e de regresso a casa. Também nos conduzem à praia e à cultura. Mas nem sempre reparamos neles. Eles Que Nos Levam: Histórias de Motoristas de Transportes Públicos é um pequeno livro que nos convida a calçar os sapatos de oito motoristas de transporte público que, diariamente, nos conduzem por diferentes realidades do nosso país. Através de histórias maravilhosa e detalhadamente contadas, Raquel Albuquerque, jornalista no Expresso, torna visível uma profissão que muitos de nós ignoramos e cujas dificuldades não paramos para compreender.
Publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, o livro vai além das histórias dos motoristas, recolhidas de norte a sul do país. Essas narrativas são, na verdade, um ponto de partida para discutir as transformações da sociedade das últimas décadas e os desafios territórios do país. É a partir do olhar daqueles que nos levam que Raquel explora temas como a desertificação do interior e as questões de imigração, conseguindo, com mestria, transformar histórias de vida em breves reflexões sociais.
Eles Que Nos Levam pode ser adquirido por 4,50 € no site da Fundação Francisco Manuel dos Santos, mas também nas lojas online da Wook ou da FNAC. Nesta entrevista, Raquel fala-nos sobre o livro e revela algumas das histórias e ideias que podem ser lidas nele.
Como é que te surgiu a ideia deste livro?
Surgiu por já acompanhar o tema da mobilidade enquanto jornalista e por ter percebido que sabemos pouco sobre a profissão de motorista. É uma profissão que vejo constantemente mas não sabia como é que funcionava. Tinha muita curiosidade em ouvir as suas histórias e entender o que os levou à profissão. Mas algo que me despertava ainda mais curiosidade era perceber as cidades e locais do seu ponto de vista. O que é que eles viam a acontecer a partir dos autocarros, as pessoas que viam a entrar e sair, as vidas que eles iam acompanhando, a evolução dos sítios para onde iam passando…
Era para ser logo um livro ou começou por ser uma reportagem jornalística?
Foi sempre para ser livro pelo detalhe que eu achava que este tema merecia. Não defini logo quantas histórias é que seriam, não sabia bem porque iria depender um bocadinho das histórias a que chegasse.
À medida que fui lendo mais sobre o tema, percebi que há pouco material sobre a profissão de motorista: poucos estudos, poucos artigos académicos ou análises. Há alguns relatórios do IMT sobre a profissão, mas realmente há pouca informação detalhada. Por exemplo, quantos motoristas de transporte público de passageiros existem em Portugal? O INE não tem esses dados desagregados; portanto, usei os dados que eram possíveis, que são o número que a ANTROP [Associação Nacional de Transportes de Passageiros] indicou. Queria entender como a profissão evoluiu, a distribuição por idade e sexo, e quantas mulheres são motoristas… Mas não havia informação ou análises feitas para nada destas coisas. E continua a não haver. No livro, tentei recolher histórias de forma mais abrangente possível, mas não repetitiva…
Tiveste uma preocupação de ir buscar realidades diferentes, desde aquela pessoa que estaciona o autocarro ao lado de casa, onde fica a paragem inicial da carreira, à dinâmica mais urbana de Lisboa.
Sim, eu queria muito isso, porque o país tem realidades muito diferentes. Às vezes, acabamos por andar muito focados em Lisboa, não só por vivermos aqui mas também porque os próprios jornais estão cá. O resto do país acaba por não ser tão retratado nos meios de comunicação.
Mas é interessante que os motoristas – e isso foi algo que me foi apercebendo à medida que fui fazendo este trabalho – contam-nos muito da história da nossa sociedade e da evolução do país, especialmente do ponto de vista demográfico. Ao ouvir as suas histórias e a evolução da profissão por eles contada, percebi que os motoristas são quase como observadores da sociedade. Acho que ninguém tinha percebido isso antes, nem no meio académico, como uma forma de entender a evolução da sociedade. Sinceramente, acho que ainda ninguém tinha dado conta disso, nem no sentido académico, ou seja, nem como investigação em sistemas de transportes.
O que é que foi, para ti, surpreendente neste trabalho? Do que é que não estavas à espera?
Foram surpreendentes as diferenças entre os motoristas com quem falei. Ou seja, há um lado comum a todas as histórias – e acho que o livro retrata isso – mas depois o meio que os rodeia define verdadeiramente a sua rotina. Essa foi uma primeira conclusão que tirei: as características demográficas dos sítios onde eles trabalham definem as suas rotinas. Por variadíssimas coisas, e uma delas é tão simples como transportarem muita gente ou transportarem menos gente. É distinto ser motorista num concelho do Alentejo ou em zonas interiores como o Sabugal, na Guarda, do que sê-lo em Lisboa. E é interessante observar quem são as pessoas que eles transportam e os motivos que levam as pessoas a usar os autocarros nesses locais. Muitas vezes, no interior, as carreiras são muito direccionados para as escolas. E era engraçado porque os motoristas com quem falei desses locais diziam ter alguns passageiros habituais, que fazem os trajectos diariamente das suas aldeias para a cidade, e outros que usam o autocarro esporadicamente, seja para ir ao centro de saúde, visitar alguém ou porque o carro está na oficina.
Fiquei surpreendida com a riqueza das histórias que eles contam e com o que observam diariamente. Por passarem frequentemente nas mesmas rotas todos os dias, acabam por ver os mesmos sítios, muitas vezes nos mesmos horários. Vêm os sítios a mudar, as pessoas a mudar, as vidas mudar.
Como é que conseguiste encontrar estas histórias? E quanto tempo passaste em cada sítio?
Contactei várias empresas de transporte para explicar o que estava a fazer e garantir que os motoristas tinham as autorizações necessárias para poderem falar. Pedi sugestões de pessoas que gostassem da profissão e conseguissem fazer esse retrato do que é ser motorista e como as coisas evoluíram ao longo dos anos. Procurei perfis variados de motoristas. Queria incluir mulheres. Queria ter algumas histórias de motoristas que já o fossem há muito tempo. Queria ter uma história de alguém que fosse motorista em Portugal há pouco tempo, para também falar da imigração e da necessidade de buscar motoristas fora do país. Acabo de chegar a alguns nomes. Conversei com cada motorista bastantes horas e acompanhei-os nos seus trajectos. Acompanha as carreiras que faziam habitualmente não só durante os percursos, mas também antes e depois. Mesmo depois de os acompanhar nas carreiras, ficávamos ainda a conversar durante uns dias para detalhar coisas que tinha visto, algumas conversas, as ligações deles com os passageiros, com os locais… Eles próprios depois também se iam lembrando de mais histórias para contar.
O livro fala nos “eles”. Mas também nos “elas”. Foi difícil encontrar mulheres a conduzir autocarros?
Esta é uma profissão que continua a ser predominantemente masculina. Quis trazer retratos de mulheres não só porque também estão nesta profissão, mas também porque são as pessoas mais capazes para descrever a evolução desta profissão. Primeiro, perceber o que significa ser mulher numa profissão dominada por homens. Depois, como mudou a percepção das pessoas, dos passageiros e dos colegas, em relação a mulheres motoristas. Por exemplo, a Maria José Cardoso, motorista da Carris há mais de 25 anos, menciona que ouve hoje menos comentários sobre ser mulher, mas que ainda os ouve. Ela conta que, quando começou na Carris, alguns passageiros, principalmente homens, mostravam dúvidas ao entrar num autocarro conduzido por uma mulher. Esta profissão ainda está longe de ser equilibrada em termos de género; os números são escassos, mas pedi às principais empresas para me indicarem a percentagem de mulheres, e em nenhum caso chega a 10%, apesar de ter aumentado nos últimos 20 e poucos anos.
Nas histórias, descreves muito a entrada das pessoas na profissão de motorista. Os cursos de direito que tiraram… O descrédito inicial…
Na verdade, eu tinha muita curiosidade em saber também como é que todas estas pessoas, homens e mulheres, tinham chegado à profissão. Se era uma profissão que eles queriam ter desde pequenos, ou algo que tinha acontecido um bocadinho pelo acaso na vida. E no caso das mulheres, é curioso porque elas chegam à profissão porque sempre gostaram muito de conduzir, em particular camiões. Portanto, conduzir um autocarro era uma coisa mesmo que estava nelas e gostavam. E tanto no caso da Maria José Cardoso, como também da Helena Nabais, que é motorista no Sabugal, há ali uma determinada altura em que têm de enfrentar quem as rodeia, porque, quando dizem aos amigos e familiares que querem conduzir autocarros, eles respondem que Isso não faz sentido nenhum e que há outras profissões que, se calhar, são mais adequadas. E, portanto, há ali, de facto, uma certa coragem e determinação na decisão delas de irem para motoristas.
E, como dizia há bocado, houve uma evolução na forma como os passageiros vêem a presença de uma mulher como motorista. Quando se trata de pessoas que já as conhecem, a percepção de se é homem ou mulher desaparece completamente, apaga-se. Vejo isso pelas relações que essas motoristas têm com os passageiros. Tanto a Maria José como a Helena têm ligações muito próximas com os passageiros que transportam e as diferenças diluem-se.
Isso é muito engraçado e é uma coisa que eu não tinha noção antes de ler este livro. Essa ligação entre motoristas e passageiros, mesmo numa grande cidade como Lisboa.
Sim, foi muito interessante descobrir as ligações que os motoristas criam com os passageiros. Acho que há dois pontos principais aqui. Primeiro, isso depende muito de motorista para motorista, depende muito da pessoa em si. Não é necessariamente uma característica da profissão. A função do motorista é simplesmente levar o autocarro de um ponto A para um ponto B. A forma como o fazem, as relações que estabelecem com as pessoas que transportam, depende da forma como cada um encara essa missão, por assim dizer. Depois, estas conexões entre motoristas e passageiros estão relacionadas com a personalidade de cada um – de quem tem mais sensibilidade para questões sociais, gosta de conversar e saber da vida das pessoas, e de quem não tem. Isso não é positivo nem negativo, é uma questão de personalidade.
Para mim, é mais surpreendente ver essas conexões acontecerem no meio de uma cidade do que em lugares onde as pessoas se conhecem e muitas vezes têm laços familiares. Em lugares mais pequenos, é natural que os motoristas desenvolvam relações mais próximas com os passageiros. Nas cidades, isso é menos comum, mas a mobilidade das pessoas segue padrões repetitivos; ou seja, quem está ali naquele sítio todos os dias a conduzir aquele autocarro, também vai, se estiver com os olhos abertos, reconhecendo as caras, vai vendo sempre as mesmas pessoas. E depois pode ser uma questão de tempo até as pessoas começarem a cumprimenta-se, ou a fazer pequenos comentários sobre se chove ou se vão de férias. O Maxime, um guarda-freio do eléctrico 28, descreve isso mesmo, que as relações criam-se quase que naturalmente com as pessoas. E que os passageiros mais frequentes têm muito gosto em criar essa ligação com quem os conduz. Eu acho que essas são as coisas fascinantes de uma cidade, que é habitualmente um local mais anónimo. No capítulo sobre a Maria José, falo como é possível uma carreira de autocarro fazer de uma cidade quase uma aldeia.
Falta usar esse lado mais interpessoal na comunicação sobre o transporte público em relação ao transporte individual, se calhar…
Sim, acho que sim. De tal maneira, que se tu pensares bem, isso foi outra coisa que eu dei conta ao acompanhar estes motoristas: é que muitas pessoas nem dão por eles. Entram e saem do autocarro como se não estivesse ali ninguém. E, mais uma vez, cada um tem direito a fazer o que entender, mas acho que há algo a ganhar se dermos conta que aquela pessoa está ali.
Tu cumprimentas os motoristas quando entras no autocarro?
Eu sempre tive a tendência a cumprimentar…
E achas que eles gostam de ser cumprimentados?
Eu diria que sim. Quer dizer, aqueles com quem falei, tenho a certeza que sim. Não imagino que alguém não queira ser cumprimentado, mais que não seja porque tu dás pela existência daquela pessoa ali. Um simples “bom dia” ou “boa tarde” é positivo para ambos os lados, em termos de relações humanas. É como entrar num café e cumprimentar a pessoa que está ao balcão. Agora, há serviços em que há um ambiente mais impessoal porque há uma rotatividade maior; por outro lado, há carreiras em que as pessoas são apanhadas nas suas casas ou perto delas e levadas para os sítios onde trabalham, onde estudam, vão ao médico…, havendo um ambiente mais familiar.
Uma nota curiosa é que não tens fotografias no livro, mas com as descrições conseguimos imaginar facilmente as pessoas e os seus locais. Foi propositado esta ausência de elementos visuais?
Sim. É um bocadinho o meu lado do que gosto de ler e como gosto de ler, e como eu gostaria que este livro fosse lido. Gosto de dar espaço para que cada um desenhe mentalmente as histórias, pessoas, locais… Acho que poderia ter fotografias, mas não senti que fossem absolutamente necessárias para transmitir a experiência. Não achei essencial porque, assim, permito a cada pessoa imaginar-se no cenário com base na sua própria experiência. Se alguém já visitou o Alentejo e conhece o cheiro do fim de tarde ou o frio de uma manhã gelada como eu descrevo, consegue visualizar-se lá. Se não conhece esses detalhes específicos do Alentejo, pode relacioná-los com experiências semelhantes que teve e ainda assim consegue pôr-se ali.
Enquanto leitora, gosto muito de ter esse espaço, gosto de ter descrições que me ponham nos sítios Não é fácil, mas o que me foi ensinado, numa reportagem jornalística, foi para tentar pôr a pessoa nos lugares da reportagem, tentando descrever por palavras o que vi, o que ouvi, a me cheirou aquele sítio. E eu treinei-me a fazer este exercício. Portanto, quando eu escrevo alguma coisa, no jornalismo ou fora dele, eu vejo-me sempre a descrever. Neste caso, ouvi as histórias deles, acompanhei-os muito, eu absorvi muito a natureza de cada um, a forma como cada um falava… e quis manter isso no livro, incluindo os termos que as pessoas usam. Expressões do Alentejo, falas em brasileiro. Diferenças na linguagem de cada um – por exemplo, uns chamam “moços”, outros “miúdos”, ou os “meus meninos”…
As histórias e testemunhos que recolheste retratam mudanças sociais e diferenças entre o rural e o urbano, mas também a evolução das condições dos autocarros dos anos 1980 para os dias de hoje…
Sim, da perspectiva dos motoristas. Houve uma evolução gigante. Qualquer motorista que já seja motorista em Portugal diz isso quando se lembram do frio e do calor que passava nos autocarros. Além de que fisicamente os volantes eram muito maiores, não havia direcção assistida, os bancos não tinham o conforto que têm hoje, nada era ergonômico, nem a própria suspensão do banco era a pensar, como é, na coluna dos motoristas e no esforço que significa andar permanentemente sentado, durante muitas horas.
De facto, toda essa questão do calor, do frio, do conforto físico da condução… mudou muito. E aí, nesse sentido, sem dúvida que é uma evolução positiva. Aqui falo do ponto de vista do motorista porque, normalmente, e bem, falamos do conforto dos autocarros do ponto de vista dos passageiros. Coloco a coisa do outro prisma porque eles, de facto, são pessoas que passam horas seguidas a conduzir, sabiam bem que era as dores nas costas, nos ombros, tudo, além do frio e do calor que passavam. Por exemplo, uma história que eu acho muito representativa disso é a de um dos motoristas que dizia que o calor era tanto, tanto, tanto, que uma vez derreteu as solas dos ténis e, não tendo meias, ficou com estas coladas aos pés.
Como é que fazer este livro alterou a tua perspectiva sobre a profissão de motorista, que já disseste ser invisível?
É uma profissão que vivemos desde pequenos, das profissões que temos mais à vista desde sempre. E basta pensarmos, cada um de nós: qual foi a primeira viagem de autocarro, quer seja com os pais, com os avós, sozinhos, com colegas, com a escola? Há os que iam de autocarro para a escola e que se lembram disso. Os que não iam mas se lembram das visitas de estudo que faziam de autocarro, das idas à praia, do que quer que seja. Ou então mais tarde na vida, no período de ida para a faculdade ou para o trabalho, em que foram sempre de autocarro. Portanto, isso para dizer que eu acho que é uma profissão que está lá desde sempre. Seja por isso – por nos ser demasiado familiar – ou por outra razão qualquer, nós deixamos de a ver.
Depois de escrever este livro, a minha percepção mudou bastante sobre a profissão de motorista e esse lado muitas vezes invisível dela. Como disse, não sei se todos eles querem que todas as pessoas lhes digam “bom dia” ou “boa tarde”, mas há um lado invisível na profissão e eu acho que os motoristas sentem isso. Como noutras profissões, há uma tendência de subestimar o trabalho dos motoristas. Acho que este livro ajuda a pôr-nos no lugar daquelas pessoas, quase como que sentados a conduzir autocarro, com as fragilidades que a profissão tem e que nós próprios também temos. Por exemplo, uma das histórias é sobre o José Virgílio Correia, que começou a ser motorista no turismo e cuja primeira viagem fora de Portugal foi para levar passageiros de Londres para Roma. Ele nunca tinha feito esse percurso e, na altura, faziam tudo com mapas… Essa vulnerabilidade humana é uma das coisas que tentei pôr aqui: imaginamo-nos na posição dele, em que o primeiro dia é logo a guiar um grupo de turistas até Roma, fazendo o percurso pela primeira vez.
Essa história fez-me lembrar a do Júlio, motorista da Carris Metropolitana que tinha acabado de chegar do Brasil para conduzir autocarros numa zona onde nunca tinha estado e onde, ainda por cima, os passageiros estavam exaltados com todas as alterações… Eu senti uma grande empatia com o Júlio com a forma como contaste a sua história.
Ali, especificamente, havia um sistema que estava a entrar em funcionamento para todos – um sistema novo que estava a ser implementado e que trouxe muitas novidades tanto para os passageiros como para muitos motoristas. Por um lados, os passageiros tinham os seus receios legítimos sobre possíveis faltas de autocarros ou atrasos, porque, obviamente, dependem desse transporte para chegar aos seus destinos e cumprir os seus compromissos (é muito difícil chegar ao trabalho atrasado por causa de um atraso no autocarro). Mas, uma vez mais, narrei essa situação do prisma dos motoristas – e muitos delas estavam a começar do zero, a começar do zero, inclusivamente, a sua vida em Portugal. E quando nos colocamos no lugar desses motoristas, imaginemos pegar no autocarro e ter que fazer um trajecto novo, num país diferente, por zonas que não conhecemos. Explicaram-no o trajecto, mas não memorizar tudo detalhadamente leva tempo – saber todas aquelas pequenas características, desde os locais mais estreitos até onde costuma haver carros mal estacionados.