Um ano depois da JMJ, o Parque Tejo-Trancão continua a ser um deserto

O Parque Tejo-Trancão continua a ser um descampado sem árvores e sem verde. Há um único banco para sentar, uma ciclovia por terminar e estruturas do Rock In Rio por desmontar. E o polémico palco do Papa continua inacessível, atrás de grades.

Parque Tejo-Trancão onde decorreu a JMJ (fotografia LPP)

Um ano depois, continua a não existir nada para ver ou fazer no Parque Tejo-Trancão, além da ponte ciclopedonal. O terreno continua a ser um deserto, sem árvores e, no Verão, também sem verde. Há um único banco para sentar. A ciclovia nunca foi terminada. Algumas estruturas do Rock In Rio mantém-se. E o polémico palco, que Moedas disse que dava para visitar, está atrás de grades.

O Parque Tejo-Trancão, onde em Agosto de 2023 decorreu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), não é o “parque verde de 30 hectares” que Carlos Moedas (PSD) diz ser. Numa entrevista à SIC Notícias, a 1 de Agosto, o Presidente da Câmara de Lisboa falou num parque muito utilizado pela população “aos domingos” e que “já não é uma lixeira, é uma cidade nova”. “É mesmo um parque para ser da biodiversidade”, disse Moedas, explicando que “não há muito mais” a ser feito ali, além da plantação de mais árvores. Segundo o autarca, o parque conta agora com infraestruturas eléctricas e de saneamento deixadas pelo festival Rock In Rio, que está ainda a iluminar a pala do controverso palco do Papa, “onde muitas pessoas param para ver”. Além disso, Moedas explicou que o parque “esteve e vai continuar verde” porque é regado com água reaproveitada da estação de tratamento de água de Beirolas para regar (“água não potável, que não é para beber”, disse).

O único lugar para sentar no Parque Tejo-Trancão (fotografia LPP)

Mas, o Parque Tejo-Trancão que o LPP encontrou, num final de tarde de Verão, é mais próximo da descrição que o Expresso publicava nesse mesmo dia: “um enorme descampado de erva seca”. Há uma pala de um palco que dá para visitar mas foi uma pala deixada temporariamente pelo Rock In Rio e que ainda está por desmontar. O palco do Papa está, como sempre teve, inacessível, protegido por grades, só podendo ser mirado ao longe. Todo o espaço do suposto parque verde é árido e, em horas de maior calor, muito quente. Árvores? Só existem algumas, as que já lá estavam, mais junto ao rio, antes de qualquer intervenção. Na parte baixa do recinto, há alguns caixotes de lixo instalados no ano passado pela autarquia e, em todo o parque, contamos um único banco para sentar (isto se não contabilizarmos os bancos junto ao Trancão e que já lá estão desde o tempo da Expo’98).

Há uma boa mudança, no entanto: os automóveis deixaram de poder estacionar quase em cima do parque e em áreas destinadas ao peão, pois foram colocados bloqueios de betão.

Novos bloqueios a impedir o estacionamento abusivo (fotografia LPP)

Parque Tejo-Trancão é um projecto futuro

Ao Expresso, a Câmara de Lisboa disse que o Parque Tejo-Trancão é um projecto futuro que dará “continuidade ao parque existente a sul e constituirá uma grande mais-valia para esta zona da cidade, em termos recreativos, paisagísticos e ambientais”. Sem avançar datas, a autarquia diz que “irá reabilitar o espaço verde e contemplar iluminação, sombras e zonas de desporto”, e que esse futuro parque “será um espaço que permitirá a existência de múltiplas actividades de lazer que envolvam a comunidade”, sem esquecer a “protecção do sistema natural e ribeirinho”.

O recinto da JMJ (fotografia LPP)

Mas a autarquia, como avançou o Expresso, não tem ainda projecto concreto nem obra para lançar, apenas um estudo prévio que estará “a ser analisado”. O palco do Papa, que o Rock In Rio decidiu não utilizar, vai manter-se para como uma memória do “evento único que aconteceu naquele local e que marcou a cidade e o país” e “estará disponível para utilização por organizadores e promotores de iniciativas e eventos”, explicou ainda a Câmara de Lisboa em declarações ao Expresso.

De qualquer modo, a realização da JMJ há um ano permitiu reabilitar um extremo da cidade que tinha ficado esquecido desde a Expo’98. O terreno que serviu de recinto ao evento católico e agora ao RiR – e que tem subterrado um aterro sanitário devidamente descontaminado – foi moldado e arranjado, sendo agora mais fácil a concretização, à superfície, do prometido parque verde. Mas o legado da JMJ não se ficou por aqui: foi construída uma ponte ciclopedonal a ligar as margens de Lisboa e de Loures; e, do lado de lá, passou a existir um passadiço ribeirinho até ao concelho de Vila Franca de Xira.

O altar do Papa atrás de grades (fotografia LPP)

Loures avança com o seu Parque Verde

Em Loures, está a avançar a construção da primeira fase do Parque Verde de Loures, uma obra de três milhões de euros que cabe dentro do bolo de financiamento da Unidade de Missão da JMJ, criada pelo Governo de António Costa. Este parque incluirá 600 árvores, relvados e prados de sequeiro, caminhos pedonais pavimentados, um parque infantil e um parque canino, uma zona desportiva com padel, ténis, futsal, skate e bicicleta, estabelecimentos de cafetaria e restauração e infraestruturas sanitárias. Toda a área do parque será regada também com a água da estação de Beirolas.

O Parque Verde de Loures está a ser construído no antigo terminal de contentores, que foram deslocalizados por causa da JMJ. Neste momento, já podemos ver os primeiros caminhos e estruturas no terreno, que fica do outro lado do IC2. O Parque Verde de Loures estará ligado ao passadiço ribeirinho através de um percurso que já existe junto ao rio Trancão e também com uma ponte ciclopedonal, que ainda será construída por 1,4 milhões de euros por cima do IC2.

Podes ver aqui algumas imagens do futuro parque:

A segunda fase deste parque será concretizada pela Câmara de Loures, prevendo-se o arranque dessa obra no final deste ano e a conclusão até ao 2º trimestre de 2025. Mas, mal acabe a primeira fase, a autarquia liderada pro Ricardo Leão (PS) pretende iniciar os procedimentos necessários à concessão dos espaços de restauração e equipamentos desportivos.

Ciclovia por terminar

Voltando a Lisboa. O Parque Tejo-Trancão não foi a única obra que ficou por concretizar. A ciclovia que começou a ser construída na obra da ponte ciclopedonal, pela EMEL, não chegou a ser concluída. Apesar de o projecto prever a ligação dessa ciclovia à rede existente no Passeio Heróis do Mar, esse troço não chegou a ser concluída por interferir com o recinto da JMJ.

Contactada pelo LPP, a EMEL remeteu os esclarecimentos para a Câmara de Lisboa, que, por seu lado, explicou que “a interrupção da ciclovia em assunto será restabelecida”, dando como prazo “até ao final do mandato” (2025). Adiantou também que será solucionada a “descontinuidade da rede existente no Passeio Heróis do Mar, Rua Príncipe do Mónaco e o troço da Via do Oriente”, sendo que já existe projecto de execução para esta obra, que será feita também “até ao final do mandato”.

Actualmente, a única forma de chegar à ponte ciclopedonal do Trancão por ciclovia é pela Via do Oriente. No entanto, a obra previa inicialmente uma ligação também à ciclovia do Passeio Heróis do Mar, onde se encontra a principal estação GIRA que serve toda aquela zona de lazer.

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